terça-feira, 10 de setembro de 2019

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCXXXIII (633) - (31 de agosto de 2019)





Deus nos dá liberdade, faculdade do livre-arbítrio,
Mas não o direito de escolher entre o bem e o mal.

Sob o risco de cansar os leitores com variações sobre o tema da Verdade, estes "Comentários" farão mais comentários sobre o resumo do livro Culture as religion; the post-modern interpretation of the relationship between culture and religion de Wojcieck Niemczewski, citado aqui na semana passada. Porque em verdade devemos salvar nossas almas, e um grave perigo no caminho para salvarmos nossas almas é o enceguecimento de nossa faculdade mais elevada, que é a nossa mente, sobre a qual se segue imediatamente a corrupção de nossos corações. E o perigo mais profundo para nossas mentes hoje em dia é a suposição universal de que as ideias não importam, que a verdade não é importante. Vejam como o Vaticano II preferiu a modernidade ao catolicismo fiel, especialmente no documento conciliar Gaudium et Spes, e depois como a Fraternidade Sacerdotal São Pio X preferiu os romanos conciliares ao seu fiel fundador, e, em cada caso, como a grande maioria dos sacerdotes e dos leigos seguiram a corrente.

Vamos começar colocando em ordem os pensamentos de Niemczewski, para ver de onde vem e para onde vai: 1 Não há um Deus objetivo, porque "Deus" é a fabricação subjetiva dentro de cada um de nós. 2 Portanto, as antigas “verdades” da religião e da filosofia de ontem não têm mais fundamento. 3 Além disso, elas não se encaixam mais no mundo real de hoje, que está mudando em todos os âmbitos, e mais rápido do que nunca. 4 Pior ainda, elas estão bloqueando o progresso moderno, ou a “cultura da escolha” que nos permite adaptar-nos às mudanças, e que garante a liberdade de cada um de nós para construir seu próprio modo de vida. 5 Para permanecer adaptável à modernidade, o homem pós-moderno deve aceitar essa “cultura da escolha” não universal e não obrigatória que não impõe ao homem nem normas nem nenhum ser superior a ele. 6 Como conclusão, a verdade deve dar lugar à liberdade, a religião à cultura, e a direção à deriva. 7 Abaixo a verdade; viva a "cultura da escolha"!

Infelizmente para o homem pós-moderno, existe uma realidade fora de sua mente, tão próxima a ele quanto seus próprios braços e pernas, e essa realidade extramental tem leis próprias, que não são de modo algum dependentes de sua mente. Por exemplo, se ele tiver dor de dente, terá que ir ao dentista e não ao peixeiro. E essas leis não são somente físicas, mas também morais. Por exemplo, se uma menina pobre realiza um aborto, ela não será capaz de desfazer-se de suas dores de consciência, por mais que ela o queira. O livre-arbítrio de cada um de nós, seres humanos, é inquestionavelmente livre – daí a possibilidade da “cultura da escolha” de Niemczewski –, mas essa cultura da escolha só pode funcionar dentro, e não fora, do contexto estruturado das leis da realidade extramental, físicas e morais. Assim, sou livre para escolher para toda a minha eternidade o Céu ou o Inferno, mas não sou livre para escolher romper seriamente a lei moral e ainda assim ir para o Céu.

Os antigos gregos, no seu apogeu, precederam a Encarnação de Nosso Senhor por séculos, de modo que não tinham nenhum benefício da graça sobrenatural ou iluminação. Mas, naturalmente, eles observaram – não inventaram – as graves e inevitáveis ​​consequências de os seres humanos terem se levantado contra a estrutura moral da vida humana, e deram a isso um nome: “húbris”, que hoje chamaríamos "orgulho". Assim, a apresentação de Niemczewski da "cultura da escolha" começa por negar a Deus e termina por desafiá-lo, mas, embora ela possa inclinar as mentes dos homens em favor de sua "cultura", é incapaz de modificar a Existência eterna e inefável de Deus, ou a necessidade eterna e absoluta da Verdade. Por exemplo, se se afirma que não existe algo como a verdade, então pelo menos esta opinião seria uma verdade. Portanto, ao negar todo ou qualquer dogma, ninguém é tão dogmático quanto os maçons, e, em seu enfraquecimento subjetivo de toda a doutrina, ninguém é tão doutrinário quanto os modernistas e os neomodernistas.

Em suma, um homem como Niemczewski se recusa a reconhecer que em torno da esfera de escolha da humanidade há um anel de realidade que não é da escolha do homem. Os clérigos do Vaticano II se recusam a reconhecer que o Depósito da Fé não pode ser modernizado. E os líderes da Neofraternidade Sacerdotal São Pio X recusam-se a reconhecer que os romanos conciliares são mercadores de fantasia. A "cultura da escolha" terminará custando caro para todos eles. Pode custar-lhes a eternidade se não conseguirem recobrar seus sentidos católicos.

Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário.