79 SEMINARISTAS – I
Que Deus abençoe os jovens que nos dias de hoje buscam a vontade de Deus.
Mas, as estruturas os ensinarão? Temos de rezar.
Uma boa notícia para o que se pode chamar Neofraternidade Sacerdotal São Pio X é que este ano teve em seus quatro seminários principais, tomados em conjunto, uma entrada recorde de 79 jovens que se mobilizaram para experimentar suas vocações para o sacerdócio católico tradicional: Flavigny (Écône), França, 21; Zaitzkofen, Alemanha, 21; Dillwyn, EUA, 28; e La Reja, América Latina, 9. No mundo antitradicional de hoje, isso é uma proeza admirável, e embora alguns desses candidatos certamente não haverão de perseverar até o sacerdócio, representa uma séria esperança de muitos deles estarem disponibilizando sacramentos católicos daqui a, digamos, seis anos.
Em contraste, o único seminário clássico do que se pode chamar o movimento “Resistência” em Morannes, na França, tem apenas um ou dois jovens que entram este ano para experimentar a sua vocação. Pelo menos um leitor destes “Comentários” se pergunta se a “Resistência”, desde o momento em que começou, não deveria ter-se estruturado com uma Congregação e um seminário organizados – como o foi com a Fraternidade do Arcebispo Lefebvre – para recolher e reunir refugiados e dissidentes daquela FSSPX original, em vez de deixá-los simplesmente desaparecer na obscuridade independente. O mesmo leitor concede que a substância ou o conteúdo da Neofraternidade já não é o que era sob o Arcebispo, mas atribui esse declínio mais a uma falta de liderança do que a uma manutenção da estrutura e da organização, de modo que se tão somente a “Resistência” não tivesse tendido a desistir da estrutura, poderia ter tido mais sucesso do que, por assim dizer, um ou dois para 79.
A questão é séria, e existe desde o início da “Resistência”, porque Nosso Senhor instituiu a Igreja Católica como a monarquia de um Papa (Pedro) com Apóstolos (Bispos) e Discípulos (Padres), e leigos organizados hierarquicamente abaixo dele, tendo cada membro dessa hierarquia um Superior legítimo ou Superiores legítimos, inclusive o Papa, que responde a Deus pela forma como governa a todos os católicos abaixo de si. Esta estrutura já é clara no Novo Testamento desde o início da Igreja, e depende da obediência de todos os católicos aos seus respectivos Superiores para que a Igreja se mantenha unida, e para salvar almas para a eternidade, mantendo intactas a verdade e a moral católicas. Ademais, pela Sua própria morte atroz na Cruz, Nosso Senhor deu aos católicos o exemplo sublime da obediência de que precisariam como Seus seguidores para fazer a vontade do Pai no céu.
No entanto, essa obediência e a estrutura da Igreja que a acompanha não é um fim em si mesma. Seu fim ou propósito final é a salvação das almas para a glória de Deus. Assim, o último cânon do Código de Direito Canônico da Igreja afirma que “A lei suprema é a salvação das almas”. Mas as almas não podem salvar-se se a menos que agradem a Deus, e não podem agradar a Deus sem fé (Hebreus XI, 6). Portanto, um propósito primordial da Autoridade da Igreja é proteger a Verdade Católica entre os homens contra a devastação que lhe será causada pelos seus pecados originais e pessoais. Em outras palavras, a Verdade Católica é o propósito e a substância da Autoridade Católica, e não o contrário. Assim, em Sua Paixão, Nosso Senhor diz a Pedro que Satanás o colocará à prova, mas Nosso Senhor estará a rezar para que a sua “fé não desfaleça”, e uma vez que o próprio Pedro “se tenha convertido novamente” (entenda-se, de sua tripla negação da Verdade), então que utilize sua Autoridade para “fortalecer os seus irmãos”, ou seja, os outros Apóstolos. A Verdade é a base da Autoridade de Pedro (Lc. XXII, 31).
Mas o coração e a alma da atual crise da Igreja, sem precedentes em toda a história da Igreja, é que o Vaticano II (1962 a 1965) separou a Autoridade Católica da Verdade Católica. A partir de então, contando para trás seis Papas sucessivos, a hierarquia católica abandonou a Tradição Católica, forçando todos os católicos que acreditam tanto na Verdade quanto na Autoridade a se tornarem mais ou menos esquizofrênicos. Se o Arcebispo Lefebvre não tivesse aberto o caminho do regresso à Tradição, ou seja, à Verdade, nunca existiriam essas 79 vocações. Mas será que, na Neofraternidade, será ensinada a sua maior lição? Leia estes “Comentários” na próxima semana.
Kyrie eleison.