Sermão
proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto
possível, conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.
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PAX
IX Domingo depois de Pentecostes 2011
PAX
IX Domingo depois de Pentecostes 2011
Algumas pessoas podem ficar
assustadas com os avisos que colocamos na entrada da capela. Por que
tantas exigências? Por que tantos avisos?
A resposta a estas perguntas está no
Evangelho de hoje. “Minha casa é uma casa de oração”, diz Nosso Senhor. E
chorando sobre Jerusalém, Nosso Senhor diz: “Tu não conhecestes o tempo
de tua visita”. “Agora está encoberta aos teus olhos”. E o que está
encoberto a nossos olhos quando entramos na igreja?
O que está encoberto é a majestade
divina, é esta presença divina que Jerusalém não souber ver quando Nosso
Senhor aí estava. É essa majestade que nós devemos honrar com o corpo e
a alma. E esta honra prestada à majestade divina tem um nome, e este
nome é reverência.
A reverência tem sua fonte, sua raiz, no
conhecimento de Deus. Ao conhecer as perfeições divinas, por pouco que
seja; ao meditar sobre a grandeza de Deus, por pouco que seja, a alma
compreende que ela deve a Deus uma honra e uma glória que se traduzem
pela reverência. A liturgia romana está toda ela impregnada de
reverência. As incensações do altar, dos coros, dos fiéis, e, sobretudo,
do Santíssimo Sacramento, tudo isto nos introduz numa atmosfera de
reverência, fundada sobre a fé.
A fé nos revela que o sacrifício da
missa é a renovação do sacrifício do Calvário, que Nosso Senhor está
ali, imolado como na Sexta-Feira Santa. Assim, a alma cheia de
reverência para com o seu Deus e Salvador se ajoelha e adora.
Ora, esta reverência, cheia de amor e de
confiança, é por sua vez o fundamento da humildade. Santo Tomás de
Aquino nos ensina que “humilitas causatur ex reverentia divina” – “a
humildade é causada pela reverência para com Deus”. Ela é atribuída,
aperfeiçoada pelo dom do temor pelo qual o homem reverencia a Deus.
A regra de São Bento, em perfeita
concordância com a Santa Liturgia, nos ensina esta virtude tão
fundamental que é a reverência, fonte e raiz da humildade. A regra de
São Bento nos faz externar esta reverência de diversas maneiras, com as
inclinações, com o canto, com as cerimônias, com todo um conjunto de
atitudes impregnadas pela virtude da religião que nos faz honrar a Deus
com reverência e humildade.
Eis o que faltou aos fariseus e aos
vendilhões do Templo. Faltou-lhes a humildade. Se eles tivessem sido
humildes, teriam conhecido a verdade sobre Nosso Senhor Jesus Cristo.
A humildade é a companheira inseparável da Verdade.
Os fariseus, e Jerusalém com eles, não
conheceram o dia da visita de Nosso Senhor. Por isso Nosso Senhor chora
sobre esta cidade. Que queriam eles do Messias? Queriam progresso,
independência, força política, prestígio para Israel. E o que lhes
trazia Nosso Senhor? O anúncio da vida eterna, o conhecimento de Deus, o
amor dos inimigos, a perfeição da caridade. Isto lhes pareceu pouca
coisa em comparação com o que eles esperavam. Por esta razão eles
ficaram cegos.
A cegueira espiritual é o pior dos
castigos de Deus que retira a Sua luz àqueles que abusaram da Sua graça.
Nosso Senhor fizera milagres sobre milagres. Nosso Senhor cumprira
todas as Escrituras. Nosso Senhor ressuscitara Lázaro e os fariseus não
queriam crer n’Ele. Então o que faz Nosso Senhor?
Ele chora e diz: “Virão dias em que teus
inimigos te sitiarão, te apertarão e te prostrarão por terra, tu e teus
filhos, que estão dentro de ti, e não deixarão pedra sobre pedra,
porque não conhecestes o tempo de tua visita”.
Tenhamos cuidado, irmãos. Deus nos
visitou através de Dom Lefebvre. Deus nos visita através de São Bento.
Deus nos visita, pessoalmente, pela missa e pela sua presença real na
Santa Eucaristia. Reconheçamos a graça que nos é dada. Aproveitemos o
tempo que nos é oferecido, pois o inimigo não descansa.
Enquanto os apóstolos estavam no
Cenáculo, Judas corria pelas ruas atrás dos fariseus e já a tropa se
formava para prender Nosso Senhor. Não tenhamos ilusões. O mundo não
descansa, o inimigo não dorme.
Enquanto estamos aqui, na missa, outros
correm por caminhos opostos e preparam maiores desastres do que as
chuvas que se abateram sobre Friburgo no início deste ano.
Estejamos prontos para grandes combates,
pois se é verdade que o Imaculado Coração triunfará, é certo que só
triunfaremos se lutarmos com ele. Os combates de Nossa Senhora começaram
pela reverência e pela humildade: “Eis aqui a escrava do Senhor”.
Servos nós devemos ser, servos da Verdade, da Igreja, de Nosso Senhor.
É por isso que na porta de nossa capela
há estes avisos, humildes e desajeitados talvez, mas avisos que só
querem dizer uma coisa: “Este lugar é santo. Tire suas sandálias”, disse
Deus a Moisés, “porque este lugar é santo”.
A liturgia exprime admiravelmente esta
verdade no ofício da dedicação da Igreja ao dizer o quão terrível é este
lugar: verdadeiramente ele não é outro senão que a casa de Deus e a
porta do Céu.
Com reverência e confiança procuremos
entender o que a Santa Igreja quer de nós com estes avisos. Ela quer nos
educar. O que parece simples etiqueta é, na verdade, muito mais do que
isso. Na verdade, nós gostaríamos de dizer muito mais do que está ali
escrito, mas temos receio de que as almas não estejam preparadas e bem
dispostas.
Então dizemos o mínimo na esperança de
que o amor da Verdade fará as almas procurarem mais, e procurando mais
nos ajudem a refazer neste vale um pouco da civilização cristã que
floresceu neste mundo quando os países se regiam pela filosofia dos
Evangelhos; quando as famílias e as instituições humanas buscavam no
sacrifício da missa o princípio e a fonte deste verdadeiro espírito
católico que nós gostaríamos de ver reinar aqui.
Que a Virgem Maria, que é chamada de
porta do Céu, nos obtenha a docilidade aos conselhos da Santa Igreja
para que ao chegarmos no dia do juízo ela tome nossa defesa juntamente
com seu Filho dizendo: “Este honrou meu Filho diante dos homens. É justo
agora que meu Filho o honre na eternidade”. Esta é a graça que desejo a
todos por intercessão de Maria Santíssima. Assim seja.
Dom Tomás de Aquino O.S.B.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário