São Pedro
nasceu em 1499, na cidade espanhola de Alcântara, Extremadura, que fica
perto dafronteira com Portugal, recebendo o nome de Juan de Sanabria
Garcia Garavito. Seu pai, Pedro Garavito, jurisconsulto ilustre, exercia
o cargo de governador de Alcântara. Suamãe, Maria Vilela de Sanabria,
filha de Juan de Sanabria e de Urraca González Maldonado, é, pois, descendente de uma grande família espanhola, e não ficava aquém das virtudes e raras qualidades do marido. Pedro Garavito falece em 1506 e dona Maria contrai segundas núpcias, casando-se com o também viúvo Alonso Barrantes, em 1508.
Pedro teve quatro irmãos: dois do primeiro e dois do segundo casamento de sua mãe (García
e María; Pedro e Francisco).Juan (Pedro) desde cedo gostava de rezar
secretamente no oratório da casa. Após um curso de gramática e filosofia
em sua cidade natal, entra, aos quatorze anos, para a célebre
Universidade de Salamanca, onde se aplicou aos estudos, à oração,
penitências e progrediu rapidamente nos estudos universitários
e na ciência dos Santos. Nas horas vagas, dedicava-se aos pobres
doentes que o estimavam muito por sua caridade tão fraterna.
Entusiasmou-se pela vida dos franciscanos porque lhe pareciam gente
muito desprendida do material e muito dedicada ao espiritual. Pediu para
ser admitido como franciscano e elegeu o convento onde estavam os
religiosos mais rigorosos dessa comunidade.
No
noviciado, colocaram-no na posição de porteiro, hortelão, varredor e
cozinheiro. Nesta última posição sofria freqüentes acidentes, por ser
muito distraído. Toma o hábito em 1515 e muda o nome para Pedro.
Em
1524, com 25 anos de idade, foi ordenado sacerdote e, pouco depois,
designado pregador. Tornouse modelo de perfeição monástica e ocupou
altos cargos, os quais administrou até chegar a superior do convento e
mais tarde, provincial da Ordem. Como provincial, visitou todos os
conventos da sua jurisdição, promovendo uma reforma de acordo com a
regra primeira de São Francisco, da qual era testemunho vivo. Conhecido,
sem desejar, em toda a Europa, foi conselheiro do imperador Carlos V e
do rei João III, além de diretor espiritual de Santa Teresa D'Avila.
Amável
e compreensível para com o próximo, era intransigente e extremamente
severo para consigo mesmo. Franciscano de espírito e por convicção,
outras coisas não possuía a não ser um hábito surrado, um breviário, um
crucifixo tosco e um bastão. Não usava calçado, nem chapéu. Jejuava a
cada três dias, alimentando-se unicamente de um pouco de pão, água e
legumes temperados com cinza, para não sentir nenhum prazer no alimento.
Mortificou-se tanto com a comida e a bebida, que perdeu o paladar e,
assim, todos os alimentos lhe pareciam iguais. Quando lhe chegavam os
êxtases e dias de oração mais profunda, seus sentidos não se davam conta
do que sucedia ao seu redor e, então, ele passava até uma semana sem
comer nada.
Passava
horas e horas de joelhos e, quando o cansaço lhe chegava, apoiava a
cabeça em um prego na parede e, assim, dormia alguns minutos.
Normalmente dormia apenas duas horas por noite e, ainda assim, sentado
numa cadeira, em pé ou encostado na parede. Costumava passar noites
inteiras sem dormir um minuto, rezando e meditando. Para suportar o
inverno, tirava o manto e abria a janela e a porta de seu quarto para
que, ao colocar novamente o manto e fechá-las, seu corpo se contentasse
com um pouquinho de calor. Com o tempo, foi diminuindo essas terríveis
mortificações, pois percebeu que
lhe arruinavam a saúde. O amor de Deus lhe preenchia tanto a alma que,
quando lhe trespassava o peito, tinha que abandonar a sua cela para sair
e refrescar-se ao ar livre. Era-lhe muito difícil orar ou celebrar a
Santa Missa sem sair de si mesmo e até levantar-se ao ar, muitas vezes.
Freqüentemente o Espírito o invadia e, então, dava grandes gritos e
corria a fechar-se em sua cela, como aquele dia em que, instruindo seus
irmãos sobre o Evangelho, caiu gritando ‘Deus se fez carne’ e correu à
gruta que lhe servia de cela, onde passou três horas em êxtase. Ele
podia falar sobre o amor com toda propriedade, como o faz em seu
‘Tratado da Oração e da Contemplação’, joia de grande valor, ainda que
pequena em tamanho, que alimentou a grandes espíritos e mereceu os
elogios de São Francisco de Sales. Este foi o testamento espiritual
daquele severíssimo reformador de frades, um dos maiores promotores do
fervor religioso na Espanha de seu tempo.
O superior de certo número de casas religiosas, numa província da ordem.
O
trabalho no qual mais êxitos obtinha era o da pregação. Seus sermões,
tirados dos profetas e dos livros sapienciais, manifestavam a mais terna
simpatia humana. Tinha a graça de comover a seus ouvintes e muitas
vezes bastava sua presença para que muitos deixassem suas vidas cheias
de vícios e começassem uma vida mais virtuosa. Preferia sempre os
auditórios de gente pobre, pois lhe parecia que eram os que mais vontade
tinham de se converter. As pessoas diziam que, enquanto pregava,
parecia que estava vendo o invisível e escutando mensagens do céu.
Pregou na Espanha e em Portugal.
Pela
reforma da ordem franciscana, Pedro não só restabeleceu na família
monástica o espírito primitivo da pobreza, humildade e penitência, mas
concorreu grandemente para a renovação da fé entre o povo, na época em
que os protestantes começavam seu trabalho. A virtude e extraordinários
talentos de que era dotado, tornaram seu nome célebre e acatado em toda
a Espanha. Ainda em vida era chamado Frei Pedro, o Santo. De longe
vinham pessoas, com o fim de conhecer o humilde e amável franciscano, e dele
recebiam instrução, conselho e consolo. Nas viagens do missionário o
povo se acercava dele, para beijar-lhe a orla do hábito e pedir-lhe a
bênção.
Cidades
e municípios recorriam ao seu julgamento, para fazer cessar litígios.
Ao terminar cada missão, fazia erguer nas praças públicas ou
encruzilhadas, uma grande cruz para lembrar ao povo as verdades que
tinha ensinado.
Desejando
que os religiosos mais se mortificassem e dedicassem mais tempo à
oração e à meditação, fundou um novo ramo de franciscanos, chamados de
‘estrita observância’, ou ‘alcantarinos’. Em pouco tempo havia muitos
conventos dedicados a levar à santidade seus religiosos, por meio de uma
vida de grande penitência. Dizia a seus frades: ‘Se virdes pecar um
vosso irmão, não o ofendais e não o perturbeis, mas, cheios de
docilidade, falai-lhe ao coração e avisai-o, com amor, convindo que vós
sejais feitos do mesmo barro’.
Em
1560 Pedro de Alcântara encontra-se com Tereza D’Ávila, que
confideciou-lhe, muito angustiada, que algumas pessoas diziam-lhe que as
visões que tinha eram ilusões do demônio. Guiado por sua própria
experiência em matéria de visões, Pedro entendeu plenamente o caso dessa
jovem e lhe disse que suas visões vinham de Deus e falou em seu favor
com os sacerdotes que a dirigiam. Pedro muito ajudou Tereza D’Ávila
tendo sido seu amigo, seu confidente e tendo orientado-a nas
dificuldades e provações de sua vida espiritual. Trocou com ela inúmeras
cartas, nas quais animava-a e orientava-a em
seu trabalho. Sua última carta data de 14 de outubro de 1562, poucos
dias antes de sua morte. ‘Era um homem muito amável, mas só falava
quando lhe perguntavam algo e respondia com poucas palavras, mas valia a
pena ouví-lo, porque o que dizia fazia muito bem’, contava Tereza
D’Ávila.
Realizou
em sua Ordem uma reforma análoga àquela que João da Cruz e Teresa
D'Ávila fizeram entre os carmelitas. Rigorosíssimo no espírito de
pobreza e mortificação, deu vida nova à então decadente espiritualidade
franciscana. Todos os rigores que impunha a si e a todos os demais
frades estavam inspirados no testamento de São Francisco que, para
Pedro, era o pensamento definitivo do Fundador da Ordem. Sua vida foi
uma verdadeira interpretação hispânica do espírito do Poverello.
Franciscana era sua figura, envelhecida antes do tempo, caminhando por
vales e montanhas, para visitar os conventos
encomendados a seus cuidados, para exortá-los, sem desfalecimento, a
perseverar na pobreza total. Franciscana foi sua morte, rodeado de seus
irmãos, em uma vila esquecida, com palavras de exaltação à pobreza e à
oração. Seu corpo foi coberto das mais pobres vestes.
Em
19 de outubro de 1562, com 63 anos de idade, após sofrer muito, ardendo
em febre, recusou um copo de água que lhe ofereciam porque Jesus Cristo
também sofrera sede, e expirou. Era um domingo, pela manhã, dia de São
Lucas. Teresa D’Ávila teve uma visão de sua alma subindo ao Céu. Ele
morreu no convento Arenas, em Ávila, sendo sepultado na Igreja do
convento. Declarou Tereza D’Ávila, a respeito de Pedro de Alcântara,
após sua desencarnação: ‘Tenho-o visto muitas vezes com grandíssima
glória. Parece-me que muito mais me consola do que quando aqui estava’.
Tereza contou, ainda, que Pedro de Alcântara lhe apareceu depois de
morto e disse-lhe: ‘Felizes sofrimentos e penitências na terra, que me
conseguiram tão grandes prêmios no céu’.
Foi beatificado pelo Papa Gregório XV em 18 de abril de 1622 e canonizado em 28 de abril de 1669, pelo Papa Clemente IX.