JESUS AÇOITADO
1- Considera como Pilatos vendo que os judeus não desistiam de pedir a morte de Jesus, O mandou açoitar, pensando o injusto juiz, que desta arte se dariam por satisfeitos os seus inimigos, e assim poderia livra-lO da morte; tornou-se, porém excessivamente doloroso para o Salvador este recurso; porquanto, conhecendo os judeus que Pilatos, depois daquele suplício, queria pô-lO em liberdade, peitaram os verdugos para O açoitarem até Lhe tirarem a vida naquele tormento.
Entra alma minha, no Pretório de Pilatos, convertido em teatro das dores e ignominias do Redentor, e vê como Jesus Se despi a Si próprio, e Se abraça à coluna, segundo as revelações de Santa Brígida, dando assim aos homens uma prova evidente do Seu amor e da generosidade com que Se entregava aos tormentos.
Contempla aquele inocente Cordeiro, com a cabeça pendida, o rosto coberto de pejo, esperando o princípio daquele cruel martírio; e eis que aqueles bárbaros dão começo ao tormento; uns dão começo ao tormento; uns O açoitam pelas espáduas, outros pelo peito, estes dos lados, não Lhe poupam nem a Sua sagrada cabeça, nem o rosto formoso; espadana já o sangue; estão ensangüentados os açoites, a mãos dos verdugos, a coluna e o chão; não fica são parte alguma do Seu corpo adorável; que as chagas unem-se umas às outras, e aquelas carnes sacrossantas ficam todas despedaçadas.
E como tens tu podido, alma minha, ofender um Deus açoitado por teu amor?
E Vós, ó Meu Jesus, como pudestes consentir em sofrer tanto por um ingrato?
Ó chagas preciosíssimas do meu Jesus, sois Vós a minha esperança!
Ó meu Jesus, sois Vós o único amor de minha alma.
2 - Segundo a revelação que teve Santa Maria Madalena de Pazzi, chegaram a sessenta os verdugos, que se iam substituindo uns aos outros. Os instrumentos escolhidos para esta flagelação foram os mais cruéis, de modo que cada golpe produzia a sua chaga, e os golpes contaram-se por muitos milhares, ficando em alguns pontos os ossos descarnados, segundo revelações, feitas a Santa Brígida.
Em tão lastimável estado ficou o Senhor, que Pilatos julgou, poder excitar a compaixão os seus próprios inimigos, quando lh'O apresentou dizendo: Ecce homo. E o profeta Isaías predisse com bem exatidão o estado lastimoso a que devia ser reduzido o Salvador neste passo, dizendo, como Suas carnes haviam de ser despedaçadas, e o Seu corpo bendito de ficar como o dum leproso, todo coberto de chagas.
Dou-Vos graças, ó meu Deus e meu Jesus, por tanto amor, e detesto os meus criminosos prazeres, que tanto Vos custaram. Fazei que me lembre frequentemente do Vosso amor para comigo, para Vos amar e nunca mais Vos tornar a ofender. Eu mereceria um inferno especial, se depois de conhecer o Vosso amor, de ser tantas vezes perdoado, Vos tornasse a ofender, e de novo me condenasse! Não: não o permitais, ó meu amado Jesus. Que eu Vos ame com todas as véras do meu coração e quero amar-Vos sempre.
3 - Considera que foi para satisfazer pelas nossas culpas, especialmente pelas da impureza, que o Salvador quis padecer tamanhos tormentos em Seu corpo inocente, como claramente o anunciou o profeta, dizendo:
"Foi ferido por causa das nossas iniquidades."
E, crendo, nesta verdade, podes tu, alma minha, pertencer ao número desses ingratos que vêem com indiferença um Deus açoitado por seu amor? Pondera bem esta dor, e mais ainda o amor com que o vosso doce Jesus, sofreu tanto por ti. Se houvera recebido um só golpe, devera bastar para te abrasares no seu amor, considerando, e exclamando: "Haver um Deus recebido semelhante afronta por meu amor!" Quanto mais tendo Ele sofrido tratos tão cruéis em Seu Corpo sacrossanto?
Oh! meu Jesus e meu Senhor! Fomos nós que ofendemos a Divina Majestade, e sois Vós que quereis sofrer o castigo dos nossos pecados! seja para sempre bendita a Vossa misericórdia e bondade! Que seria de mim, se Vós não houvésseis satisfeito esta dívida? Eu bem sei que, pecando, deitei ao desprezo o Vosso amor; agora, porém, só desejo amor-Vos e ser de Vós amado.
Vós declarastes, Senhor, amar os que Vos amam; pois eu vos amo com toda a minha alma de todo o meu coração; tornai-me menos indigno do Vosso amor. Ligai-me indissoluvelmente com esse amor, e não permitais que eu me separe outra vez de Vós. Eu me entrego nas Vossas mãos; castigai-me como quiserdes, contanto que não me priveis do Vosso amor. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.
(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)
Fonte: A Grande Guerra