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sábado, 4 de abril de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLXII (662) – (21 de março de 2020):



No princípio era meu altíssimo intelecto.
Ele deixa bastante para trás a pobre realidade de Deus!

Se existe algo que um sacerdote católico precisa conhecer e compreender a fundo hoje em dia, é a frase fundamental no coração da grande carta encíclica de São Pio X, Pascendi, escrita em 1907 para defender a Igreja e a humanidade da ameaça mortal do modernismo. O modernismo é o movimento de pensamento e ação pelo qual os homens deixam de mudar o mundo para adaptá-lo a Cristo e Sua Igreja, e trabalham, em vez disso, para mudar Cristo e Sua Igreja para adaptá-los ao mundo moderno. E qual é a frase fundamental da Pascendi pela qual isto deve ser feito? Ei-la, retirada do parágrafo 6 (ou de outro próximo) da Encíclica:

“A razão humana está completamente confinada no campo dos fenômenos, isto é, das coisas perceptíveis aos sentidos e da maneira com que são perceptíveis; ela não tem o direito nem o poder de ir além desses limites”.

Em outras palavras, a mente humana, que na verdade lê o dia inteiro por trás do que aparece aos sentidos, é finalmente declarada pelo homem moderno como incapaz de ler por trás das aparências! Em outras palavras, o que me parece uma porta poderia ser uma parede, o que me parece uma parede pode ser de fato a porta. Do que se deduz que pode ser melhor eu tentar atravessar a parede do que atravessar a porta! Certamente, essa é uma estupidez tão grande que ninguém ficará surpreso ao saber que mesmo os seguidores modernos de Immanuel Kant (1732-1804), que inventou a estupidez, raramente tentam atravessar paredes. Em outras palavras, eles conseguem viver sem levar a sério a sua própria filosofia. Eis por que a filosofia moderna ficou com uma reputação tão ruim. No entanto, o completamente estúpido Kant reina supremo nos departamentos de filosofia de quase todas as "universidades" de nosso tempo! Como isso pode ser possível?

Porque Kant é o grande libertador. Foi ele quem de uma vez por todas libertou a mente da realidade. Foi ele quem decretou que a mente está livre da realidade externa porque não tem acesso a ela! A mente não pode chegar à realidade tal como é em si mesma, o "Ding an sich", porque não pode ir para o que está por trás do que os sentidos lhe mostram. Não importa se eu posso viver apenas assumindo vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, que meus sentidos me estão dizendo o que é real ao meu redor, como o que minha mente ou intelecto é capaz de decifrar aquilo, ou ler dentro daquilo, que meus sentidos me mostram. A partir de Kant, a realidade à minha volta é cada vez menos interessante. O que importa é a "filosofia transcendental", como ele a chama, ou seja, o pensamento que subirá às alturas e penetrará as profundezas da minha fantasia com independência total da realidade enfadonha do cotidiano, como as portas e as paredes. Minha mente decolou! Minha mente está livre da realidade! De agora em diante, tudo o que eu quero é "verdadeiro"! De fato, a palavra "Verdade" assumiu um significado muito diferente. De fato, todas as palavras adquirem um significado transcendental. A liberdade reina na minha cabeça!

No entanto, se alguém insistir em levar-me de volta ao que chama o mundo real, ainda posso optar por assumir, como todos os pobres não universitários, que para continuar sobrevivendo (“ui!”) no mundo enfadonho (“ui!”), é melhor não tentar atravessar aquilo que parece parede, e é melhor não tentar comer pedras. Em outras palavras, minha mente é transcendentalmente superior a, e livre de, todo o seu "senso comum" ("ui!"), Mas ainda posso operar de acordo com ele – quando eu escolher – para propósitos da vida diária ("ui!”).

Ora, a liberdade é a verdadeira religião do homem moderno, e é a religião aparente, aquela que tem na vida de muitos católicos todas as aparências, mas nada da substância da verdadeira religião. Como diz São Paulo: "No final dos tempos... os homens... manterão a forma da religião, mas negarão o poder dela" (II Tim. III, 1-5), em outras palavras, manterão as aparências, mas negando a substância. O que são esses católicos? Eles são precisamente católicos kantianos, ou modernistas, porque quase todo mundo hoje em dia é kantiano, porque quase todo mundo hoje em dia adora a liberdade, e foi Kant quem finalmente lhes deu a chave para sair da prisão da realidade de Deus e escapar para as nuvens da modernidade transcendental. Sempre posso submeter-me a Deus novamente pelo tempo que eu quiser, mas Ele não pode mais manter-me em cativeiro. Eu sou livre, eu sou livre, eu sou livre!

A incrível perversidade, o incrível orgulho e a incrível perfídia de Kant deveriam começar a serem expostos. Mais do que nunca,

Senhor, tende piedade.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.