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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O CAMINHO DO CALVÁRIO


Por fim Pilatos, receoso de perder as boas graças e a amizade de César, depois de ter declarado muitas vezes a Jesus inocente, sentencia-O a morrer crucificado; lê-se a iniqua sentença, Jesus, ouve-a, e aceita-a com santa resignação, sujeitando-Se a vontade do Eterno Pai que quer que Ele morra na Cruz pelos nossos pecados.

"Humilhou-Se, diz o Apóstolo, e fez-Se obediente até a morte, e morte de cruz." Logo os verdugos se lançam sobre o divino Cordeiro, inocente, agarram-nO com furor, tornam a vestir-Lhe os Seus vestidos, e tomando em seguida a Cruz, formada de dois grossos e informes madeiros Lh'a apresentam: Jesus recebe-a e abraça-a e beija-a e a põe Ele próprio aos ombros.

"Ó inocentíssimo Salvador meu! disse banhado em lágrimas São Bernardo, que delito havíeis Vós cometido, para serdes condenado a semelhante gênero de morte? Mas, Senhor, prossegue o Santo, eu bem sei qual foi o Vosso delito, - foi o Vosso excessivo amor para conosco."

Ah! Jesus meu! Que mais podereis fazer para me obrigardes a amar-Vos? se um pobre escravo se tivesse oferecido a morte por mim, teria certamente conquistado o meu amor e gratidão. Como tenho eu, pois podido viver tantos anos sem Vos amar, sabendo que Vós, meu Senhor e Soberano, e meu Deus, quisestes morrer para me salvar? Eu Vos amo, ó Bem infinito, e, por Vosso amor, me arrependo, de haver-Vos ofendido.

Saem os réus do tribunal, e dirigem-se ao lugar do suplício. Entre eles vai o Rei da glória, com a Cruz às costas. Saí, vós também, ó Serafins, e descei lá do Céu a acompanhar o Vosso Deus que Se encaminha para o monte Calvário a morrer crucificado. Que espetáculo! Um Deus que vai deixar-Se crucificar pelos homens! Vê, alma minha, o teu Salvador que vai morrer por ti; com a cabeça inclinada, o corpo oprimido, lacerado das feridas, derramando sangue; contempla-O coroado de espinhos, com aquele pesado madeiro aos ombros, e pergunta-Lhe - "Aonde vais, ó Cordeiro de Deus, assim fatigado?" - Eu vou, te responderá, acabar de morrer por teu amor, a fim de, quando Me vires morto, te lembrares do muito que te amei. Eia pois, lembra-te do Meu amor para contigo e consagra-Me o teu."

Ah! meu dulcíssimo Redentor, como tenho eu podido viver esquecido do Vosso amor? Os meus pecados foram os que amarguraram o Vosso coração, ó meu Jesus. Pesa-me, Senhor, dos agravos, que Vos hei feito; agradeço-Vos a paciência de que até agora tendes usado para comigo, e amo-Vos com todas as forças da minha alma, e a Vós só quero amar. Fazei-me lembrar sempre do Vosso amor, para que não deixe nunca de corresponder-Vos com o meu.

Sobe Jesus ao Calvário, e convida-nos a segui-lO com as palavras ditas aos Seus discípulos: "Quem quiser vir após de Mim, abnegue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-Me." Ouvida esta intimação, cheio de caridade o Apóstolo dirigi-se aos fiéis e diz-lhes: "Eia pois, vamos após Ele, e abracemos os Seus opróbrios e ignominias". Se Vós, Senhor, ides adiante de mim com a Cruz, sendo inocente, dai-me a que Vos aprouver impor-me, pois com ela quero ir até a morte!

Quero morrer conVosco, pois quisestes morrer por mim! Vós mandais que Vos ame, e eu nada mais desejo do que amar-Vos. Vós sois e sereis sempre o meu único amor. Ó Maria, minha esperança, rogai por mim a Jesus.

(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)