A
grande felicidade que na infância reinava, experimentou um grande
abalo, quando inesperadamente o anjo da morte veio visitar aquele lar e
arrebatar-lhe a mãe. D. Inês sentindo a última hora se aproximar, na
compreensão do seu dever de mãe cristã reuniu todos os filhos à
cabeceira do leito mortal, estreitou-os, um por um, ao seu coração,
selou a sua fronte com o último beijo, deu-lhes a bênção, distinguindo
com mais carinho os de tenra idade, entre estes, Francisco; munida de
todos os sacramentos, confortada pela graça de Deus, na idade de 38 anos
deixou este mundo, para, na eternidade, perto de Deus, receber o prêmio
de suas raras virtudes. Do pai, o próprio filho Francisco ao seu
diretor espiritual deu o seguinte testemunho: Meu pai, declarou, tinha
por costume levantar-se bem cedo. Dedicava uma hora à oração e
meditação; se neste tempo alguém desejava falar-lhe, havia de esperar
pelo fim das práticas religiosas. Terminadas estas, ia à igreja assistir
a santa Missa e costumava levar consigo dos filhos os que não fossem
impedidos. Finda a santa Missa metia-se ao trabalho. À noite reunia seus
filhos e dava-lhes sábios conselhos e úteis exortações. Falava-lhes dos
deveres para com Deus, do respeito devido à autoridade paternal e do
perigo das más companhias. “Os
maus companheiros, dizia ele, são os assassinos da juventude, os
satélites de Lúcifer, traidores escondidos e por isso para os temer e
deles ter cuidado”.
Os
biógrafos de Francisco fazem ressaltar em primeiro lugar a
extraordinária bondade de coração do menino, principalmente para com os
pobres. Muitas vezes ficou ele sem a merenda, por tê-la dado aos pobres.
Entre seus irmãos era ele o anjo da paz, sempre pronto para desculpar e
para defendê-los, quando acusados injustamente. Não suportava a
injúria, fosse ela atirada a si ou a um dos seus. Com a maior facilidade
se desfazia de objetos de certo valor, com que tinha sido homenageado.
Assim presenteou a um de seus irmãos de uma bela corrente de prata, que
tinha recebido de um parente. Estes belos traços no caráter de Francisco
não afastam certas sombras que nele subsistiam também. Os que o
conheciam meigo, bondoso, compassivo, sabiam-no também ser nervoso,
impaciente, irascível. Por felicidade sua o senhor Sante, seu pai não
era daqueles que desculpam os caprichos de seus filhos, pretextando
serem crianças, sem pensar que mais tarde terão de pagar bem caro esta
condescendência e fraqueza. O verdadeiro amor cristão fê-lo combater sem
tréguas todos os defeitos.
Francisco
era obediente e tinha grande respeito ao pai, o que aliás não impedia
que diante de uma severa repreensão desse largas ao seu gênio impulsivo,
com palavras e gestos demonstrando o seu descontentamento, sua raiva.
Mas tudo isto era fogo fátuo. Logo voltava às boas; sua boa índole não
permitia, que estas revoltas interiores durassem muito tempo. Era
encantador ver, momentos depois, o menino desfeito em pranto, procurar o
pai e por seus modos ingênuos e infantis, assegurar-se do perdão e do
amor do Sr. Sante. Este, fingindo não dar crédito a estas demonstrações,
retrucava bruscamente: “Nada de carícias; quero ver fatos”. Então o
menino se atirava ao colo do pai, beijava-o e sentia-se feliz, em ter
voltado à paz, com o perdão paterno. Nesta escola de sábia pedagogia
Francisco cedo aprendeu combater e vencer seus defeitos. Por algum tempo
Francisco ficou entregue aos cuidados de um mestre; depois freqüentou o
colégio dos Irmãos das Escolas Cristãs, onde fez rápidos progressos,
figurando sempre entre os melhores alunos. Na idade de sete anos fez a
sua primeira confissão. Um ano depois, em junho de 1846 recebeu o sacramento da confirmação. Tudo
isto prova que o menino já se achava bem instruído nas verdades da
nossa fé, graças ao sólido ensino que lhe dispensavam os beneméritos
Irmãos Sallistas.
Nesse
mesmo tempo caiu também a data da sua primeira comunhão, para qual se
preparou com todo o esmero. Testemunha de vista desse grandioso ato diz:
“O fervor com que o vi chegar-se da sagrada mesa, o espírito de fé, que
se estampava no seu semblante, o vigor dos seus afetos foram tais, que
se chegava a crer ser ele levado por um Serafim”. Esses sentimentos de
fé e de piedade, aquelas chamas de amor ao SS. Sacramento não mais se
separaram do coração de Francisco nos anos de sua mocidade, nem no meio
de uma vida dissipada de certo modo mundana. Não menos certo é que a
freqüente recepção da santa comunhão preservou-o de graves desvios no
meio das tentações do mundo. Terminados os estudos elementares, o pai
pensou em procurar para Francisco uma educação mais elevada, de acordo
com a sua posição social e confiou seu filho aos Padres Jesuítas que na
cidade de Spoleto dirigiram um colégio. Neste educandário passou
Francisco os anos todos de sua mocidade no mundo e chegou a cursar os
quatro semestres de estudos filosóficos. Estudante inteligente e
cumpridor exato de seu dever que era, deixou boa memória naquele colégio
e formavam-se as mais belas esperanças a seu respeito. Ano não passava,
que não tirasse um prêmio; no fim dos seus estudos foi distinguido com
uma medalha de ouro. Mestres e colegas igualmente o estimavam. Tudo nele
encantava: os seus modos delicados e gentis, a modéstia no falar, o
sorriso benévolo que lhe afloravam aos lábios, o garbo com que se sabia
ver em circunstâncias mais solenes, os sentimentos nobres que dominam em
todo o seu proceder. Aos seus mestres devotava sempre a máxima estima e
profunda gratidão.
Das
práticas de piedade era rígido observador e com regularidade
freqüentava os santos sacramentos. Não há dúvida, que, dada a ocasião, o
seu gênio impetuoso e quente o levava a transportes de veemência e de
cólera. Mais estes excessos eram sempre seguidos de lágrimas de
arrependimento e de penitência. Desde a sua infância mostrou devoção
particular a Nossa Senhora das Dores, uma imagem da qual se conservava
em sua família; e cabia-lhe a ele adorná-la de flores e manter acesa uma
lâmpada diante da estátua. Afirma um dos seus irmãos, Eurique Possenti,
que viu Francisco, no último ano que passou em casa, usar de cilício de
couro com pontinhas de ferro. Outro testemunho, da família Parenzi,
declara: “Sua
conduta religiosa e moral tem sido irrepreensível; dada a grande
vigilância de meus pais, não teria sido admitido em nossa família, se
não fosse realmente virtuoso”. Para completar a imagem do jovem
estudante e assim melhor poder compreender a mudança que nele mais tarde
se efetuou, tenha aqui lugar a descrição da solene distribuição de
prêmios, da última em que Francisco tomou parte no colégio dos Jesuítas
em Spoleto, em setembro de 1856. Os melhores alunos tinham sido
escolhidos para abrilhantar a cerimônia com discursos e declamações
poéticas. Entre eles Francisco ocupava o primeiro lugar. Ninguém se lhe
igualava em elegância exterior, no garbo de representar, na graça de
declamar, na graciosidade da gesticulação, no timbre encantador da voz.
Podendo representar no palco, parecia estar no seu elemento e fazia-o
com toda a naturalidade e perfeição. Em sua aparência não deixava nada a
desejar: tudo obedecia às exigências da última moda: o cabelo
esmeradamente penteado, o traje elegante e ricamente adornado, as luvas
brancas, gravata de seda, sapatos luzidios e artisticamente acabados, a
tudo isso Francisco ligava máxima importância. Em certa ocasião recitou
com tanto ardor e tamanho foi o entusiasmo que excitou no auditório, que
o delegado apostólico Mons. Guadalupe, que presente se achava, ao pai
de Francisco que ao seu lado se achava disse: “se vosso filho aqui
presente estivesse, abraçava-o em vosso lugar”.
As
raras qualidades morais, que o adornavam, a figura simpática e atraente
na flor da mocidade, a extrema vivacidade que nele se observava, não
deixaram de emprestar-lhe um leve sombreado de vaidade, que de algum
modo chegou a dominá-lo. Esta vaidade se lhe patenteava na exigência que
fazia no modo de se trajar, sempre na última moda, de perfumar o cabelo
e este sempre tratado com cuidado, de se aborrecer com uma nódoa por
mais insignificante que fosse, no fato, no amor que tinha a
divertimentos alegres e aos esportes mundanos. O inimigo das almas tirou
proveito dessas fraquezas. Se não conseguiu roubar-lhe a inocência, não
foi porque não lhe poupasse contínuos assaltos, bem sucedidos. A paixão
pelo teatro, a verdadeira mania por bailes, o amor à leitura de
romances eram tantos escolhos, tantos perigos, que é de admirar que o
jovem Francisco não caísse presa das ciladas diabólicas. Tão pronunciada
era sua paixão às danças, que lhe importou a alcunha de “bailarino”.
Assim um dos seus mestres, Pe. Pinceli, Jesuíta, quando soube da
inesperada fuga de Possenti do mundo para o convento, disse: “O
bailarino fez isto? Quem esperava uma tal coisa! Deixar tudo e fazer-se
religioso no noviciado dos Padres Passionistas!”
Francisco
bem conhecia o perigo em que nadava, e não faltava quem o chamasse à
atenção, o lembrasse da necessidade da oração, da vigilância, da
mortificação, da devoção a Jesus e Maria, de não perder de vista a
eternidade, etc. Em uma carta que lhe escreveu o Pe. Fedeschini, S. J.
há todos estes avisos; o conselho de fugir das más companhias, de dar
desprezo à vaidade no vestir e falar, de largar o respeito humano, de
fazer meditação diária e receber os sacramentos. Com todas as
leviandades e suas perigosas tendências para o mundo, Francisco não
deixava de ser um bom e piedoso jovem, a quem homens sábios e virtuosos
não pudessem escrever com confiança, benevolência e estima e cujas
palavras não fossem aceitas com respeito e gratidão. “Muitas
vezes” – diz quem bem o conhecia – “Possenti sentiu o chamado de Deus,
de deixar a vida no mundo e trocá-la com o estado religioso”. Seu
diretor, Pe. Norberto, Passionista, declara: “A vocação, se bem que
descuidada e sufocada, estava nele havia muito tempo e ele a sentiu
desde os mais tenros anos. Muitas vezes o servo de Deus disse-me isto,
lastimando a sua ingratidão e indiferença”. O mesmo sacerdote relata: “A
sua vocação se manifestou do seguinte modo: Não sei em que ano foi,
sentiu-se ele acometido de um mal, que o fez pensar na morte. Teve então
a inspiração de prometer a Deus entrar numa Ordem religiosa, caso
recuperasse a saúde. A promessa foi aceita, pois melhorou prontamente e
em pouco tempo se achou restabelecido. A promessa ficou como se não
fosse feita. O jovem tornou a dar o seu afeto ao mundo e se entregou à
dissipação como antes. Não tardou que Deus lhe mandasse outra
enfermidade, uma inflamação interna e externa da garganta, tão grave,
que parecia a morte iminente já na primeira noite, tornando-se-lhe
dificílima à respiração. Novamente o enfermo recorreu a Deus e invocando
Santo André Bobola, aplicou ao lugar dolorido uma estampa do mesmo
Santo, e renovou a promessa de abraçar o estado religioso. As melhoras
se acentuaram quase instantaneamente e teve o enfermo uma noite
tranquila e não mais voltaram as angústias da dispneia. Deste
extraordinário favor o jovem se lembrou sempre com muita gratidão.
Manteve também por algum tempo o propósito de fazer-se religioso, mas
diferindo-lhe a execução, o amor ao mundo voltou e no mundo continuou a
viver. Das paixões de Francisco, uma das mais fortes foi a da caça. A
esta paixão ele pagava tributos bem pesados e seu diretor espiritual não
hesitou em atribuir a este esporte a cruel moléstia, que o ceifou na
flor da idade. Certa vez, em pular uma cerca, chegou a cair e com tanta
infelicidade, que quebrou-lhe um osso do nariz. O fuzil disparou e o
projétil passou-lhe retinho pela testa, pouco faltando que lhe
rebentasse o crânio. Francisco reconhecendo logo a providência deste
aviso, renovou a sua promessa. Ficou com as cicatrizes, mas deixou-se
ficar no mundo.
A
graça divina também não se deu por vencida. Rejeitada três vezes,
tentou um quarto golpe, mais doloroso ainda. De todos de sua família
Francisco dedicava terníssima amizade a sua irmã Maria Luzia, nove anos
mais velha que ele, e esta amizade era correspondida com todo afeto. Em
1855 irrompeu em Spoleto a cólera e Maria Luiza foi a primeira vítima da
terrível epidemia. Foi no dia Corpus Christi, e a notícia alcançou
Francisco, quando, na procissão, levava a cruz. A morte da irmã feriu
profundamente o coração do jovem e mergulhou sua alma em trevas nunca
antes experimentadas. Perdeu o gosto de tudo e se entregou a uma
tristeza inconsolável. Parecia, que com este golpe a graça divina
tivesse removido o último obstáculo de a promessa se cumprir. Assim
ainda não foi. Todo acabrunhado, Francisco manifestou ao pai sua
resolução de entrar para o convento chegando a dizer que para ele tudo
se tinha acabado nesta vida. Possenti, receando perder seu filho a quem
muito amava, não recebeu bem a comunicação e pediu-lhe nunca mais
tocasse neste assunto. Aconselhou-o a se distrair, a afastar os
pensamentos tristes a procurar a sociedade, freqüentar o teatro; chegou a
insinuar-lhe a idéia de procurar a amizade de uma donzela distinta, de
família igualmente conceituada, na esperança de nos entendimentos
inocentes ela conseguir de fazê-lo esquecer-se dos seus intentos
religiosos. Na igreja metropolitana de Spoleto gozava de uma veneração
singular uma imagem de Nossa Senhora; a esta imagem chamava simplesmente
“a Icone”. Na oitava do dia 15 de agosto esta imagem era levada em
solene procissão por dentro da igreja e não havia quem não se ajoelhasse
à sua passagem.
Em
1856 Francisco Possenti achava-se no meio dos fiéis e todo tomado de
amor por Maria Santíssima, os seus olhos se fixavam na venerada imagem
como que esperando por uma bênção especial. Pois, quando a “Icone” vinha
aproximando-se do jovem, parecia ela lhe atirar um olhar todo especial e
lhe dizer: “Francisco, o mundo não é para ti; a vida no convento te
espera”. Esta palavra, qual uma seta de fogo cravou-lhe no coração;
assim saiu da igreja desfeito em lágrimas. Estava resolvido a realizar
desta vez o plano de alguns anos. Tratou, porém, de não dar por enquanto
nenhuma demonstração do seu intento. Embora certo de sua vocação, mas
desconfiando da sua fraqueza, e para não ser vítima de uma ilusão
procurou seu mestre no liceu e diretor espiritual Pe. Bompiani, Jesuíta e
a ele se abriu inteiramente, fazendo do conselho do mesmo depender sua
resolução definitiva. O exame foi feito com toda sinceridade e tendo
tomado em consideração todos os fatores influentes no passado da vida do
jovem, o Pe. Bompiani não duvidou de se tratar de uma vocação
verdadeira e animou o jovem a seguí-la. Consultas que fez com mais dois
sacerdotes de sua inteira confiança, tiveram o mesmo resultado.
Francisco se resolveu então a pedir sua admissão na Congregação dos
Passionistas. Comunicar ao pai a resolução tomada, não foi fácil. Mas
desta vez o Sr. Sante, homem consciencioso, vendo a aflição e a firmeza
de seu filho, não mais se opôs; tomado, porém, de espanto quando soube
que a Congregação por Francisco escolhida, a dos Passionistas, era de
todas a mais austera. Se bem que não se opusesse à vontade do filho,
tratou de procrastinar a execução do seu plano e impor condições.
Francisco,
porém, ficou firme. Tomou ainda e pela última vez, parte na solenidade
da distribuição dos prêmios, no colégio dos Jesuítas, fez como sempre um
papel brilhante no palco, despediu-se dos seus professores, dos seus
amigos e em companhia de seu irmão Luiz, da Ordem Dominicana, por ordem
de seu pai, fez uma visita a seu tio Cesare, cônego da Basílica de
Loreto e a um parente de seu pai, Frei João Batista da Civitanova,
guardião de um convento dos capuchinhos, levando para ambos carta de
Sante Possenti em que este pedia examinassem a vocação do jovem. Tanto o
cônego como o capuchinho carregaram bastante as cores da vida austera
na Congregação dos Passionistas, que absolutamente não lhe conviria, a
ele, moço de dezoito anos, acostumado a seguir às suas vontades, sem
restrição de comodidades. A visita à Santa Casa em Loreto Francisco
aproveitou largamente para recomendar-se a N. Sra. Não mais arredou do
caminho encetado. De Loreto foi para convento Morrovale, dos
Passionistas onde já em 21 de setembro de 1856 recebeu o hábito com o
nome de Gabriel dell’Adolorata. Admitido no noviciado, escreveu ao pai e
aos irmãos, comunicando-lhes o fato. Ao pai pede perdão, aos irmãos
recomenda amor filial e boa conduta. A carta, embora de simplicidade
encantadora, é um documento admirável de sentimento filial e católico.
Aos companheiros seus de estudo dirigiu cartas também. Despede-se, pede
perdão de maus exemplos que julgava ter dado; aconselha-os a fugir das
más companhias, do teatro, das más leituras e das conversas inúteis.
Convencidíssimo
da sua vocação religiosa, longe do mundo, da sociedade e da família,
não mais teve outro ideal que subir as culminâncias da perfeição.
Inconfundível era sua personalidade no meio dos seus companheiros do
noviciado. Sem perder as notas características do seu caráter, a
jovialidade, a alegria de espírito, a amenidade de trato, era ele
inexcedível não só na exatidão do cumprimento dos exercícios regulares,
como também na prática das virtudes cristãs e monásticas. E se
perscrutarmos as causas profundas desta mudança radical na vida de
Gabriel, duas conseguiremos encontrar, aliás suficientes e
esclarecedoras: o ardente amor a Jesus Crucificado, à Santa Eucaristia,
sua devoção singular a Mãe de Deus, em particular à Nossa Senhora das
Dores e sua inalterada mortificação, por meio da qual deu morte aos seus
desordenados apetites, um por um. Tendo corrido o ano de provação,
Gabriel foi admitido à profissão e mandado para várias casas da
Congregação, com o fim de completar os seus estudos de teologia. Durante
os anos de preparação para o sacerdócio, superiores e companheiros
viram no santo jovem o modelo mais perfeito de todas as virtudes, e
cumpridor exatíssimo dos seus deveres. Quando chegou à idade de vinte e
três anos, anunciaram-se os primeiros sintomas da moléstia, que no prazo
de um ano havia de levá-lo ao túmulo: a tuberculose pulmonar. O longo
tempo da sua enfermagem Gabriel o aproveitou para ainda mais se
aprofundar na sua devoção predileta à Sagrada Paixão e Morte de Jesus
Cristo e à Maria Santíssima, mãe das dores.
Em
fevereiro de 1862 ainda pôde andar e receber a santa comunhão na
igreja, junto com seus companheiros. Inesperadamente o mal se agravou;
foi preciso avisá-lo para receber os últimos sacramentos. A notícia
assustou-o por um momento só; mas imediatamente recuperou a habitual
calma, que logo se transformou numa alegria antes nunca experimentada. O
modo de receber o santo viático comoveu e edificou a todos que
assistiram. Não mais largava a imagem do crucificado, que cobria de
beijos, e ao seu alcance tinha a estátua de N. Sra. das Dores, que
freqüentemente apertava ao seu peito, proferindo afetuosas jaculatórias,
como estas: “Minha
mãe, faze depressa!” – “Jesus, Maria, José, expire eu em paz em vossa
companhia!” – “Maria, mãe da graça, mãe da misericórdia, do inimigo nos
protegei, e na hora da morte nos recebei”. – Poucos momentos antes
do desenlace, o agonizante, que parecia dormir, de repente, todo a
sorrir, virou o rosto para esquerda, fixando olhar para um determinado
ponto. Como que tomado de uma grande comoção diante de uma visão
impressionante, deu um profundo suspiro de afeto e nesta atitude, sempre
sorridente, com as mãos apertando as imagens do crucifixo e da Mater
dolorosa, passou desta vida para a outra.
Assim morreu o santo jovem na idade de vinte e quatro anos, na manhã de 27 de fevereiro de 1862. Foi
sepultado na igreja da Congregação, em Isola Del Gran Sasso. Trinta
anos depois fêz-se o reconhecimento do seu corpo. Nesta ocasião com o
simples contacto de suas relíquias verificou-se a cura prodigiosa de uma
jovem que a tuberculose pulmonar tinha reduzido ao último estado.
Reproduziram-se aos milhares os prodígios que foram constatados à
invocação do Santo. Em 1908 o Papa Pio X inscreveu o nome de Gabriel da
Virgem Dolorosa no catálogo dos Beatos e em 1920 Bento XV decretou-lhe
as solenes honras da canonização.
Pio XI estendeu a sua festa a toda a Igreja, em 1932.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário.