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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Comentários Eleison: O Pensamento da Neofraternidade - I e II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
  CCCXCV (395) - (7 de fevereiro de 2015): 

 O PENSAMENTO DA NEOFRATERNIDADE - I
Quando o Pe. Pfluger fala, o que se faz audível?       
A religião do homem, o Concílio, em tom alto e inconfundível.

            Perto do fim do ano passado, o segundo no comando da Neofraternidade Sacerdotal São Pio X, o Pe. Niklaus Pfluger, deu uma entrevista para uma revista da Neofraternidade na Alemanha, Der Gerade Weg, na qual ele respondeu a sete perguntas envolvendo a Igreja, a Tradição, a “Resistência” e a ExFSSPX. Dada a sua importante posição, seu pensamento certamente interessa. Suas linhas principais são apresentadas logo abaixo, e então sua principal falha.

            A Igreja Católica é ampla, muito mais ampla do que somente o movimento Tradicional. Esse movimento começou na década de 70 como uma reação compreensível dos católicos que perderam espaço após a revolução conciliar; mas nós nunca tornaremos a Tradição atrativa ou convincente se nós permanecermos mentalmente estagnados nas décadas de 50 ou 70. A Tradição Católica é um grande tesouro, e não deve ser confinada dentro das condenações, que foram rotina nos séculos XIX e XX, ao modernismo, ao liberalismo e à Maçonaria. Nas décadas de 70 e 80, a FSSPX agiu como um bote salva-vidas para as almas que se afogavam; mas em 2014, “nosso tempo é diferente, e não podemos nos imobilizar”. A Tradição da Igreja é uma, mas as tradições são muitas, e muito do que é moderno não é imoral.

            Assim, “devemos continuamente nos reposicionar” em algum ponto entre negar absolutamente que há uma crise de modernismo na Igreja, e negar a realidade da Igreja como faz a “Resistência”. Estes transformam um problema puramente prático, de reposicionamento,. em uma questão de fé; mas essa “fé” é uma invenção deles mesmos, subjetiva, pessoal e uma negação extrema da realidade – como pode Roma não ser católica? Como pode Dom Fellay ser o inimigo número um? Isso é ridículo! A “Resistência” é sectária, de mente estreita, de espírito maligno e divisora.  

            Quanto ao QG da FSSPX ter traído a Tradição em 2012, suas ações foram atacadas por ambos os lados, e então ela agiu com razoável moderação. Seus textos não foram dogmáticos, apenas responderam às circunstâncias. Eles se afastaram das decisões do Capítulo Geral de 2006, por certo, mas quem ali poderia então imaginar o quão menos agressiva em relação à FSSPX Roma viria a se tornar em 2012? Em 2014 nossos três bispos puderam celebrar Missas públicas na Basílica de Lourdes!

            Em síntese, a FSSPX segue o Espírito, ela se vale da Tradição. Salvou a liturgia (graças a Dom Lefebvre). Não é nem monopolizadora nem está desunida ou derrotada como pode parecer. As tormentas na Igreja continuam, mas deixemos de lado as teorias conspiratórias e apocalipticismo, e fiquemos com a fé, a esperança e uma nova juventude! (Ver francefidele.org para o original em alemão e uma tradução francesa, http://nonpossumus-vcr.blogspot.com.br para uma tradução em espanhol, e abplefebvreforums ou cathinfo.com para uma tradução em inglês.)  

                Onde está, então, a falha no pensamento do Pe. Pfluger? Ela é mais claramente vista no primeiro parágrafo acima, onde ele sugere que a Tradição pode prosperar fora das “condenações... nos séculos XIX e XX ao modernismo, ao liberalismo e à Maçonaria”. Para o Pe Pfluger, como para todos os liberais, essas condenações não são parte integrante da Fé católica, mas meramente “ancoradouros substanciais” (expressão própria do Cardeal Ratzinger) que, em uma época diferente, a Barca da Igreja pôde deixar para trás por não mais corresponder às circunstâncias diferentes. Portanto, se o Pe. Pfluger não tem uma fé diferente daquela de Dom Lefebvre, Pio IX, São Pio X, Pio XII, etc., ele certamente tem um conceito diferente dessa Fé, e esse conceito diferente subjaz todas as suas observações na entrevista citada. 

            Assim, o problema é muito mais do que apenas um “reposicionamento prático”. A Roma de hoje seguramente não é católica. Dom Fellay é um imenso problema. O Capítulo Geral de 2006 foi implicitamente dogmático. A Tradição não deve ser atrativa para o homem, mas permanecer fiel a Deus (mencionado apenas uma vez, de passagem, na entrevista). A “Resistência” está longe de criar sua própria “fé”. Etc., etc...

Kyrie eleison.
 
 
Comentários Eleison – por Dom Williamson

  CCCXCVI (396) - (14 de fevereiro de 2015): 

 O PENSAMENTO DA NEOFRATERNIDADE – II

Cuidado, caros seguidores da Neofraternidade!
Mantenham-se profundamente em alerta, pois o veneno já age com profundidade!

            Apenas umas 650 palavras de um único “Comentários Eleison” não são de forma alguma suficientes para deixar suficientemente claro o imenso problema exposto na entrevista concedida pelo Primeiro Assistente da Neofraternidade para uma revista desta na Alemanha perto do fim do ano passado (cf. CE da semana passada). O pensamento do Pe. Pfluger emerge da venenosa mentalidade moderna, e por isso não é de surpreender que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) de Dom Lefebvre esteja sendo envenenada do topo até a base, e transformada na Neofraternidade (ExSSPX) de Dom Fellay. O veneno consiste em um movimento que decai de Deus para o homem; da religião de Deus para a religião do homem; das verdades de Deus para as liberdades do homem; da doutrina de Cristo (“Ide e ensinai a todas as nações” – Mt 28, 19) para a união da humanidade.

            Tal como milhões e milhões de homens modernos, milhares e milhares de homens da Igreja em altos cargos, e tantos sacerdotes e leigos daquela que foi uma vez a FSSPX, o Pe. Pfluger não entende a importância crucial da doutrina católica para a Igreja. “DOUTRINAI todas as nações”, poderia ter dito Nosso Senhor. Por quê? Porque todos os homens são criados por Deus para ir para o Céu (I Tm 2, 4). Isto é algo que eles só podem fazer por meio de Jesus Cristo (Atos 4, 12), mas primeiramente crendo em Jesus Cristo (Jo 1, 12), o que só podem fazer ouvindo sobre a Fé (Rm 10, 17) – em outras palavras, ouvindo a DOUTRINA católica. Assim, falar de um sujeito que não tem interesse pela doutrina católica é falar de um sujeito que não tem interesse em ir para o Céu. Boa sorte pra ele, onde quer que venha a passar a sua eternidade!

            Pois bem, desde o início até o fim da entrevista alemã, o Pe. Pfluger evidencia seu relativo desinteresse pela doutrina católica; mas como os “Comentários” da semana passada declararam, esse desinteresse é mais claramente evidenciado pelo seu implícito menosprezo (palavra não muito forte) pelos grandes documentos antiliberais, antimaçônicos, antimodernistas, como o foram notavelmente as Encíclicas Papais dos séculos XIX e XX: digamos desde a Mirari Vos de 1831 até a Humani Generis de 1950. Para o modo de pensar do Pe. Pfluger, provavelmente esses documentos “anti” parecem simplesmente negativos, ao passo que a doutrina católica é essencialmente positiva. Pode-se muito bem pensar que o remédio é meramente negativo, ao passo que a cura é essencialmente positiva. No entanto, remédio pode ser essencial para preservar a saúde – pelo amor de Deus! Mas por que são as Encíclicas um remédio tão necessário para a saúde da Igreja de hoje?

            Porque o homem não foi feito para viver sozinho (o bom selvagem de Rousseau), ele é por natureza um animal social (Aristóteles) – observem as mil maneiras pelas quais os homens se associam. Mas bem, a Revolução Francesa de 1789, ao rejeitar Aristóteles e seguir Rousseau, derrubou a base natural da sociedade e a colocou sobre fundações criadas meramente pelo homem, hostis à natureza humana tal como designada por Deus, e, por conseguinte, hostis a Deus. Por conseguinte, como as ideias revolucionárias avançaram, através da França, da Europa e do mundo, a Igreja Católica passou a se encontrar em um ambiente social cada vez mais hostil, pois a profunda influência que qualquer sociedade tem sobre os indivíduos pertencentes a ela tem sido trabalhada mais e mais contra Deus e contra a salvação das almas.  

            Por muito tempo os Papas católicos não se deixaram iludir, e reavivaram o remédio da verdadeira doutrina social da Igreja para aplicá-lo através de suas Encíclicas contra a enfermidade da humanidade revolucionária. Assim, as Encíclicas não ensinam nada mais que a doutrina de sempre da Igreja sobre a natureza da sociedade humana que se sustenta entre o homem e Deus. Não foi necessário falar sobre essa doutrina social enquanto ela fez parte do senso comum. Portanto, as Encíclicas não são um infeliz acidente de infelizes tempos idos. Elas são centrais para a defesa da Fé no presente, como Dom Lefebvre tão bem aprendeu com o Pe. Le Floch. Mas veio então o “bom” Papa João declarar que o homem moderno não está mais doente, e agora vem o Pe. Pfluger. Na próxima semana tem mais.
 
Kyrie eleison.
 
 REZEM TODOS OS DIAS O SANTO ROSÁRIO,façam penitência.