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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Comentários Eleison - por Dom Williamson CDLXXXI (481) - (1º de outubro de 2016):

 
 
Novamente, Sedevacantismo – I

A Igreja Católica jamais pode falhar totalmente,
Mas, parcialmente, pode adoecer severamente.

Talvez um certo número de leitores destes “Comentários” possa irritar-se por mais uma vez voltar ao tema dos papas conciliares não serem totalmente papas, mas a tradução recente para o francês de um artigo em inglês de 1991 mostra por que é preciso demonstrar reiteradas vezes que os argumentos em prol do sedevacantismo não são tão conclusivos como parecem ser. Os liberais não precisam de tal demonstração, porque para eles o sedevacantismo não é uma tentação. No entanto, há certo número de almas católicas atraídas pela graça de Deus para longe do liberalismo em sentido à tradição católica para a qual o sedevacantismo torna-se positivamente perigoso. O diabo não se importa se nós perdemos o equilíbrio para a direita ou para a esquerda, desde que percamos nosso equilíbrio.

Pois, na verdade, o erro do sedevacantismo pode, em teoria, não ser um erro tão profundo e grave como a mentalidade universal apodrecida do liberalismo, mas, na prática, quantas vezes se observa que com o sedevacantismo as mentes se fecham, e que o que começou como uma opinião aceitável (que católico pode dizer que as palavras e ações do papa Francisco são católicas?) tende a tornar-se uma certeza dogmática inaceitável (que católico pode julgar com certeza uma questão tal?), para impôr-se como o dogma dos dogmas, como se a catolicidade de uma pessoa precisasse ser julgada pelo fato de ela crer ou não que não temos nenhum papa verdadeiro desde, digamos, Pio XII.

Uma razão oferecida pelos “Comentários” anteriores para essa dinâmica interna frequentemente observada no sedevacantismo pode ser a simplicidade do nó górdio com a qual se remove um problema angustiante e ameaçador para a fé: “Como podem esses destruidores da Igreja ser verdadeiros papas católicos?” Reposta: Na realidade, eles não são papas, absolutamente. “Oh, que alívio! Já não preciso ficar angustiado.” A mente fecha-se, o sedevacantismo deve ser pregado como se fosse o Evangelho para quem quiser ouvir (ou não ouvir), e na pior das hipóteses, ele pode ser estendido desde os papas até todos os cardeais, bispos e sacerdotes, de modo que um católico outrora crente se transforma num “home-aloner”, que desiste totalmente de ir à missa. Será que ele terá sucesso em manter a fé? E seus filhos? Aqui reside o perigo.

Portanto, para manter nossa fé católica em equilíbrio e evitar as armadilhas atuais tanto à esquerda quanto à direita, olhemos para os argumentos de BpS no artigo de 15 páginas mencionado acima. (“BpS” é uma abreviatura que muitos leitores não identificarão à primeira vista, mas não é necessário que seja explicitada aqui, porque estamos mais preocupados com seus argumentos do que com a sua pessoa). Em seu artigo, ao menos ele pensa e tem uma fé católica no Papado, caso contrário os papas conciliares não seriam um problema para ele. Esta lógica e esta fé são o que há de melhor nos sedevacantistas, mas nem BpS nem eles estão trabalhando a partir do quadro inteiro: Deus não pode deixar de velar por sua Igreja, mas ele pode deixar de velar por seus clérigos.

Aqui está, pois, seu argumento em poucas palavras: premissa maior: a Igreja é indefectível. Premissa menor: no Vaticano II a Igreja foi liberal, uma grande defecção. Conclusão: a Igreja Conciliar não é a verdadeira Igreja, o que significa que os papas conciliares que guiaram ou seguiram o Vaticano II não podem ter sido papas reais.

O argumento parece bom. Entretanto, a partir das mesmas premissas pode-se tirar uma conclusão liberal: a Igreja é indefectível, a Igreja tornou-se liberal, então eu também, como um católico, devo ser liberal. Assim, o fato de o sedevacantismo partilhar suas raízes com o liberalismo deveria fazer qualquer sedevacantista pensar duas vezes. BpS percebe as raízes comuns, e chama-as de “irônicas”, mas são muito mais do que isso. Elas mostram os liberais e sedevacantistas cometendo o mesmo erro, que deve estar na premissa maior. Na realidade, tanto aqueles como estes entendem mal a indefectibilidade da Igreja, assim como confundem a infalibilidade dos Papas. Confira estes “Comentários” da semana que vem para uma análise mais detalhada do argumento de BpS.

                Kyrie eleison.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário.