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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Os males do audiovisual no mundo moderno Rev. Pe. Regimaldo O.P. Abril, 2018

 Conferência: Eu transcrevi quase toda a conferência do padre Regimaldo sobre o audiovisual, realizada no Mosteiro da Santa Cruz em abril de 2018. Não ficou exatamente como na gravação, porque, sendo texto, ajeitei algumas coisas para melhor compreensão dos leitores. 

Os males do áudio visual no mundo moderno - Rev. Pe. Regimaldo O.P.

Cada vez mais homens de ciência que não são católicos se inclinam sobre esta questão, estudam as consequências do audiovisual sobre a nossa natureza. Como a matéria é muito extensa, não poderei provar cientificamente tudo o que vou dizer. Os livros e referências estão em francês. Para quem sabe francês, o padre Riout fez um resumo da questão.
Mesmo que eu não possa provar nesta conferência tudo o que vou dizer, procurarei dar as bases filosóficas, que mostram que o audiovisual tal como ele é utilizado hoje destrói a nossa natureza.
Durante a conferência nós veremos os males sob dois aspectos: do ponto de vista natural e do ponto de vista sobrenatural. Por ter dado esta conferência mais vezes para jovens, eu desenvolvi mais a parte natural, pois é importante durante a adolescência mostrar que não é uma imposição gratuita de Deus que nos impede de utilizar o recurso. Também é bom conhecer os argumentos naturais quando se vai falar com quem não é católico. Mas é claro que o aspecto sobrenatural é de longe o mais importante. A rigor, uma pessoa com grande força de vontade poderia usar estes meios sem consequências más para ela, mas penso poder afirmar que esta pessoa nunca chegaria à santidade.
Os princípios de filosofia: lógica e a psicologia. Na lógica teremos as três operações do espírito.
[D. Tomás: Quando se fala em psicologia, não é o que se pensa quando se ouve esta palavra. A psicologia é o estudo da alma, da vontade, da inteligência.]
Primeiro temos a simples apreensão, depois o juízo, e, por fim, o raciocínio. Por que é importante abordar este assunto? Porque o audiovisual é sempre utilizado para manobrar as massas, para embrutecer o povo. E nós vamos entender melhor isto fazendo esta análise das três operações do espírito. Na primeira operação do espirito é que se vai fornecer o conceito, que às vezes se traduz também como ideia – mas o termo conceito é melhor.
Como é que um conceito chega à nossa inteligência? Isto é estudado em psicologia. Tem um princípio filosófico que diz: nada chega à nossa inteligência que não tenha passado primeiro pelos sentidos. Um bebê, quando começa sua vida, o que ele faz? Ele mexe em tudo. Ele pega os objetos e coloca na boca. Ele toca em tudo, ele escuta tudo, ele olha para tudo, e ele coloca coisas na boca. Ou seja, com os sentidos ele percebe a realidade. Nós temos cinco sentidos externos: a audição, a visão, o olfato, o paladar e o tato. Temos também os sentidos internos. Os sinais externos nos darão os sinais. Os sentidos internos vão receber estas informações e vão elaborar pouco a pouco um conceito. Então, pelos sentidos nós chegamos a ter os primeiros conceitos. Quando uma criança nasce, ela não tem nada na cabeça. Deus nos fez de maneira que através do contato com a realidade os sentidos vão formar conceitos reais sobre a realidade.
Cinco princípios que estão na base de tudo o que conhecemos: se uma criança não tivesse nenhum dos sentidos, ela permaneceria uma idiota, sem capacidade de pensar por toda a sua vida. Eis um exemplo. A mãe leva o seu filho para uma sala e ele vê uma mesa de madeira retangular. Ele pergunta à mãe o que é aquilo, e a mãe diz que é uma mesa. Ele vai à cozinha e vê uma mesa de plástico branca e redonda. Ele pergunta o que é, e a mãe responde que é uma mesa. Ele vai para fora e vê uma mesa vermelha com três pés; e pergunta a mãe o que é, e a mãe responde que é uma mesa. Se ele entrar numa outra sala onde há uma mesa preta e oval, ele mesmo vai dizer que é uma mesa. Ele compreendeu isto vendo várias mesas diferentes. Apesar de uma ser branca, a outra ser vermelha, e a outra ser preta, de terem três ou quatro pés, de serem de madeira ou de plástico ou de ferro, ele entendeu o conceito de mesa. Ele mesmo julga a quarta mesa e diz “isto é uma mesa”, ele uniu os conceitos e emitiu um juízo.
A partir do julgamento ele vai colocar juízos um após o outro, e vai chegar a um raciocínio. Por exemplo: a madeira é dura, esta mesa é de madeira, então esta mesa é dura. A base do raciocínio deve ser verdadeira, deve partir de juízos verdadeiros. E para que o conceito seja verdadeiro, é necessário que seja idêntico à realidade.
E uma das coisas mais graves do mundo informático, como veremos, é que ele nos separa da realidade. Ele fabrica outra realidade, põe-nos em outro mundo. Quanto mais a pessoa for jovem, maior a catástrofe. A pessoa que já tem o seu juízo formado, que já tem experiência, pode olhar o virtual sabendo que é virtual, que não é a realidade; mas uma criança ainda não está formada, pode misturar as duas coisas, e temos exemplos disso: um caso real de uma criança de três anos que diz para a mãe: “veja, vou fazer como o Batman”, e pula pela janela, e morre. Quanto mais cedo ela começa [a ter contato com o mundo virtual], mais ela fica separada da realidade, e mais fácil será tragada pelos inimigos da nossa alma.
A constituição da alma: a primeira faculdade, a mais importante, é a inteligência, que pode ser comparada a um farol, porque ilumina. Em seguida, a vontade, que pode ser comparada a um motor. Mas há um primado, uma precedência da inteligência sobre a vontade; por exemplo, se você diz a uma pessoa “vá”, ela vai perguntar “para onde?”; enquanto ela não sabe para onde vai, ela não pode-se mover. Então a inteligência deve iluminar a vontade para que ela possa ser colocada em movimento.  A vida espiritual é extremamente importante. Alguém que não faz leitura espiritual e não faz oração não tem nada que oferecer à sua própria vontade. Um sermão de vinte minutos por semana não é suficiente para um católico viver no mundo atual. Na Idade Média poderia bastar – os sermões, porém, eram de uma hora –, mas no mundo moderno é impossível, é necessário ler e fazer oração.

Onze paixões

As paixões são boas em si mesmas. Nosso Senhor teve-as todas. Ele usou sua paixão de cólera contra os mercadores do templo, usou sua paixão de ódio contra o pecado. Em si elas são boas, mas depois do pecado original elas se revoltaram contra a inteligência. Podem ser divididas em duas categorias: concupscíveis e irascíveis. As concupscíveis nos farão ir para o bem, e as irascíveis ajuda-nos a superarmos o obstáculo que nos impediria de irmos ao bem. Vamos agora seguir, mas voltaremos a isto ao falarmos dos filmes e da música moderna.
Ao que parece, nosso cérebro é dividido em duas partes, direita e esquerda, e chegou-se a determinar que parte é solicitada em relação à atividade que estamos desempenhando. Uma parte é destinada às coisas de natureza mais animal, e a outra é mais reservada às coisas superiores da alma. Segundo a solicitação de uma ou de outra, o resultado terá consequências.
A música moderna às vezes chega ao extremo de separar conexões entre lado direito e lado esquerdo. Em um caso extremo, mas real, durante um show, que conjuga música muito forte, conjuntos de luzes, incitação ao ódio e à violência, um homem matou outro. Foi preso, e no dia seguinte não se lembrava de absolutamente nada. Um homem de ciência, que analisou seu caso, disse que durante um lapso de tempo a conexão entre dois lados do cérebro tinha sido totalmente suprimida, [com] a parte animal, que tomou a frente na ação, ele matou, mas sem estar consciente do que fazia. Casos extremos podem chegar a isso. Veremos que mesmo o uso moderado é nocivo.

O universo da informática

O primeiro perigo do virtual é que nos separa da realidade. O virtual inclui informática, os filmes, e, de um certo ponto de vista, a música.  Ele vai nos separar do real e introduzir-nos em outro mundo. O mundo virtual adquire outro tipo de poder, e nós repelimos os limites de nossa natureza, vamos além do que a natureza permite. Eis o exemplo do videogame, que é mais especifico: você pode-se tornar imperador de Roma, pode virar um mago, tudo o que você quiser. Nós fazemos coisas que não terão punição, que não terão consequência. Podemos exercer um ódio de matar alguém sem nenhuma consequência em teoria que não seja pecado. Pensamos que é sem consequência, mas tem uma consequência no cérebro. A consequência estará relacionada à frequência com que a pessoa faz aquilo. Separar o real vai empobrecer a inteligência, sobretudo nas crianças.
No livro 1984 [George Orwell] o governo faz com que o vocabulário seja a cada ano reduzido, a missão de um grupo é diminuir o número de palavras, e é exatamente o que está acontecendo. Na França, os corretores de provas já têm uma lista de palavras que eles não podem corrigir; o aluno pode errar ou não, pois o nível está caindo, e eles não podem contar tais palavras como erros. Outro ministro da educação suprimiu o estudo de latim e de grego na França, isso nos corta das nossas raízes. Cortar-nos de nossas raízes e colocar-nos no mundo virtual é algo que nos deixa à mercê das influências [más]. Quanto mais você deixa seus filhos diante da televisão, do videogame, do celular, de tudo isso, você estará preparando marionetes que serão conduzidas para onde você não gostaria que eles fossem conduzidos.  Quanto mais cedo você colocar um celular na mão de seu filho, mais depressa você colocará uma coleira em seu pescoço, com a qual outros o levarão para onde você não gostaria que o levassem.
Consequência no nível espiritual: Nosso Senhor ama-nos e quer-nos fazer progredir na vida espiritual. Uma coisa impensável quando refletimos sobre o assunto: nós somos feitos para uma felicidade que ultrapassa nossa natureza: a visão beatífica, a visão face a face com Deus, que ultrapassa nossa natureza, pois ela é sobrenatural. Para fazer com que ela chegue a isso, ele é obrigado a purificar nossa natureza. Teremos que mortificar nosso corpo; não há verdadeira vida católica sem mortificação. Nossa inteligência e nossa vontade também serão purificadas, não só o corpo, mas também as faculdades espirituais.
Há três conversões, como chama o padre Garrigou-Lagrange: três idades da vida espiritual. Como na vida natural, ela começa como uma criança nos braços da mãe, depois se torna adolescente e, finalmente, um adulto. Nossa natureza faz isso sozinha. Ora, na vida espiritual podemos muito bem falhar numa dessas etapas. Se não somos generosos, matamos o santo que poderíamos ter sido.
E aí está o principal perigo do virtual. Porque a purificação do corpo é fácil de certa maneira. É mais difícil para nós modernos, mas é relativamente fácil. Mas para purificar a vontade e a inteligência, purificar a vontade própria e o juízo próprio, Deus intervém na nossa vida. Como se tratam das faculdades superiores da alma há frequentemente provações terríveis. E há duas escolhas, dois caminhos: deixarmo-nos purificar ou então cairmos nas consolações sensíveis, procurarmos estas consolações. A gente deixa Deus fazer-nos passar para a etapa seguinte.
Esse maldito virtual é uma excelente consolação sensível: com um clique você tem um filme, você tem as mais belas imagens que você quer, imagens puras também, você tem a música. No meio da provação, em vez de cair de joelhos e pedir a Deus por Sua graça, para que Nosso Senhor faça-nos avançar, é muito fácil precipitar-se na consolação sensível com o [mundo] virtual. Uma bela ilustração é a agonia de Nosso Senhor no Getsêmani. Ele agoniza, Ele reza, e quando chega a hora Ele mesmo se adianta e vai à sua Paixão. Os apóstolos dormem e fogem quando chegam os romanos.
Em noventa e nove por cento dos casos nós fugimos para a consolação sensível, como a virtual. Um dos principais males do virtual é que vai impedir progresso da santidade. Vai nos separar do real, o primeiro mal. Segundo mal: vai destruir nossa vida interior. Terceiro mal: somos nós que mandamos nesse mundo virtual. Com os progressos da ciência podemos fazer praticamente tudo no mundo virtual. Com a internet cremos saber tudo sobre tudo a todo momento. Esse domínio sobre as coisas nos dá a vertigem, a impressão de sermos criadores.
Uma criança que nasce no campo, o filho de camponês, que vê a colheita, vê o que é plantado, que cresce em função das chuvas e das estações, se você disser a ela que Deus não existe, ela vai rir na sua cara. Uma criança que nasce num apartamento, que vive cercada de cimento, que pode tudo conseguir com uma moeda, que vive num ambiente todo criado pelo homem, se você lhe disser que descende do orangotango ou de outra coisa, ela acredita.
Esse virtual é uma arma terrível para o ateísmo. Ele aumenta terrivelmente nosso orgulho. Torna-se insubmisso, você faz o computador dizer o que você quer, você o domina. E um pai de família sabe muito bem que a gente não faz o que quer, o computador dá essa impressão de que a gente pode fazer o que quer. Isso favorece o egoísmo. Não há esforço.
Há egoísmo também da parte dos pais, que colocam a criança em frente à televisão para ficarem tranquilos; é a babá eletrônica. Agindo assim os pais manifestam o egoísmo e deixam a criança ser destruída.  É um perigo enorme para a sociedade e para chegar ao Céu nem se fala.
Vamos ver agora o computador, o celular, o tablet, o Iphone e cia. O computador exerce uma certa hipnose sobre nós. Tem coisas que a ciência vai mostrando, como, por exemplo, que a luz que vem da tela estraga os olhos. Além desse aspecto mais físico, há também um fenômeno de hipnose, que vai ser maior ou menor segundo a força moral que está diante da tela.
Cuidado, caros pais! Se vocês têm esta força moral, seus filhos não a têm necessariamente. Não pensem que é sem perigo para seus filhos porque é sem perigo para os senhores. Mas para saber se realmente não há nenhuma dependência do computador, pergunte à sua esposa se ela não acha que você passa tempo demais diante do computador. A resposta em geral é conhecida, é categórica. Chegou ao ponto de um homem morrer diante do seu computador, no Japão, pois ficou diante da tela por três dias sem comer e sem beber – um caso extremo. Se se observar seu filho ou outra criança, ou outra pessoa, diante do computador, veja como fica em posição de hipnose, de certa maneira, e cada vez mais.
Houve uma criança que teve de fazer exame de sangue, e examinarem seu grau de angústia e de estresse. Se a criança está sozinha, esse grau é máximo. Mas quando estava nos joelhos da sua mãe, ele diminuía. Mas se ela está vendo o computador, pode tirar o sangue que quiser. Há uma atração da tela que obriga a uma reação, que obriga a um ato de vontade para separar-se.
Consequências dramáticas para a vida espiritual: mata a vida de oração. Falo como padre, como religiosos: se estou na cela lendo um livro e anotando, se toca o sino, parar não é um problema; mas se estou em frente a um computador, se toca o sino é um problema. A gente pensa: “farei mais tarde”.  Pergunto: quem, estando diante do computador, já fez cinco ou seis invocações jaculatórias ou uma comunhão espiritual?
Se você está lendo um livro espiritual, isso é a coisa mais fácil que tem. Há um erro moderno que consiste em ler no computador. Nós não podemos estudar diante do computador. Às vezes temos a impressão de uma grande ciência que vai copiar e colar. Mas se você estiver na rua e não estiver com seu computador no bolso, na hora de discutir, não sai nada. Porém, se você pegou um livro, tentou resumi-lo, fazer o esquema do livro, entrar no plano do livro, aí é outra coisa. O virtual, o celular, vai matar a reflexão e a vida interior, gera uma precipitação que impede a reflexão.  
O computador, mais do que os filmes, dá essa a impressão que você domina, que é um dominador. No jogo do videogame há certas regras, mas se alguém é muito craque em informática, ele tem essa impressão realmente de dominar, de fazer o que ele quer. Vai também separar, retirar o homem da sua casa, da sua família. Estou-me dirigindo aos pais de família, especialmente: ele vai chegar do trabalho e vai-se plantar diante de seu computador. É algo desejado pela maçonaria.
Já no século XIX eles queriam retirar o pai de família da sua família. Não tinha o computador, mas tinha o bar. Ele [o computador] impede ao pai de família de cumprir o seu papel dentro da família. Os homens são mais vulneráveis neste ponto do que as mulheres. Então tem de usar o computador com precaução. Se a gente se crê forte, um bom teste é marcar durante um mês o tempo que a gente passou cada dia diante do computador e, no final do mês, fazer as adições, e ver se foi um uso ordenado ou desordenado.

Celular

Nos novos celulares você tem tudo: internet, filmes, videogames, GPS, fotos. É tudo numa pequena máquina, torna-se uma coisa inevitável, inseparável, e isso é algo com que desejam aprisionar-nos. Os filmes e os computadores grandes põem uma certa limitação, mas o celular não tem nenhuma limitação, e a gente vai ver cada vez mais razões para acessá-lo; por exemplo: para ver a hora, redes sociais, e-mails. Sem parar você mexe no celular.
Calcule o número de vezes que o jovem hoje olha o seu celular. A média na França é por volta de trezentas vezes, não estou seguro, mas é por aí. Com certeza é mais de cem vezes [por dia]. E cada vez mais os jovens tem dificuldade em concentrar-se para escutar o que se está dizendo a eles. Isso mata a concentração, mata a inteligência. Os filmes geraram consequências cinquenta anos depois do início dos filmes; mas do celular, que não é muito antigo, já se vê as consequências nas escolas da Tradição. Os alunos estão cada vez mais com dificuldade de prestar atenção nas aulas, não conseguem falar vinte minutos sobre o mesmo assunto. Eles passam de um assunto para outro e para outro e para outro; não tem conexão entre um e outro. Isto é a [consequência] da internet. E isso tem consequências na inteligência. A conversão das pessoas torna-se extremamente difícil, porque se elas não prestam atenção não vão se converter. Por causa dessa separação do real, elas têm na cabeça o que a mídia botou na cabeça delas. São ações que são difíceis de tratar. Por exemplo, se você vai falar sobre a evolução, a respeito da Inquisição, para convencê-los será necessário um tempo grande, no mínimo uma hora... no mínimo. Elas não são capazes de manter-se por muito tempo no mesmo assunto. Você começa a falar da questão da evolução, elas começam a escutar, e daqui a pouco já passam para a questão da Inquisição. Você começa a explicar sobre a Inquisição, e elas passam para as Cruzadas, e quando você começa a explicar sobre as Cruzadas, elas começam a falar sobre o último modelo da Ford.
[O negócio é] não ser escravo do celular, usar o menos possível. Alguns exemplos: um bilhete {de transporte público] na França agora só se compra pelo celular. Então cada vez mais as pessoas compram as coisas pela internet, e assim ficam dependentes da internet. Habituam-se a utilizar esse utensílio para montar uma mesa, por exemplo. A gente vai entrar na internet para ver o modelo e vai se tornando cada vez mais dependente do celular. Um livro é mais lento, mas você vai assimilar melhor. A gente vai se divertir brincando com granadas? Claro que não, porque se explodirem a gente morre. Se a gente está na guerra, vai usar uma granada, mas com muita prudência. O celular é pior do que uma granada. Devemos utilizá-lo prestando muita atenção. Tem que ter essa coragem de controlar-se para ver se a gente não está usando cada vez mais. Há bons exemplos: a gente não precisa consultar a todo momento o celular para saber se alguém mandou uma mensagem; se a gente tem uma caixa postal, a gente vai ver se tem mensagem uma vez por dia, e a mesma coisa deve ser também para as mensagens, os e-mails. Se é uma profissão que exige esse utensílio, então é diferente, porque é um caso de necessidade. Se nós não temos um caso de necessidade, então devemos consultar uma vez por dia, num horário que nós mesmos determinamos, porque aí nós somos os mestres, nós é que dominamos. Se cada vez que [o celular] vibra a gente olha, a gente não é mais o mestre. Embrutece as pessoas, é realmente perigoso.

Videogames

Eles criam um vício, uma dependência. Há crianças que não podem ficar sem videogame. Isso vai influenciar o comportamento. Em setembro de 2017, alguém bateu na porta de um senhor fiel do convento. Ele abriu a porta e viu um rapaz, que parecia normal, e que disse que estava perdido. Ele disse que tudo bem, que o conduziria até sua casa. Então o rapaz aproveitou que o senhor deu meia-volta para pegar uma faca, e tentou matá-lo. O senhor do convento recebeu sete golpes de facadas, e o rapaz então atacou a esposa. O senhor, apesar de ser de idade, defendeu-se, pois era professor de ginástica, e o rapaz acabou fugindo. A polícia prendeu, e os psicólogos não compreendem, pois ele não tem nenhuma nevrose.
Era um rapaz que não tinha passado no vestibular depois de duas tentativas, e ele passou os dois meses anteriores a este fato jogando oito horas de videogame por dia; jogos extremamente violentos. O videogame tem um impacto sobre o comportamento. No nível criminal os jogos são cada vez mais violentos. Há jogos em que o objetivo é matar o mais possível, em que há escolhas de armas.
Perdoem-me dar estas precisões, porque isso é horrível: uma arma que podemos usar nesse jogo é a motosserra. Num desses jogos você vai cortar os outros com a motosserra, tem jogos em que você pode torturar. É uma evidência, todo mundo sabe, que a violência só faz crescer. Na hora não tem impacto, mas vai ter impacto sobre a mente, e um dia terá sobre os atos externos.
Há o problema da violência e o problema da impureza: nesses jogos você pode ser chefe de uma gangue em Nova York que vai utilizar prostitutas. E uma coisa mais grave ainda é a magia. Há jogos onde há poderes mágicos que você pode utilizar. Isso habitua a criança a fazer uso de forças paranormais onde ela encontra um problema.
Eis um exemplo: no tempo em que minha irmã estava na universidade, ela cruzava pelo corredor com outra menina que não era uma moça ruim, mas tinha perdido duas vezes um concurso, e no terceiro ano ela tinha tanto medo de não passar, que foi consultar pessoas espíritas. E ela teve essa ideia certamente em razão de a mídia tê-la colocado em sua cabeça. Se ela não tivesse visto filmes e jogos que recorrem a esse meio, de modo nenhum ela teria recorrido a ele.
Em muitos videogames você pode jogar um feitiço. Li um artigo que falava de um número impressionante de donos de empresas que recorrem à magia para [beneficio] de sua própria empresa. O progresso imenso do satanismo no mundo é devido, sobretudo, aos filmes e aos videogames. Ele leva alguns a terem uma dupla vida e a tornarem-se esquizofrênicos. Eis um caso real: um homem queria divorciar-se, porque no jogo de videogame o nome do jogo era vida dupla. Ele procurava contatos com uma mulher virtual, e preferiu divorciar-se de sua própria esposa. Ele ficou esquizofrênico, enlouqueceu.

Internet

A internet é um enorme problema para a questão da pureza. Vinte e cinco por cento dos acessos à internet são para impureza, e isso cria uma dependência. Quando ultrapassa certo limite a pessoa não consegue mais sair, a não ser através da medicina. Cuidado com seus adolescentes, não sejam ingênuos. Somente um menino em vinte consegue atravessar a adolescência sem entrar neste ritmo. Caras mães, não deixem o celular à disposição. A criança pode pegar para dar um clique e matar sua alma. E os pais serão os responsáveis.
A internet não é o mais importante. O inimigo faz o que pode para bloquear a informação. Quando ele vê que a informação está-se espalhando, ele faz uma saturação de informações, que nos leva à desinformação, que impede a verdadeira informação – é o que acontece na internet. Hoje em dia todo mundo pode saber o que um padre da Fraternidade disse hoje de manhã sobre o Papa Francisco, mas cada vez menos pessoas fazem uma reunião de estudos como a que vimos ontem aqui. Todos sabem as últimas fofocas sobre a FSSPX, mas para a formação teologal ou doutrinal não tem mais ninguém, e é isso o que o Inimigo quer.
Gustavo Corção destruiu mais inimigos da igreja do que inumeráveis católicos que [acham que] sabem de tudo, mas não têm informação nem querem ter. A internet não é um meio de informação, é perda de tempo. Duas colunas: uma, a internet, e a outra, o livro: o tempo com o livro devia ser quatro vezes maior do que o tempo com a internet. [A internet] mata a inteligência, porque com dois toques você pensa saber tudo sobre tudo.
Um exemplo: uma professora de escola foi à internet, criou uma palavra e uma explicação desta palavra. No dia seguinte ela chegou à sala de aula e mandou os alunos fazerem uma redação sobre esta palavra. Ela pega o que essas crianças escreveram, corrige e devolve aos alunos. Então ela diz sorrindo: “só há um inteligente entre vocês: é o que me devolveu o papel em branco. Todos foram à internet para ver esta palavra que não existe, que eu inventei”. O único que não foi ver na internet foi procurar na biblioteca um bom dicionário, e viu que essa palavra não existe. Para usar a internet é necessário já ter uma formação que permita fazer a triagem das informações da internet. Se você já leu todos os livros do Gustavo Corção, aí você pode consultar [risos].
[A internet] mata a verdadeira busca científica, no sentido da verdade, separa-nos da verdadeira ciência. A verdadeira ciência encontra-se em dois lugares: nos antigos e nas bibliotecas. Antigamente se dizia que quando um homem, um veterano, morria, uma biblioteca se extinguia; via-se esse respeito do jovem para com o avô, com as pessoas de idade; ele ia para junto delas para aprender. Hoje se vê cada vez menos isso, os jovens vão procurar aprender na internet. Isso é querido para matar o respeito pelos antigos.

Filmes

É algo menos esmagador, mas do ponto de vista dos efeitos é tão ruim quanto os outros. O filme também nos retira da realidade para transportar-nos ao virtual. Vai destruir a simples apreensão, a primeira operação do espírito, ao ponto de cientistas que não são católicos terem lançado um grito de alarma há alguns meses porque cada vez mais crianças de menos de três anos de idade são postas diante da televisão e não utilizam mais os sentidos, e têm suas inteligências esmagadas, mortas.
Na televisão, no filme, nós somos extremamente passivos. Vai também matar o juízo, que é a segunda operação do espirito. Vai trazer informações, a inteligência vai então trabalhar, vai extrair um conceito, e se há informação em demasia, o chamado sentido interno, o senso comum, não vai trabalhar direito, não vai dar resultado. É o que se passa nos filmes.
Nos filmes há uma sequência de imagens que é maior do que um homem pode naturalmente receber. Nos filmes de antigamente havia menos imagens, mas atualmente [porque há muitas imagens] os cientistas dizem que faz mal. Destrói nossa natureza, não se dirige à nossa inteligência, dirige-se à nossa paixão, à sensibilidade e à emoção. A música e a imagem são destinadas a excitar o concupscível e o irascível segundo o tipo de filme que você vê. As paixões que devido ao pecado original já estão em revolta em relação à vontade, a gente já tem dificuldade em dominar, imagine a dificuldade de um adolescente que tem todo dia o seu irascível e o seu concupscível excitados ao extremo. Imagine isso aos dois ou três anos de idade. Se ele tiver a graça de converter-se o combate será titânico, porque as paixões ficarão superexcitadas, e a vontade não terá condições – o combate é quase impossível. A graça de Deus: a graça está enxertada na natureza; se a graça chega numa vontade que está mole, fraca e quase inexistente, ela não fará grande coisa; é como as águas na pena de um marreco que nunca fica molhado.
O grande problema dos filmes e da música moderna é superexcitar as paixões, enfraquecer a vontade e matar a inteligência. Então temos diante de nós pessoas degeneradas, pois sua natureza foi degenerada. Monsenhor Williamson insiste, com razão, muito sobre isso. Antes de uma conversão sobrenatural, é necessária uma conversão natural. Quando ele era diretor do seminário ele criou um ano de humanidades para que os rapazes tivessem durante um ano, mesmo antes de começar o seminário propriamente dito, boa música, boa leitura, para reestruturarem a parte natural que está destruída.
Enfraquecer a vontade, superexcitar as paixões, a fuga do real e do esforço. Para o pai de família que chega cansado do seu trabalho, é claro que é mais fácil sentar na poltrona e ligar a televisão e ver um filme do que ocupar-se dos seus filhos [e ter] mais trabalho. Enquanto não purificarmos nossa vontade e nossa inteligência nós teremos a tendência de lançar-nos nas consolações sensíveis da internet e dos filmes. O filme vai matar a oração. Por exemplo, o filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson: se você for fazer oração sobre a Paixão, se você fizer uma via sacra, vão passar imagens do filme do Mel Gibson, vai passar um filme na sua cabeça. Você está tocando a emoção e a sensibilidade, que é justamente aquilo que Deus quer purificar em nós. Esse filme talvez seja bom para quem não é católico, mas para um católico tradicional vai impedir de progredir em sua vida espiritual; ele ficará uma criança, um anão por toda a sua vida.
O filme se dirige à nossa sensibilidade, à nossa imaginação. Quando nos unimos a Deus é pelas faculdades superiores, a inteligência e a vontade, não é pela sensibilidade. O filme dirige-nos à sensibilidade, o filme mantém-nos fora da oração, a oração não entra onde deveria entrar.
E outro perigo é o das imagens subliminares: quando há mais imagens do que a inteligência pode registrar. Eles farão passar uma imagem no meio do filme que não tem nada que ver com o filme, que mostra um suicídio, que mostra o que eles quiserem. Há a questão da pureza. “Eu vi, mas eu passei” [diz a pessoa em relação ao filme], mas se passou é porque viu alguma coisa, se não tivesse coisa impura não teria passado, e isso vai ficar gravado na imaginação. É como um selo de ferro que marca a pele. Mesmo que ele passe, o que tinha de errado ficou gravado, e isso vai atrapalhá-lo.
O demônio tem certo poder sobre a nossa imaginação, para formar imagens. Imagine um rapaz que às onze horas da noite vai dormir, o quanto o demônio pode trabalhar com o que já está impresso. Como ele irá manter-se casto e puro? Isto acontece porque os pais não foram bastante vigilantes em relação aos filmes. Atualmente, os pais não têm como controlar um filme, saber se ele tem imagens ruins no meio, pois há imagens que não vemos, mas que o cérebro registra. Tem a dependência gerada pelas séries. Conheço um rapaz que não consegue abandonar um seriado. Conheço um rapaz que tinha feito uma escola muito boa para entrar na escola militar e ele não passou porque ficava vendo série, não conseguia estudar.
Ainda há um perigo que não é o menor em relação aos filmes: é o mundo da fantasia. Vou citar alguns filmes que não são perigosos do ponto de vista da pureza, mas sim por causa da fantasia e dos poderes ocultos: Star Wars, O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia, Matrix, Piratas do Caribe. O principal perigo é com relação aos jovens, especialmente os adolescentes: o adolescente está em choque com as dificuldades da vida, e ele começa a ver que há obstáculos à sua vontade. Quando a criança ainda está no colo da mãe, ela não tem muito desejo, mas o adolescente vai ser mais confrontado com as dificuldades da vida, e, como na maior parte dos casos atualmente, ele foge para o mundo virtual, para não enfrentar as dificuldades. Ele vai ter como herói, como modelo, por exemplo, o Neo de Matrix, ou os Cavaleiros Jedi. São pessoas apresentadas como boas, mas [...] utilizam poderes acima dos poderes normais. Gandalf é um mago. Eles têm poderes sobre-humanos, há um panteísmo: os Jedi fazem apelo à Força, isso é panteísmo. [Quanto às séries, com temas ruins, para adultos: Os adultos de hoje são os jovens que já viveram isso na sua juventude.]

Música      

A música moderna como instrumento de destruição foi querida pela maçonaria. Você encontra isso na famosa escola de Frankfurt. É a revolução através da cultura, o princípio da escola de Frankfurt; é continuar a revolução, não como Fidel Castro, matando, mas através da cultura.
Cientistas fizeram estudos sobre os efeitos da música sobre nós. Colocaram plantas em quatro lugares diferentes. Num lugar, uma planta e um alto-falante com música moderna [rock]; em outro, uma planta e música clássica; outra, em silêncio, e a quarta com canto gregoriano. Com a que estava no silêncio e a que estava com a música clássica, nada de especial. A que estava com o rock morreu, e a que estava com o gregoriano floresceu.
A música de Mozart e Bach ajuda a concentração e o trabalho intelectual. Fazer os seus filhos escutarem a boa música ajuda o desenvolvimento de sua inteligência. Um mestre de orquestra um dia escutou uma melodia e disse “eu conheço esta melodia”, e ele se deu conta de que tinha escutado uma só vez esta melodia quando ele nem havia nascido ainda. Uma mãe que está esperando uma criança e que passa o tempo todo escutando música moderna está fazendo mal ao seu filho. Ela deve evitar ao máximo escutar a música moderna, e escutar, sim, a boa música. Aproveitem o que há de bom na internet, e escutem a boa música.
Para entender a música é preciso saber que nela há três componentes, numa ordem: harmonia, ritmo e melodia. A harmonia e o ritmo estão lá para a melodia. Se inverter a ordem, se colocar o ritmo ou a harmonia em primeiro lugar, você põe desordem na música, e esta música desordenada vai desordenar a pessoa. Isso pode ir muito longe.
Alguns oficiais nazistas escutaram Wagner para ir ao combate sabendo que iriam morrer. Mesmo na música clássica tem que saber escolher. Monsenhor Williamson mostra muito bem o que há de bom em Beethoven. Na música clássica, os que colocam mais ordem no intelecto são Mozart e Bach... Isto sem falar do Gregoriano. Mozart dizia “eu daria toda a minha obra em troca de poder ter sido o autor do Prefácio” [da Missa]. A harmonia age no concupscível, e o ritmo sobre o irascível, na influência do ritmo cardíaco, no cérebro, nas conexões do cérebro. A música tem impacto sobre nosso corpo, sobre o ritmo cardíaco, o cérebro e a psique. Estamos falando somente da música, sem falar das letras que são frequentemente blasfematórias, cada vez mais. E ainda tem a questão das mensagens subliminares também na música. Um médico fez um trabalho sobre mensagens subliminares [que mostrou] que mesmo quando é uma língua estrangeira, tem efeito sobre a pessoa. Um grande argumento dos jovens é “está em inglês e eu não entendo o que se está dizendo”, mas o subconsciente pega alguma coisa, isso é provado cientificamente.

O que fazer, como reagir?

·        Distinguir o necessário do que não o é.
·        Falar com o diretor espiritual.

É quase impossível não ter computador em casa. Deixe o computador num lugar de passagem, onde todo mundo passe pela casa. Que ninguém se creia suficientemente forte para ficar num lugar fechado. É uma ordem do Monsenhor Lefebvre para os pais: não tenha nenhum computador no quarto, especialmente se é adolescente.
Pode-se colocar um computador sem acesso à internet com, por exemplo, músicas salvas num pendrive. Pais, não sejam ingênuos. Um pai tem a conexão no escritório, e ele acha que está tranquilo, mas o jovem encontrou outro lugar no porão onde se conectar.
Use senhas: pois você pode estar ausente e o seu filho ter acesso à internet. Use uma senha bem difícil, pois neste assunto os jovens são bem inteligentes.
Pode-se colocar filtros que bloqueiem imagens nas páginas da web.
Busque saber por onde seu filho navegou na internet.
Acompanhe seu filho no computador, fique junto dele. Você não estará perdendo tempo, estará salvando seu filho.
Fixe um tempo para seu filho ficar no computador. [regule o tempo, não deixe por muitas horas]. Pelos melhores pretextos passa-se um tempo enorme no computador.
Não ir para a internet sem rezar antes.
É bom ter uma imagem piedosa perto, um crucifixo, uma medalhinha...
Quanto a filmes [vídeos]: o menos possível e o mais tarde possível [mais tarde quanto à idade]. Que os pais vejam o filme antes para que possam controlar e saber o que se vai mostrar ao filho. É um mal menor [o filme], mas se a criança interessar-se por um esporte, pelo xadrez, por instrumentos musicais, pode ser que nem se interesse pelos vídeos.
Música moderna, nunca. NUNCA. [Música moderna é quando o ritmo sobrepuja a melodia]. Pela minha experiência, a música tem um impacto maior do que o filme. Uma coisa ótima é aprender a tocar um instrumento musical...  
...Marchas militares são feitas para a luta, para a guerra, não é para ouvir todo dia...
...Na maior parte do tempo a razão não domina a paixão, e dificilmente se consegue raciocinar com isso [música moderna]. Ninguém passa do rock ao gregoriano de uma vez só. Que a pessoa [viciada] em rock vá subindo de um rock pesado para um mais leve, para uma música de filme, para uma música popular, depois para as óperas, até chegar ao Clássico, Mozart.
 

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário