quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DXLIV (544) (16 de dezembro de 2017)

 
 Traduzido por Cristoph Klug.

A cultura está morta quando Deus está “morto”.
A única esperança dela reside em Seu “renascimento”.

“Quando eu ouço a palavra ‘cultura’, vou buscar minha arma”, é uma famosa citação (muitas vezes atribuída a Reichsmarchall Göring, mas que vem na verdade de uma peça apresentada em Berlim no ano de 1933) que pode ser interpretada no sentido de que a cultura não é a fonte última dos valores que frequentemente se lhe atribuem. A palavra serve muitas vezes como uma folha de figueira que cubra a profunda apostasia do Ocidente com uma hipocrisia vergonhosa, mas de longa data, que pode tentar instintivamente alguns portadores de armas a dar-lhe fim violentamente. Um americano de nosso próprio tempo que percebe que a cultura depende da religião ou de sua ausência é Ron Austin, quem escreveu na edição de dezembro da Revista First Things um artigo sobre a cultura pop, argumentando que esta não é pop nem cultura.

Austin é um escritor e produtor veterano de Hollywood que passou quase meio século produzindo cultura pop, principalmente para a televisão. Ele é membro da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas, mas também membro da Escola Dominicana de Filosofia e Teologia em Berkeley, Califórnia, o que lhe dá pelo menos uma ideia da verdadeira dimensão da “cultura”. Por exemplo, no início de seu artigo, ele escreve: A chave para a compreensão da modernidade e de seu fracasso reside nos muitos esforços em vão para encontrar substitutos para a fé religiosa... Foi a mídia de massa que promoveu uma “cultura pop” que era a mais influente e poderosa substituta para uma visão de mundo significativa... A cultura pop, diz Austin, é um ídolo... como tal é um embuste... não é nem pop nem cultura.

Austin define o “pop” como sendo pertencente antes ao povo do que a uma elite qualquer. Admite que a cultura pop tem considerável apelo popular atualmente, mas diz que é de natureza sintética e industrial, que não deriva de um modo de vida natural ou orgânico, e por isso não é realmente popular. A “cultura” é difícil de definir, mas ela significa um modo de vida com valores compartilhados que tem os meios para expressá-la. A cultura, neste sentido, só pode crescer organicamente como uma árvore, com a velocidade natural que não pode ser forçada, e requer uma memória compartilhada com um sentido do passado, uma continuidade de significado, metas e padrões. Mas a “cultura pop” apaga o passado. Portanto, não é uma cultura verdadeira. A partir desta perspectiva, Austin recorda então as décadas de sua própria vida.

Nas de 50 e 60, ele lembra uma crescente alienação do passado pela qual a mídia de massa passou a desempenhar um papel crucial. Na década de 70 desabrochou uma contracultura de fragmentação e narcisismo, com mais entretenimento do que nunca, e com isso um crescente desapego da realidade. O meio em si estava tornando-se a mensagem, e a moralidade baseava-se na emoção subjetiva, que a mídia embalava como um produto com fins lucrativos. O entretenimento substituiu o pensamento e a análise. Na década de 80, a tentativa de restaurar valores passados falhou nos EUA, na Europa e na Rússia. Na década de 90, algumas falsas esperanças tiveram fim, mas a massa de consumidores estava mais fragmentada do que nunca. No entanto, na década de 2010 a Fé Católica dá a Austin alguma esperança. A verdadeira cultura depende de que os seres humanos sejam humanos, diz, e os humanos têm para si verdadeiros modelos: Nosso Senhor e Nossa Senhora. A verdadeira cultura será replantada, e a Luz retornará.

Austin está na pista do verdadeiro problema, mesmo que seu tratamento do problema e de sua solução seja relativamente raso, pois todo o ambiente atual, ou cultura, é perigosíssimo para as almas e sua salvação. Tornou-se totalmente normal crer ou não crer em Deus, ou se alguém crê n’Ele, não levá-Lo a sério. O passado tem pouco a dizer-nos (exceto com relação aos “seis milhões”). A imoralidade não tem importância. Não há algo como o respeito à ordem e à natureza. A tecnologia salva. A liberdade é tudo. E esta doença é altamente contagiosa, porque é muito “libertadora” para nós. Que o Céu nos ajude!

Kyrie eleison.

P.S.: Como um recurso menor para a cultura de elite do passado, no sentido verdadeiro da palavra, realizar-se-á em Broadstairs, da sexta-feira 23 de fevereiro ao domingo dia 25 do próximo ano, uma sessão de Mozart paralela à “Explosão de Beethoven” de dois anos atrás. Fornecer-se-ão os detalhes em breve.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário