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terça-feira, 31 de março de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLIX (659) - (29 de fevereiro de 2020):



Pode ser do diabo a oposição feroz que o Poema padece,
No entanto, o número de seus leitores só cresce.

Nosso Senhor Jesus Cristo nunca esperou que suas ovelhas fossem, e menos ainda que elas fingissem ser, grandes teólogos, mas esperou que elas tivessem bom senso suficiente para poderem julgar por seus frutos alguém ou algo que viesse a confundi-las. “Por seus frutos os conhecereis” – MT. VII, 15-20. Ora, as obras de Maria Valtorta (celibatária italiana acamada, 1897-1961), especialmente seu Poema do Homem-Deus (1943-1947), são altamente controversas, sendo seus defensores tão entusiasmados quanto os seus atacantes são violentos. Então, quais são os frutos delas? Aqui está um testemunho recebido recentemente pelo editor destes "Comentários", adaptado como de costume para o presente número:

Gostaria de compartilhar com vocês minha surpresa com o Poema do Homem-Deus, de Maria Valtorta, depois de minha paciente leitura de todos os dez volumes, e depois de discutir com o editor dos livros e com os escritores que apoiam Maria Valtorta. Eu já tinha ouvido o senhor citando essa mística italiana em particular, mas o ataque ao Poema pelo Pe. H. e a subsequente estigmatização daquele pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X me fizeram esperar dez anos antes de lê-lo. No entanto, a Providência finalmente colocou em minhas mãos uma cópia desta versão tão detalhada do Evangelho e de uma biografia de Maria Valtorta, que eu li cuidadosamente, com lápis na mão para fazer anotações. Após cinco meses de trabalho duro, fiquei surpreso ao descobrir o quão ortodoxos são os dez livros e quanto bem eles fizeram à minha alma e a toda minha família.

Existem dominicanos que os condenam. Eu acho isso lamentável. Eles realmente os leram? Sinto-me como se fosse um tabu falar sobre isso abertamente. Também estudei tudo sobre como a obra surgiu (foi aprovado por Pio XII), e considero injusto o modo como os tradicionalistas colocaram essa nobre alma vítima em juízo e a condenaram. Temo por seus críticos por não acharem que suas revelações não sejam verdadeiramente de Nosso Senhor e não sejam destinadas ao nosso próprio tempo.

Os números anteriores de seus “Comentários” de 2011 e 2012 sobre o “Poema” são um verdadeiro consolo para alguém como eu, que sente como se estivesse cometendo uma falta quando usa como alimento espiritual diário “O Evangelho, como me foi revelado” (o título alternativo do poema). Temos uma variedade de versões desta monumental Vida de Jesus: não apenas os dez volumes completos para adultos, mas também belos livros ilustrados para crianças a partir dos oito anos de idade e uma versão simplificada para crianças de 13 anos. O resultado é que toda a família está unida nessas páginas luminosas sobre o Homem-Deus e Suas relações com o mundo, com Sua Mãe e, sobretudo para os nossos tempos, com Judas Iscariotes. Suas relações com os outros onze apóstolos, com as mulheres santas e com Seus inimigos são igualmente edificantes.

Para entender a Paixão da Igreja de hoje, sofrendo e morrendo pelas mãos de seus próprios ministros, é particularmente útil comparar o caráter moderno e a natureza liberal de Judas, traidor da Igreja tal como se retrata no Poema, com nossos próprios clérigos conciliares, mas também acrescentaria com o "cristão" liberal sonolento dentro de cada um de nós. Pois, com efeito, o drama se desenrola não somente na cabeça da Igreja, mas também através das famílias que renunciam à luta por viver de acordo com o Evangelho, exatamente como se revelou à Maria Valtorta... (Aqui termina o testemunho do leitor).

Para concluir, o poema do Homem-Deus de Maria Valtorta é altamente controverso, mas não há por que sê-lo. Por um lado, não está em pé de igualdade com os quatro Evangelhos ou com as Sagradas Escrituras, nem foi declarado autêntico pela Igreja, nem é necessário para a salvação, nem é do gosto de todos os católicos sérios, nem é considerado como qualquer uma dessas coisas por qualquer católico em sã consciência. Por outro lado, assim como no Sudário de Turim ou na Tilma de Nossa Senhora de Guadalupe, as evidências surpreendentes da autenticidade do Poema parecem aumentar com o passar do tempo. Ele colocou inúmeras almas no caminho espiritual da conversão ou da perfeição em direção à salvação. E tem sido calorosamente recomendado e aprovado por muitos católicos sérios, incluindo teólogos e Bispos. Como disse Pio XII sobre o poema: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Cavalo Amarelo: Sua sutileza.


Cavalo Amarelo

7 Et cum aperuisset sigillum quartum, audivi vocem quarti animalis dicentis: “ Veni ”. E quando ele abriu o quarto animal, que dizia: Vem e vê.
8 Et vidi: et ecce equus pallidus; et, qui sedebat desuper, nomen illi Mors, et Infernus sequebatur eum; et data est illis potestas super quartam partem terrae interficere gladio et fame et morte et a bestiis terrae. E apareceu um cavalo amarelo amarelo: e o que estava montado sobre ele tinha por nome Morte e seguia-o o Inferno, e foi-lhe dado poder sobre as quarto partes da terra, para matar à espada, à fome, e pela mortandade, e pelas alimárias da terra.


Quando se fala de Apocalipse, todos ficam assustado. Deus em sua misericórdia envio Nossa Senhora de Fátima, para que o Cavalo Amarelo não espalha-se pelo mundo suas  peste, fome e morte. 


Veja o adestramento de um dos cavalos mais bonitos do mundo ...A Russia que domou esse cavalo amarelo, lhe instrui, e sua raiz entrou nas quarta parta da terra como vimos em vários países (Ex: Venezuela) Afundando pela desemprego e seguido de fome. Para não enraizar tinha uma condição Consagrar a Russia ao seu Imaculado Coração como não foi feito agora tem suas consequências. 

Para evitar a fome  do Cavalo Amarelo, São Paulo da essa ordem:

II Tessalonicenses - Capítulo 3


8nemtemos comido de graça o pão de ninguém. Mas, com trabalho e fadiga, labutamos noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós.9Não porque não tivéssemos direito para isso, mas foi para vos oferecer em nós mesmos um exemplo a imitar.10Aliás, quando estávamos convosco, nós vos dizíamos formalmente: Quem não quiser trabalhar, não tem o direito de comer.11Entretanto, soubemos que entre vós há alguns desordeiros, vadios, que só se preocupam em intrometer-se em assuntos alheios.12A esses indivíduos ordenamos e exortamos a que se dediquem tranquilamente ao trabalho para merecerem ganhar o que comer.13Vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.14Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele.15Porém, não deveis considerá-lo como inimigo, mas repreendê-lo como irmão.16O Senhor da paz vos conceda a paz em todo o tempo e em todas as circunstâncias. 

Padres também mantinham contato com os acometidos, principalmente porque realizavam os ritos religiosos relacionados com o perdão dos pecados e o funeral.

[Fátima já: Rosário 24h!] - Pela conversão do Santo Padre à Tradição e a realização da Consagração da Rússia


Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLVIII (658) – (22 de fevereiro de 2020):

AUTORIDADE DO ARCEBISPO - II


A autoridade vem de cima, não de baixo.
Se cortada em cima, ela não pode fluir.

DCLV - na teoria, a autoridade do Papa é indispensável para a Igreja. DCLVI - na teoria, os sacerdotes precisam absolutamente do Papa para uni-los.
DCLVII - na prática, a autoridade do Arcebispo Lefebvre foi seriamente prejudicada por não ter o suporte do Papa vivo na época. DCLVIII - na prática, o Arcebispo exerceu a autoridade que ainda possuía de pelo menos três maneiras diferentes, de acordo com os sujeitos sobre os quais a exerceu: aqueles que pediram que ele exercesse autoridade sobre eles nos termos dele, aqueles que pediram apenas uma autoridade parcial em seus próprios termos, e aqueles que não pediram nenhuma.

Observe-se antes de tudo como a classificação não é feita pela autoridade, mas pelos que estão sob ela. Em outras palavras, os sujeitos são os que "dão as ordens". Essa situação anormal na Igreja é o resultado direto do Vaticano II, onde a Autoridade Católica minou-se a si mesma radicalmente por sua traição plena à Verdade Católica, quando tentou substituir a religião objetiva de Deus por um substituto feito pelo homem, e mudar a Igreja Católica centrada em Deus pela Neoigreja centrada no homem. Por esse Concílio, todos os sacerdotes católicos foram essencialmente desacreditados, como seguem sendo-o até hoje, e continuarão sendo-o, até que os clérigos voltem a dizer a Verdade de Deus; somente então eles recuperarão sua autoridade plena.

Aqueles que pediram ao Arcebispo que exercesse sua autoridade nos termos dele foram, naturalmente, os membros das Congregações Católicas que ele mesmo fundou, principalmente a dos sacerdotes seculares, mas também a dos religiosos e religiosas e a dos terciários. Ele fez as Congregações do modo mais normal possível, com graus de obediência a si mesmo como Superior Geral, com votos nas ordenações para sacerdotes e promessas solenes no ingresso formal dos sacerdotes, Irmãos ou Irmãs em suas correspondentes Congregações. Na história da Igreja, os votos são para Deus, e, em caso de necessidade, muitas vezes têm sido dissolvidos (discretamente) pela autoridade romana, como é normal. As promessas dependem antes da escolha daqueles que as fizeram, e aqui a autoridade do Arcebispo foi seriamente comprometida, conforme relatado nos "Comentários" da semana passada, por ele ter sido condenado oficialmente pelo Papa e por seus confrades Bispos. Se um sacerdote decidisse deixar a Fraternidade pelo liberalismo à esquerda ou pelo sedevacantismo à direita, o Arcebispo não podia, como ele dizia, fazer nada além de cortar todo contato futuro, para que esses sacerdotes não pudessem fingir que ainda estavam em bons termos com a Fraternidade. Eles haviam escolhido ficar por sua própria conta.

Aqueles que, em segundo lugar, pediam ao Arcebispo que exercesse sua autoridade nos próprios termos deles, por exemplo, para receber o sacramento da Confirmação, ele prontamente satisfaria, na medida do possível dentro das normas da Igreja, por causa da crise da Igreja que faz com que seja questionável a validade das Confirmações conferidas com o Neorrito de Confirmação. Por um lado, dizia ele, os católicos têm direito a sacramentos seguramente válidos, e se, por outro lado, eles não queriam nada mais com ele, essa era uma escolha deles, e a responsabilidade era deles perante Deus.

E, em terceiro lugar, para aqueles que lhe pedissem que não exercesse autoridade sobre eles de maneira nenhuma, como um grande número de sacerdotes tradicionais que simpatizavam com sua Fraternidade, mas que nunca quiseram se juntar a ela, ele sempre foi generoso com qualquer contato, amizade, encorajamento ou conselho que pudessem ter pedido, mas nunca fingiu ou se comportou remotamente como se tivesse alguma autoridade sobre eles. E o mesmo com os leigos. Muitos católicos nunca concordaram com a posição que ele adotou, aparentemente oposta ao Papa, mas ele era impecavelmente cortês e estava pronto para responder as perguntas, se o sujeito que perguntasse merecesse nem que fosse minimamente uma resposta. E foi a objetividade e a razoabilidade de suas respostas que transformaram muitos neoeclesiásticos em tradicionalistas que se colocariam sob seu ministério ou sob a orientação de seus sacerdotes.

Resumindo, o Concílio paralisou a Autoridade da Igreja, mas onde havia vontade havia um caminho, ou pelo menos um caminho substituto, para que as almas buscassem a salvação eterna, o que é extremamente difícil sem os sacerdotes. Por meio do Arcebispo, especialmente, mas não unicamente, Deus garantiu esse caminho substituto para as almas, que ainda está aí.

Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.

domingo, 29 de março de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLVII (657) – (15 de fevereiro de 2020):



Os sacerdotes católicos estão divididos atualmente.
Católicos, rezem para que eles se apoiem uns aos outros novamente.


Ilustremos a relação entre a Verdade Católica e a Autoridade Católica com o exemplo concreto do Atanásio dos tempos modernos que Deus nos deu para mostrar-nos o caminho durante nossa crise pré-apocalíptica: o Arcebispo Lefebvre (1905-1991). Quando a multidão de líderes da Igreja foi persuadida no Vaticano II a mudar a natureza da Fé, e alguns anos depois, em nome da obediência, a abandonar o verdadeiro rito da Missa, o Arcebispo, pela força de sua fé, permaneceu fiel à Verdade imutável da Igreja, e mostrou que ela é o coração e a alma de sua Autoridade divina. Como diz o provérbio espanhol, "a obediência não é serva da obediência".

Certamente o Arcebispo acreditava na autoridade da Igreja de dar ordens aos seus membros em todos os níveis para a salvação de suas almas. É por isso que, nos primeiros anos de existência da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (1970-1974), ele se esforçou para obedecer ao Direito Canônico e ao Papa Paulo VI, na medida do possível; mas quando os oficiais enviados de Roma para inspecionar seu Seminário em Écône afastaram-se da verdade católica nas coisas que diziam aos seminaristas, ele escreveu sua famosa Declaração de novembro de 1974, em protesto contra o abandono da fé católica da parte de toda a Roma em favor da nova religião conciliar, e esta Declaração serviu como o principal documento para aquilo que surgiu como o movimento Tradicional na Missa de Lille no verão de 1976.

Ora, o próprio Arcebispo sempre negou resolutamente que fosse o líder da Tradição, porque até hoje a Tradição Católica é um movimento não oficial, e não possui nenhum tipo de estrutura oficial. Ele também não era o único líder entre os tradicionalistas, nem todos concordavam com ele ou lhe prestavam homenagem. No entanto, um grande número de católicos viu nele seu líder, confiou nele e o seguiu. Por quê? Porque eles viram nele a continuação daquela fé católica somente pela qual eles poderiam salvar suas almas. Em outras palavras, o Arcebispo pode não ter tido autoridade oficial sobre eles, porque a jurisdição é uma prerrogativa dos oficiais da Igreja devidamente eleitos ou nomeados, mas ele construiu até sua morte uma enorme autoridade moral por sua fidelidade à verdadeira fé. Em outras palavras, sua verdade criou sua autoridade, extraoficial, mas real, enquanto a falta de verdade dos oficiais vem minando a autoridade destes desde então.

A dependência da autoridade, pelo menos a autoridade católica, em relação à verdade, não podia estar mais clara.

No entanto, com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que o Arcebispo fundou em 1970, as coisas foram um pouco diferentes, porque recebeu da Igreja oficial alguma jurisdição do Bispo Charrière, da Diocese de Genebra, Lausanne e Friburgo, uma jurisdição que ele apreciava, porque demonstrava que ele não estava inventando as coisas à medida que as levava adiante, mas estava realizando uma obra da Igreja. E assim ele fez o possível para governar a FSSPX como se ele fosse o chefe normal de uma congregação católica normal sob Roma, o que a defesa da verdadeira fé lhe dava todo o direito de fazer. No entanto, os romanos públicos e oficiais usaram toda a sua jurisdição para dar-lhe a mentira, alienando dele assim uma multidão de católicos que de outra forma o teriam seguido.

Ademais, a Neoigreja que eles estavam criando ao seu redor significava que, mesmo dentro da Fraternidade, sua autoridade estava seriamente enfraquecida. Por exemplo, se antes do Concílio um sacerdote insatisfeito com seu Bispo diocesano solicitava entrar na diocese de outro, o segundo Bispo naturalmente consultava o primeiro sobre o solicitante, e se o primeiro aconselhasse o segundo a não ter nada que ver com ele, isso era o fim imediato da solicitação. Mas, ao contrário, se um sacerdote da Fraternidade insatisfeito com ela solicitasse ingressar em uma diocese da Neoigreja, o Bispo da Neoigreja podia muito bem "recebê-lo de volta ao rebanho oficial" como fugitivo do "cisma lefebvriano". Assim, o Arcebispo não era apoiado por seus irmãos Bispos, o que significava que ele não podia disciplinar seus sacerdotes dentro da Fraternidade como deveria ter podido fazer. Sua autoridade andava sobre cascas de ovos, na medida em que não tinha à sua disposição nenhuma sanção para manter os sacerdotes rebelados sob controle. Portanto, a falta de verdade na Neoigreja deixou a verdade na Fraternidade sem a autoridade católica que lhe correspondia para protegê-la.

Portanto, para compensar a falta de unidade na verdade vinda da hierarquia, os sacerdotes tradicionais de hoje devem exercer uma tolerância acima do normal em relação aos outros, e os católicos tradicionais devem rezar mais do que de costume para que seus sacerdotes encontrem essa tolerância. Não é impossível.

Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Dom Marcel Lefebvre: 28 anos de sua entrada na vida.

Defensor da Verdade Católica.


Quem como Deus!Viva realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Maria Rainha

 

A VISIBILIDADE DA IGREJA E A SITUAÇÃO ATUAL
 http://www.beneditinos.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17:a-visibilidade-da-igreja-e-a-situacao-atual-&catid=3:dom-marcel-lefebvre&Itemid=59
Apresentamos aqui alguns extratos de uma conferência de Dom Marcel Lefebvre. A dita conferência tem várias qualidades. Além de tratar com profundidade da questão da visibilidade de Igreja em meio à crise terrível que atravessamos, traz o pensamento autêntico de Dom Marcel Lefebvre, tal como ele o expôs aos seus padres pouco tempo depois de Dom Gérard Calvet ter feito seu acordo com o Vaticano, respondendo a alguns argumentos teológicos que este desenvolveu numa publicação do jornal Présent do dia 18 de agosto de 1988. Mesmo se em determinadas cartas, como é natural, S. Exa. tenha falado com maiores cuidados na esperança de mover os adversários a compreender e aceitar a Tradição, não resta dúvida de que seu pensamento estava longe de aceitar o Vaticano II ou a Missa de Paulo VI. Dom Lefebvre responde, assim, com antecedência aos argumentos que tentam justificar a atual posição de Campos. Nossa tradução é tirada da revista Fideliter 66 de novembro/dezembro de 1988, p. 27-31).

Dom Marcel Lefebvre

Meus caros Padres,

Penso que vós que saístes dos seminários e que, estais agora exercendo o ministério e que desejastes guardar a Tradição, vós que desejastes ser padres para sempre, como foram os santos padres de outrora, todos os santos vigários e os santos sacerdotes que nós mesmos pudemos conhecer nas paróquias. Vós continuais e representais verdadeiramente a Igreja Católica. Acredito que é necessário convencer-vos disso: "representais verdadeiramente a Igreja Católica".

A Igreja Visível

Não quero dizer que inexista Igreja fora de nós; não se trata disso. Mas há pouco tempo, disseram-nos que é necessário que a Tradição entre na Igreja visível. Penso que se comete aí um erro muito grave.

Onde está a Igreja visível? A Igreja visível é reconhecida pelos sinais que ela sempre deu de sua visibilidade: ela é una, santa, católica e apostólica.

Eu vos pergunto: onde estão os verdadeiros sinais da Igreja? Estão eles na Igreja oficial (não se trata de Igreja visível, mas da Igreja oficial) ou conosco, no que representamos, no que somos? É evidente que somos nós que guardamos a unidade da fé, que desapareceu da Igreja oficial. Um Bispo acredita nisso, outro já não acredita, a fé é diversa, seus catecismos abomináveis estão cheios de heresias. Onde está a unidade da fé em Roma?

Onde está a unidade da fé no mundo? Fomos nós que a guardamos. A unidade da fé espalhada no mundo inteiro é a catolicidade. Ora, esta unidade da fé no mundo inteiro, não existe mais, não existe mais catolicidade. Existem tantas Igrejas católicas quantos Bispos e Dioceses. Cada um possui sua maneira de ver, de pensar, de pregar, de fazer seu catecismo. Não existe mais catolicidade.

E a Apostolicidade? Eles romperam com o passado. Se eles fizeram algo, foi exatamente isso. Eles não desejam mais o que é anterior ao Concílio Vaticano II. Vede o Motu proprio do Papa que nos condena, ele diz muito bem: "a Tradição viva é o Vaticano II": não se deve reportar mais a fatos anteriores ao Vaticano II, isso não significa nada. A Igreja guarda a Tradição de século em século. O que passou passou, desapareceu. Toda a Tradição encontra-se na Igreja de hoje. Qual é esta Tradição? A que ela se liga? Como ela se liga ao passado?

É o que lhes permite dizer o contrário do que foi dito outrora, sempre pretendendo que somente eles guardaram a Tradição. É o que nos pede o Papa: que nos submetamos à Tradição viva. Nós possuiríamos um conceito equivocado de Tradição, visto que ela é viva e evolutiva. Mas, isto é o erro modernista: o Santo Papa Pio X, na encíclica Pascendi, condenou estes termos: "Tradição viva, Igreja viva, fé viva", etc, no sentido que os modernistas os entendem, ou seja, da evolução que depende das circunstâncias históricas. A verdade da Revelação, a explicação da Revelação, dependeria das circunstâncias históricas.

A Apostolicidade: nós nos vinculamos aos Apóstolos pela autoridade. Meu sacerdócio vem através dos Apóstolos; vosso sacerdócio vem através dos Apóstolos. Nós somos filhos daqueles que nos deram o episcopado. Nosso episcopado descende do Santo Papa Pio V e através dele chegamos até aos Apóstolos. Quanto à Apostolicidade da fé, nós cremos na mesma fé que foi a dos Apóstolos. Nós não mudamos nada e nem queremos mudar nada.

E enfim, a santidade. Não nos faremos louvores e cumprimentos. Se não quisermos considerar a nós mesmos, consideremos os outros, e consideremos os frutos de nosso apostolado, os frutos vocacionais, de nossas religiosas e também dentro das famílias cristãs. Boas e santas famílias cristãs germinam, graças a vosso apostolado. É um fato, ninguém o pode negar. Mesmo nossos visitantes progressistas de Roma constataram a boa qualidade de nosso trabalho. Quando Mons. Perl disse às irmãs de Saint-Pré e às irmãs de Fanjeaux que é com base como a delas que se deverá reconstruir a Igreja, não é um pequeno elogio.

Tudo isso mostra que somos nós que possuímos os sinais da Igreja visível. Se ainda existe uma visibilidade da Igreja hoje em dia, é graças a vós. Estes sinais, não se encontram mais nos outros. Não existe mais neles unidade da fé; ora, é precisamente a fé que é a base de toda a visibilidade da Igreja.

A catolicidade é a fé no espaço. A Apostolicidade é a fé no tempo, e a santidade é o fruto da fé, que se concretiza nas almas pela graça do bom Deus, pela graça dos sacramentos. É completamente falso considerar-nos como se não fizéssemos parte da Igreja visível. É inacreditável. É a Igreja oficial que nos rejeita, não somos nós que rejeitamos a Igreja, longe de nós. Ao contrário, nós estamos sempre unidos à Igreja romana e mesmo ao Papa, evidentemente, ao sucessor de Pedro. Penso que devemos ter esta convicção para não cair nos erros que estão sendo espalhados agora.

Sair da Igreja?

Evidentemente, poderão objetar-nos: “Deve-se, obrigatoriamente, sair da Igreja visível para não perder sua alma, sair da sociedade dos fiéis unidos ao Papa?”

Não somos nós, mas os modernistas que saíram da Igreja. Quanto a dizer "sair da Igreja VISÍVEL" é equivocar-se assemelhando Igreja oficial e Igreja visível.

Nós pertencemos à Igreja visível, à sociedade dos fiéis sob a autoridade do Papa, pois, não recusamos a autoridade do Papa, mas o que ele faz. Nós reconhecemos que o Papa tem autoridade, mas quando ele a usa para fazer o contrário daquilo que lhe é facultado fazer, é evidente que não podemos segui-lo.

Sair, portanto, da Igreja oficial? Em uma certa medida, sim, evidentemente. Todo o livro de Jean Madiran, A Heresia do século XX, é a história das heresias dos Bispos. É necessário, portanto, que saiamos do meio destes Bispos, se não desejamos perder nossa alma.

Mas isso não é suficiente, posto que é em Roma que a heresia se instalou. Se os Bispos são heréticos (mesmo sem tomar este termo no sentido e com as conseqüências do direito canônico), não é sem a influência de Roma.

Se nós nos distanciamos deste tipo de gente, é com a mesma precaução que se toma para com as pessoas que estão com AIDS. Não queremos nos contaminar. Ora, eles estão com AIDS espiritual, uma doença contagiosa. Se quisermos guardar a saúde, não devemos aproximarmo-nos deles.

Sim, o liberalismo e o modernismo se introduziram no Concílio e no interior da Igreja. São idéias revolucionárias e a Revolução, que encontrávamos na sociedade civil, passou para dentro da Igreja. O Cardeal Ratzinger não mais esconde esse fato: eles adotaram as idéias não da Igreja, mas do mundo e eles acham que devem fazê-las entrar na Igreja.

Ora, as autoridades não mudaram sequer uma vírgula de suas idéias sobre o Concílio, o liberalismo e o modernismo. Eles são a anti-Tradição, Tradição como a Igreja compreende e como entendemos. Essa noção não entra no conceito deles. Pois sendo o conceito deles evolutivo, eles são contra essa Tradição fixa, na qual nós nos mantemos. Estimamos que tudo aquilo que nos ensina o catecismo nos vem de Nosso Senhor e dos Apóstolos e que nada mudou. Isto é claro. As três partes do catecismo nos vêm de Nosso Senhor. Por que mudá-las? Nós não podemos evoluí-las. O Credo, os Mandamentos de Deus, os meios de nos salvar, os Sacramentos, o Santo Sacrifício da Missa e a oração, tudo isso, vem diretamente de Nosso Senhor. Tudo isso, é nosso catecismo, que nos é dado, geralmente, com nosso batismo, que nos é colocado entre nossas mãos. Tudo isso é nosso estatuto, desde o momento que Nosso Senhor desejou que todos fossem batizados, que todos adotassem o Credo, o Decálogo, os Sacramentos que Ele instituiu, bem como o Santo Sacrifício da Missa e as orações. Para eles, não, tudo isso evolui e evoluiu com o Vaticano II. O fim atual da evolução é o Vaticano II. É por isso que nós não podemos nos ligar a Roma. Teria sido possível, se tivéssemos podido nos proteger completamente como, de fato, pedíamos. Mas eles não quiseram. Eles recusaram os membros que pedíamos para a comissão, eles recusaram o número de Bispos que pedíamos, recusaram o número de Bispos que eu lhes apresentei. Estava claro: eles não queriam que estivéssemos protegidos. Eles queriam ter-nos diretamente debaixo de seus golpes e poder, assim, impor-nos esta política anti-Tradição da qual eles estão imbuídos.

Roma não mudou

Um exemplo mostra-nos que nada mudou no espírito dos que estão em Roma: em 1º de maio (1988), em Veneza realizou-se um importante congresso sobre a liberdade religiosa nas atuais situações políticas. Esse congresso foi dirigido pelo reitor da Universidade de Latrão, Mons. Pierre Rossano, famoso por suas idéias liberais, e Mons. Pavan, que é o autor de, praticamente, todos os documentos sociológicos publicados desde o Papa João XXIII, de todos os documentos que dizem respeito à sociedade. As encíclicas dos Papas João XXIII, Paulo VI e João Paulo II foram praticamente redigidas por ele. É o grande pensador do Vaticano.

Foram estes dois prelados que fizeram e dirigiram essa reunião de Veneza sobre a liberdade religiosa dentro das situações políticas. É muito interessante notar o que eles dizem a respeito da liberdade religiosa: "Mudança da concepção da liberdade religiosa". Eles não se escondem. Eles falam da influência da Segunda Guerra mundial. Eles buscam motivações longínquas: já sob Pio XII realiza-se uma tomada de consciência da liberdade religiosa, realizada na tragédia da Segunda Guerra mundial. Isso permitiu, para utilizar uma frase estereotipada, A PASSAGEM DO DIREITO DA VERDADE AO DIREITO DA PESSOA.

Examinemos um pouco melhor essa frase. O direito da verdade nos ensina que existe a liberdade da verdadeira religião, mas que o homem não possui a liberdade de escolher a sua religião, de escolher a verdade. Somos feitos e criados com inteligência e vontade livres, não resta a menor dúvida, mas essa liberdade só deve servir para nos fazer aderir à verdade e não a outra coisa. Pois um laço fundamental, essencial, une a liberdade e a verdade. Romper este laço para dizer: a partir de agora, compreendemos que não se trata mais de ligar liberdade com verdade, mas liberdade e natureza humana, é um erro fundamental. Nossa própria natureza, com a inteligência e a vontade, é feita para aderir à verdade. E, eis que agora (e os autores do congresso de Veneza o escreveram em seus relatórios) suprime-se o direito da verdade (que é o laço que por natureza une o sujeito à verdade) para colocar em seu lugar o direito da pessoa, um direito inteiramente independente. Esse direito estaria fundado sobre a natureza, mas considerada dentro de sua dignidade de sujeito livre, ou seja, autônomo e sem laços. E os ditos autores precisam que isso deve ser particularmente verdadeiro em matéria religiosa, que trata da orientação da vida. É preocupante. Como se pudéssemos mudar coisas tão profundas na natureza. Deus nos criou para a verdade, Ele não nos deu a liberdade para escolhermos o erro. Não é possível. Não temos o direito ao erro. Ora, praticamente, é a isto que conduz a liberdade religiosa: permitir à natureza de escolher livremente a sua verdade, é dar-lhe direito ao erro.

E, segundo essa teoria, todos os países deveriam aceitar isso, sem se lhe opor no limite da ordem pública. Mas a ordem pública é muito extensa! Estas sociedades deveriam aceitar o ecumenismo, a laicização dos estados, a liberdade de culto. Elas deveriam reconhecer como diretivas tudo aquilo que o homem pode retirar de si mesmo, as idéias que puderem conceber, os conceitos religiosos forjados por eles mesmos.

Depois da afirmação da liberdade religiosa, eles reafirmam o princípio absolutamente revolucionário da Declaração dos Direitos do homem. É verdadeiramente um princípio satânico: "non serviam", “eu não quero servir”, não quero ser submisso à verdade. Mas se Deus nos impõem uma verdade, assim será. "Aquele que não crer será condenado". Que exista a tolerância religiosa pelo fato das pessoas enganarem-se, é admissível, mas o princípio da liberdade religiosa não existe e não pode existir.

Eu tinha que vos dizer isso, para que vejais bem, que Roma não mudou em nada. Não é uma acusação vazia, mas retirada dos relatórios oficiais da reunião de Veneza, que aconteceu recentemente: 1º de maio. O reitor da universidade de Latrão é a cabeça de toda a formação universitária da Igreja de Roma. São os representantes oficiais de Roma. E eis o que eles reafirmam. Nada mudou. Não podemos seguir pessoas como estas. São erros graves, profundos.

Aconteça o que acontecer, devemos continuar, e o bom Deus nos mostra que seguindo esta via nós cumprimos o nosso dever. Não negamos a Igreja Romana. Não negamos a sua existência, mas não podemos seguir suas diretivas. Não podemos seguir os princípios do pós-Concílio. Nós não podemos ligar-nos a eles.

Só existe uma Igreja,... a Igreja conciliar!

Percebo a vontade de Roma de nos impor suas idéias e suas maneiras de ver. O Cardeal Ratzinger sempre me diz: "Mas Excelência, existe apenas uma Igreja, não se deve fazer uma Igreja paralela". Qual é esta Igreja, para ele? A Igreja conciliar, é evidente. Quando ele nos disse explicitamente: "Evidentemente, se lhe damos, neste protocolo, alguns privilégios, o senhor deve, também, aceitar o que fazemos; e conseqüentemente, na Igreja São Nicolas-du-Chardonnet deve-se celebrar uma Missa Nova todos os domingos", vós bem vedes que eles querem nos arrastar para a Igreja conciliar. Isso não é possível, pois, é claro que eles querem nos impor essas novidades para acabar com a Tradição. Eles não concederão nada por estima pela liturgia tradicional, mas, simplesmente, para enganar aqueles a quem eles o oferecem e para diminuir nossa resistência, encontrar uma brecha no bloco tradicional para destruí-lo. É a política deles, sua tática consciente. Eles não se enganam, e vós conheceis a pressão que eles fazem. Entre vós, alguns já foram pressionados pelo Bispo ou por outrem para deixardes a Tradição. Eles fazem esforços consideráveis em todos os lugares.

As irmãs de Saint-Pré foram visitadas pelo Pe. Philippe que tentou doutriná-las. Mas vos asseguro que ele não foi recebido de braços abertos. O Bispo de Carcassonne ofereceu amizade e compreensão para com as irmãs de Fanjeaux e ao nosso Pe. Pozzera. E o bispo também foi devidamente convidado a se retirar. Mas eles continuam. Eles voltarão. O Pe. Innocent-Marie telefonou-me recentemente e me disse que ele estava sendo vítima de pressões do Bispo de Angers. Agora eles não cessarão de tentar nos capturar. É verdadeiramente incrível essa guerra movida contra a Tradição. [...]

Penso que se deve evitar tudo aquilo que puder manifestar, por meio de expressões muito duras, nossa desaprovação àqueles que nos deixam. Não devemos enchê-los de epítetos que podem ser vistos como injuriosos. Isso de nada nos serve, pelo contrário. Pessoalmente, sempre tive essa atitude para com aqueles que nos deixam - e Deus sabe quantas vezes isso aconteceu durante a história da Fraternidade; a história da Fraternidade é quase que a história das separações - Sempre tive como princípio: não mais ter relações, acabou. Eles nos deixaram, eles irão a outros pastores, a outros rebanhos: nenhuma relação mais. Tanto aqueles que partiram como "sedevacantistas" quanto aqueles que nos deixaram por não sermos suficientemente papistas, todos tentaram engolfar-nos em uma polêmica. Eu nunca respondi uma palavra. Rezo por eles, é tudo. [...]


Não Morro entro na Vida.
Santa Teresinha.

Obrigado por tudo Monsenhor.

 REZEM TODOS OS DIAS O SANTO ROSÁRIO,

façam penitência.

 

terça-feira, 17 de março de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLVI (656) – (8 de fevereiro de 2020):





PAPA INDISPENSÁVEL - II



Tradicionalistas, a Tradição não dá esperanças,
De sua união sob um Papa sem verdade.

Foi à infidelidade da Autoridade Católica à Verdade Católica no Concílio Vaticano Segundo que estes “Comentários” na semana passada (DCLV, 1º de fevereiro) atribuíram a crise sem precedentes da Igreja Católica, que já dura mais de 50 anos. A conclusão lógica foi que a crise só chegará ao fim quando a Autoridade Católica retornar à Verdade, porque esta não muda, e, portanto, não pode mover-se para voltar a unir-se ao Papa e aos Bispos que se supõe que a defendam. Além disso, declarou-se que o Papa deve restaurar os Bispos, e que somente Deus Todo-Poderoso pode restaurar o Papa, e que Deus porá este novamente de pé somente "quando tivermos aprendido a lição". Porque se Deus nos tirasse muito cedo da lama, nós, seres humanos maus, nos beneficiaríamos somente para voltarmos a cair. Deus não pode permitir-se ser muito generoso com nossa perversa geração. Então, que lição, ou lições, precisamos que nos ensinem?

Entre outras, que o mundo não pode prescindir de uma Igreja sã, e a Igreja, para ser sã, deve ter um Papa são, e o Papa são deve ser obedecido. Por exemplo, quando o Vaticano II chegou ao fim, no final de 1965, os clérigos estavam em plena apostasia. Ainda assim, Deus deu à humanidade outra chance. Diante de Paulo VI, havia a questão premente de meios artificiais de controle de natalidade, ou seja, de contracepção. As condições nas cidades modernas estavam convencendo uma multidão de Bispos, sacerdotes e leigos católicos de que se tinha de relaxar a estrita e antiga condenação da Igreja, de que a cidade moderna estava certa, e que o governo imutável da Igreja, ou seja, Deus, estava equivocado. Paulo VI também queria tornar a regra mais fácil.

No entanto, quando a comissão de especialistas que ele havia designado para estudar a questão apresentou seu relatório, ele mesmo viu que a regra não podia ser relaxada. Seus últimos argumentos para manter a regra não têm a força dos antigos argumentos baseados na lei natural imutável, mas, ainda assim, Paulo VI defendeu a lei essencial em sua Encíclica “Humanae Vitae” de 1968. Mas quando ele a publicou, todo o inferno prontamente foi solto na Igreja. E, em 1969, ele impôs a toda a Igreja a missa do Novus Ordo. Seria vã a especulação de que se os Bispos e sacerdotes tivessem obedecido ao Papa, em vez de rejeitar a lei imutável de Deus, Deus poderia tê-los poupado da missa nova? Ao desobedecerem o Papa quando ele estava sendo fiel à lei de Deus, todos eles contribuíram para a ruptura da Autoridade na Igreja. Todas as apostas foram canceladas, e o caos tomou conta da Igreja.

Eis aqui um exemplo clássico de que a Verdade precisa da Autoridade, de que o mundo precisa da Igreja e de que a Igreja precisa do Papa. Especialmente nas cidades grandes de hoje, os homens não conseguem ver o que há de errado com a contracepção; pelo contrário, parece ser mero senso comum. Assim, se não há uma autoridade divina que proíba a contracepção, nada nem ninguém mais poderá resistir às paixões humanas que a impulsionam. Dessa maneira, o Vaticano II (Gaudium et Spes n. 48) sugeriu que, no ato do matrimônio, a recreação vem antes da procriação, e abriu as comportas para o divórcio, o adultério, o aborto antes do nascimento, e então o chamado aborto pós-parto, a eutanásia, a homossexualismo, a mudança de gênero e para horrores ainda desconhecidos, mas todos implícitos na ruptura da subordinação da recreação à procriação. A Santa Madre Igreja sempre soube que destroçar o ato do matrimônio é destroçar sucessivamente o próprio matrimônio, a pessoa individual, a família, a sociedade, a nação e o mundo. Esse é o caos onde estamos hoje. Essa é a necessidade da autoridade.

E a Autoridade mais importante é a da Igreja, para impor às mentes errôneas dos homens a Verdade infalível de Deus, e sobre suas vontades rebeldes a Lei eterna de Deus, para que possam chegar ao Seu Céu e evitar o seu Inferno. E para incorporar essa Autoridade e projetá-la diante dos homens, o Deus Encarnado instituiu Sua Igreja Católica Única como uma monarquia cujo único governante é o Papa Romano, que é o único que tem a missão e a graça de governar e manter unidos, na Verdade Católica, todos os membros da Igreja. Segue-se disto que, quando ele abandona a Verdade – como no Vaticano II –, as ovelhas são necessariamente dispersas, porque ninguém mais do que o Papa tem de Deus a missão ou a graça de uni-las (cf. Lc. XXII, 32).


Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.

domingo, 15 de março de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLV (655) – (1 de fevereiro de 2020):

PAPA INDISPENSÁVEL - I


Por mais que as ovelhas estejam largadas,
Ninguém, a não ser o Papa, pode unir a Igreja.


À medida que passam os anos, um após o outro, sem que a situação insana da Igreja pareça melhorar, católicos que seguem a Tradição continuam perguntando-se: por que ao menos os nossos sacerdotes tradicionais não se reúnem e param de brigar entre si? Todos eles acreditam na mesma Tradição da Igreja, todos concordam que o Concílio Vaticano II foi um desastre para a Igreja. Todos sabem que a briga entre os sacerdotes não é edificante, e é desanimadora para os seguidores da Tradição. Por que, então, eles não podem esquecer suas diferenças e concentrar-se no que os une, isto é, no que a Igreja ensina e faz, e sempre ensinou e fez, para salvar almas? Esta pergunta tem uma resposta, e para ajudar os católicos a perseverarem na Fé, pode ser necessário recordá-los dela em intervalos regulares.

Assumindo sempre que esta crise da Igreja não é nada normal na história da Igreja, mas é parte integrante do primeiro e único percurso que leva ao primeiro e único fim do mundo, se há nestes "Comentários" um par de palavras frequentemente escolhidas para precisar a estrutura dessa crise, este par é "Verdade" e "Autoridade". A crise tem suas origens em um momento muito anterior ao do Vaticano II, na “Reforma” deslanchada por Lutero (1483-1546); mas enquanto até o Vaticano II a Igreja Católica lutava para manter o veneno protestante fora dela, no Vaticano II a mais alta Autoridade Católica, dois Papas e 2.000 Bispos, desistiu da luta e deixou o veneno entrar. Isso significa que os textos do Concílio se caracterizam por sua ambiguidade, porque as aparências católicas tinham de ser mantidas, mas por baixo das aparências o verdadeiro impulso dos textos, o "espírito do Concílio", vai na direção da assimilação do liberalismo e do modernismo que se seguiram ao protestantismo, que esvaziará qualquer catolicismo remanescente tão logo seja permitido.

Isso significa que, no Concílio, a Autoridade Católica abandonou essencialmente a Verdade Católica para adotar uma doutrina mais afinada com os tempos modernos. E posto que a Autoridade Católica e a Verdade Católica agora se separaram, os católicos, para permanecerem católicos, tiveram – e ainda têm – de fazer uma escolha terrível: ou se apegam às autoridades da Igreja desde o Papa para baixo e abandonam a doutrina católica, ou se apegam à doutrina e abandonam a Autoridade Católica, ou escolhem um dos muitos compromissos possíveis em qualquer lugar entre os dois polos. De qualquer forma, as ovelhas estão dispersas, praticamente sem ter culpa quando se compara com a culpa dos dois Pastores maiores e dos 2.000 pastores menores que foram responsáveis pela Autoridade da Igreja ter traído a Verdade da Igreja no Concílio. Nesta divisão entre Verdade e Autoridade está o coração da crise atual que já dura meio século.

E como a Verdade é vital para a única religião verdadeira do único Deus verdadeiro, e Sua própria Autoridade é essencial para a proteção dessa única Verdade de todos os efeitos nos homens do pecado original, então a única solução possível para a crise que porá fim à esquizofrenia e à dispersão das ovelhas é o Pastor e os pastores, Papa e  Bispos, retornarem à Verdade Católica. Certamente isso ainda não está acontecendo na Igreja ou na Fraternidade de São Pio X, que ainda está – segundo todas as aparências – lutando para voltar a ficar sob a autoridade dos clérigos conciliares. (E o Arcebispo Lefebvre? "Ele está morto", dirão alguns!).

Portanto, até Deus Todo-Poderoso – ninguém mais pode fazê-lo! – colocar o Papa de pé novamente, e até que o Papa, por sua vez, “uma vez convertido, confirme seus irmãos” (Lx.XXII, 32), em outras palavras, endireite os Bispos de todo o mundo, até que isso aconteça essa crise só pode piorar, até que tenhamos aprendido a lição e Deus tenha misericórdia de nós. Até então, como diz o provérbio inglês: "O que não se pode curar, se deve suportar".
                                                                                                                                
         Kyrie eleison.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.

sábado, 14 de março de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCLIV (654) - (25 de janeiro de 2020)

“... EM TENTAÇÃO ...”?


Deus, testai-me, castigai-me ou humilhai-me,
Mas que cair em pecado não seja meu destino.

Um leitor fez uma pergunta clássica sobre o Pai Nosso, onde diz: "E não nos deixes cair em tentação", que em latim é “Et ne nos inducas in tentationem”. A tentação frequentemente leva ao pecado, que é certamente um mal. Como pode o Deus infinitamente bom induzir-nos a um mal? No entanto, se rezamos para Ele pedindo para que não nos induza ao mal, é lógico que Ele pode fazê-lo. Mas como é possível? Pois “E não nos induzas à tentação” é a tradução literal do texto em latim e do texto original em grego – “μη εισενεγκης ημ ας εις πειρασμον” –, e a Igreja ensina que o texto original em grego foi inspirado pelo próprio Deus. Como o próprio Deus pode declarar que pode induzir-nos à tentação? É necessário, assim, que se estabeleçam quatro verdades.

1 Em primeiro lugar, Deus pode querer um mal físico, como, por exemplo, uma doença, para castigar os seres humanos moralmente maus, mas é absolutamente impossível que Deus queira um mal moral, porque isso é pecado, e não é possível que Deus peque, porque Ele é a própria Bondade, porque Ele é o próprio Ser. Pois, se algo existe, então tem de existir uma Primeira Causa, e essa Primeira Causa não pode ter limites finitos estabelecidos para o seu Ser por nenhuma causa anterior ao Seu Primeiro Ser, sendo, portanto, um Ser Infinito. Ora, onde há ser, há bondade, e vice-versa; de fato, os dois são intercambiáveis ​​– o mal é sempre a falta, em um ser, de algo devido a ele; por exemplo, a cegueira não é um mal em uma pedra, mas é um mal em um animal que normalmente tem visão. Portanto, o Ser Infinito é infinitamente bom, ou a Bondade Infinita, incapaz de querer ou de causar diretamente o mal moral. Poucas coisas são mais absolutamente certas do que isso.

2 No entanto, Deus pode permitir o mal moral, porque Ele pode tirar, e sempre tira, dele um bem maior. Nós, seres humanos, não podemos de forma nenhuma ver sempre em que consiste esse bem maior, mas no Juízo Geral, no mais tardar, todos nós veremos claramente a Sabedoria suprema de cada mal moral que Ele permitiu. Eis uma comparação útil: na parte de baixo de um tapete tecido, eu posso apenas adivinhar a beleza do padrão na parte de cima do tapete. Mas essa beleza existe, e sem ela eu não estaria vendo na parte de baixo, o que me permite pelo menos adivinhar a beleza que não é visível dessa mesma parte de baixo.

3 Objeção: mas Deus ainda está agindo para permitir o mal moral, e. g., a tentação de pecar. Por exemplo, em vários versículos de Êxodo VII-XIII, as Escrituras dizem que Deus "endureceu o coração do Faraó", para que ele pecasse contra os israelitas. Solução: não, pois sempre que Deus permite um mal moral, Ele não está cometendo nenhum ato positivo, mas simplesmente se abstendo de conceder a graça ou ajuda com a qual o pecador não teria pecado. Mas ao optar por permitir que o Faraó pecasse, ele estava positivamente induzindo o Faraó à tentação e ao pecado. Não, porque as Escrituras dizem: “Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes, fará que tireis ainda vantagens da mesma tentação, para a poderdes suportar” (I Cor. X, 13). Portanto, os pecadores sob a tentação recebem de Deus toda a graça de que precisam para não pecar, desde que eles mesmos queiram não pecar. Se caem na tentação, a culpa é deles mesmos.

4 Mas sempre que os pecadores caem na tentação, Deus previu que eles o fariam. Por que, então, Ele os induziu a ela, permitindo-a e abstendo-se de dar a graça necessária para que não caíssem nela? Negativamente, porque se os pecadores caem na tentação, a culpa é somente deles mesmos. Positivamente, Santo Inácio, em seus Exercícios Espirituais (n. 322), apresenta três razões positivas pelas quais Deus pode permitir a desolação espiritual de uma alma, e as mesmas razões se aplicam à tentação espiritual: Deus pode fazer bom uso da tentação moral para castigar-nos ou para provar-nos, ou para ensinar-nos. Ele pode castigar-nos com a tentação seguinte pelo último pecado que cometemos. Então, ao pôr-nos à prova por uma tentação, Ele possibilita que obtenhamos grandes méritos, desde que resistamos e não caiamos. Padre Pio disse: “Se as almas soubessem o quanto podem merecer resistindo às tentações, pediriam positivamente para serem tentadas”. E, finalmente, Deus pode ensinar-nos o quão verdadeiramente dependentes somos de Sua ajuda por uma tentação que nos mostra quão humildes e fracos somos sem a Sua ajuda.

Concluindo, há tanto bem para nós, pecadores, que Deus pode tirar ao permitir que sejamos tentados, que nem sequer somos obrigados a pedir para não sermos tentados, mas antes devemos pedir pela graça de não cairmos quando estamos sendo tentados. Senhor, que o fogo me aqueça, mas nunca me queime. Que pela tentação eu tenha méritos, mas não caia jamais.

Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.