Providencial encontro com São João Bosco
Dom
Bosco o viu na porta da igreja de sua cidade, durante uma quermesse, e
impressionado com a aparência do jovem seminarista, quis conversar com
ele. Propôs-se então a mostrar-lhe algum dos espetáculos da feira. E
narra deste modo o episódio:
“[José
Cafasso] fez-me um sinal para eu me aproximar, e começou a perguntar-me
minha idade, meus estudos; se havia já recebido a Primeira Comunhão;
com que freqüência me confessava; aonde ia ao catecismo, e coisas
semelhantes. Fiquei como encantado ante aquela maneira edificante de
falar; respondi com gosto a todas as suas perguntas; depois, quase como
para agradecer sua afabilidade, repeti meu oferecimento de acompanhá-lo a
visitar qualquer espetáculo ou novidade.
Quem
abraça o estado eclesiástico entrega-se ao Senhor, e nada de quanto
teve no mundo deve preocupá-lo, mas sim aquilo que pode servir para a
glória de Deus e proveito das almas”
José
Cafasso era ótimo estudante, e precisou pedir dispensa para ser
ordenado mais cedo do que o normal, aos 21 anos de idade, em setembro de
1933. Em vez de aceitar inúmeros convites de paróquias, quis aprofundar
seus estudos no Convicto (internato) eclesiástico São Francisco de
Assis, de Turim. Nessa espécie de academia eclesiástica ele passou
alguns anos de intensa formação intelectual e espiritual, sendo nomeado
professor da cátedra de moral. Trabalhou junto ao Cônego Guala, um dos
fundadores do estabelecimento e seu reitor. Seu programa era
santificar-se cada vez mais e auxiliar os outros para que também se
santificassem. Todos admiravam nele esse empenho para em tudo procurar a
maior glória de Deus e a santificação própria e dos outros.
Ao
morrer o Cônego Guala, José foi aclamado por unanimidade para
substituí-lo, e manteve esse cargo durante 12 anos, isto é, até sua
morte. Propôs-se como modelos São Francisco de Sales e São Felipe Néri.
Muitos diziam que, na jovialidade e uniformidade de espírito, ele muito
se assemelhava a esses santos.
Combate ao jansenismo e ao rigorismo
O
Padre Cafasso combateu tenazmente duas filosofias que haviam então
penetrado na Itália: uma defendia que só a pessoa muito santa deveria
aproximar-se dos sacramentos, principalmente da Eucaristia (jansenismo);
e outra se centrava mais na justiça de Deus, quase abstraindo de sua
misericórdia, sem procurar ver o equilíbrio existente entre esses dois
atributos divinos (rigorismo). O Papa Pio XI, por ocasião do decreto De
tuto para a beatificação de José Cafasso, assinado em 1º de novembro de
1924), afirmou: “Bem depressa logrou Cafasso sentar praça de mestre nas
fileiras do jovem clero, inflamado de caridade e radiante de saníssimas
idéias, disposto a opor aos males do tempo os oportunos remédios.
Contra o jansenismo, levantava um espírito de suave confiança na divina
bondade; frente ao rigorismo, colocava uma atitude de justa facilidade e
bondade paterna no exercício do ministério; desbancava por fim o
regalismo, com uma dignidade soberana e uma consciência respeitosa para
com as leis justas e as autoridades legítimas, sem claudicar jamais,
antes bem dominado e conduzido pela perfeita observância dos direitos de
Deus e das almas, pela devoção inviolável à Santa Sé e ao Pontífice
Supremo, e pelo amor filial à Santa Madre Igreja”.
Para
contrapor-se ao jansenismo e ao rigorismo, ele apresentava a Religião
sob seus mais belos aspectos, concebida como um exercício de amor a um
Deus de bondade e misericórdia, que padeceu e morreu para nos salvar.
Sem descuidar as verdades essenciais, ele punha o acento naquelas mais
belas e acessíveis ao comum dos cristãos, para que praticassem as
virtudes. Como se vê, utilizava a tática religiosa preconizada séculos
antes por Santo Inácio de Loyola, do adere contra, isto é, agir sempre
contra os erros e vícios da época.
Levava
seus alunos sacerdotes para visitar os cárceres e os bairros mais
pobres da cidade, a fim de despertar neles uma grande sensibilidade para
com os deserdados da fortuna.
São
João Bosco estava ainda no seminário e não podia prosseguir seus
estudos por falta de recursos, o Pe. Cafasso pagou-lhe meia bolsa e
obteve dos dirigentes do seminário facilitar-lhe a outra metade,
servindo o jovem seminarista como sacristão, remendão e barbeiro. E
quando ele se ordenou, custeou-lhe o curso no Convicto para sua
pós-graduação.
Depois
ajudou-o em seu apostolado com os meninos, e, mesmo quando todos
abandonaram Dom Bosco, continuou seu acérrimo defensor. Ajudou-o também
na recém-fundada Sociedade Salesiana, sendo considerado pelos salesianos
um dos seus maiores benfeitores.
Turim
era a capital do Reino da Sabóia e uma cidade em grande
desenvolvimento, atraindo toda espécie de aventureiros. Em conseqüência,
os cárceres estavam cheios de criminosos de toda ordem, abandonados por
todos. Esse foi um dos campos de apostolado preferido por Dom Cafasso.
Ele entregava aos prisioneiros roupa, comida, material de asseio e
outras coisas. Ia visitá-los, e com paciência e doçura acabava fazendo
com que muitos se confessassem e começassem a levar uma vida mais
decente. Sua visita semanal era esperada com sofreguidão por aqueles
párias da sociedade. Muito diferente dos que hoje pregam os “direitos
humanos” dos bandidos, que não buscam a conversão dos mesmos, mas apenas
proporcionar-lhes regalias humanas, mantendo-os na mentalidade
criminosa.
O
maior e mais heróico apostolado exercido por José Cafasso era com os
condenados à morte. Quando um criminoso recebia a sentença de morte, o
sacerdote preparava-o nos dias que a antecediam, para converter-se e
confessar-se, e depois o acompanhava até o lugar do suplício,
incutindo-lhe religiosos sentimentos. De 68 condenados que ele
acompanhou assim até o derradeiro suplício, nenhum morreu sem
confessar-se e mostrar-se verdadeiramente arrependido.
Quando
o criminoso ouvia a pena de morte, geralmente exclamava: “Que o Padre
Cafasso esteja a meu lado na hora da morte, é o meu último desejo”.
Chamavam-no mesmo de outras cidades, para esse benemérito apostolado.
Hoje em dia, onde estão os criminosos que pedem assistência espiritual e
os bons sacerdotes que queiram dá-la? Como decaímos!
Certo
dia o Pe. Cafasso levou Dom Bosco, ainda jovem sacerdote, em uma dessas
visitas. Este, só ao ver a forca, caiu desmaiado... O que mostra o
domínio que Dom Cafasso deveria ter sobre si mesmo para familiarizar-se
com tão difícil apostolado. Mas então tratava-se de salvar uma alma no
último momento, e isso bastava para dar-lhe forças.
Um
dom que José Cafasso recebeu em alto grau foi o da prudência. À sua
porta batiam desde altos eclesiásticos até gente miúda do povinho, à
procura de um conselho para resolver situações delicadas. E ele sempre
tinha a palavra exata, o conselho certo, a solução definitiva.
Outras
qualidades que nele sobressaíam de maneira especial eram sua
tranqüilidade imutável e exemplar paciência. No rosto, tinha sempre um
sorriso amável para atender as pessoas. Como ele era muito baixo,
diziam: “É pequeno de corpo, mas um gigante no espírito”.
A
devoção do Padre Cafasso à Santíssima Virgem era fora do comum. Ele a
nutria desde pequeno e falava d’Ela com entusiasmo. Dedicava os sábados
em sua honra, e não havia o que se lhe pedisse num desses dias ou em
alguma festa de Nossa Senhora, que ele não atendesse.
Ele
dizia constantemente que tinha três amores: a Jesus Sacramentado, à
Santíssima Virgem e ao Papa. Esta afirmação era tanto mais importante
numa época em que o Papa estava sendo despojado dos Estados Pontifícios.
Num
de seus sermões sobre Nossa Senhora, Dom José Cafasso exclamou
arrebatado: “Que feliz dita a de morrer num sábado, dia da Virgem, para
ser levado por Ela ao Céu!”. Realmente, essa foi a graça que ele obteve,
falecendo no sábado, 23 de junho de 1860, aos 49 anos de idade.
José Cafasso foi beatificado por Pio XI em 3 de maio de 1925, e canonizado por Pio XII em 22 de junho de 1947.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias Santo o Rosário