segunda-feira, 27 de maio de 2019

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCXVII (617) - (11 de maio de 2019):

BREXIT – II


Brexistas, vocês querem realmente ser abençoados?
Busquem primeiro o Reino de Deus. Ele acrescentará o resto.


Há um poema inglês do século XIX merecidamente famoso que lança muita luz sobre o enorme rebuliço que foi despertado pela tentativa do povo britânico de escapar das redes da União Europeia. "Dover Beach [A Praia de Dover]" foi escrito provavelmente em 1851 por Matthew Arnold (1822-1888), e apresenta em quatro versos irregulares sua profunda melancolia quando se encontra em pé na beira do Canal da Mancha escutando o ritmo incessante das ondas na praia em frente a casa onde se encontra para passar a noite com sua amada, presumivelmente sua legítima esposa.

O primeiro verso é uma bela descrição do litoral iluminado pela lua e das ondas, que conclui com a “eterna nota de tristeza” que ele parece ouvir nas ondas. Como um completo erudito clássico, ele recorda uma citação do dramaturgo grego Sófocles (496-406 a. C.), que ouviu no mesmo vai e vem das ondas em uma praia parecida a milhares de quilômetros de distância, e há mais de dois mil anos, “o turvo vai e vem da miséria humana”, e o espírito de Arnold se volta para os profundos problemas de sua própria época, a da era Vitoriana. Arnold nunca foi católico, mas no terceiro verso ele remonta esses problemas à perda da Fé em seu século XIX, cujo “rugido melancólico de retirada lenta” parece ouvir o som das ondas que se esvaem diante dele.

No quarto e último verso, ele apresenta a única solução que tem para o problema da vida que desaparece do que uma vez foi a cristandade, e que é voltar-se para sua amada ao seu lado e implorar-lhe que permaneça fiel a ele, porque tudo o que eles realmente têm é um ao outro. Assim, na obscura conclusão do poema, tudo o mais

Não tem realmente alegria nem amor nem luz,
Nem certeza nem paz nem amparo para a dor;
E estamos aqui como em uma planície obscura
Arrastados por confusos alarmes de luta e fuga,
Onde exércitos ignorantes se chocam à noite.

Assim, Arnold teve fé suficiente para ver que o problema essencial de sua civilização era a perda da fé religiosa, mas lhe faltava a fé para acreditar na alternativa real e existente para a obscuridade e para a confusão resultantes, nomeadamente, a Igreja Católica. Da mesma forma, os brexistas têm instintos sadios suficientes para sentirem que a União Europeia está indo na direção errada, mas eles têm menos religião ainda do que Arnold, e então eles têm menos ideia do que ele tinha de como evitar a “planície obscura”. Portanto, o debate sobre o Brexit continua sendo um “choque de exércitos ignorantes à noite”, porque todo mundo está enquadrando o debate no âmbito econômico, quando na realidade o verdadeiro debate é religioso, entre os últimos vestígios das nações cristãs, por um lado, e, por outro lado, o início do Anticristo com sua Nova Ordem Mundial. É a dimensão religiosa que dá ao debate sua força em ambos os lados. É a falta de religião de ambos os lados que dá ao debate sua confusão.

Pois, de fato, Deus é o grande ausente da “civilização” moderna, mas como disse certa vez o Cardeal Pie, se Ele não governa com Sua presença, Ele governará com Sua ausência. Sem Ele, o debate sobre o Brexit está sendo conduzido sob a perspectiva econômica, e desse modo os brexistas estão fadados a perder. Mas será que eles estão dispostos a se voltarem para Deus? Eis a questão.

Kyrie eleison.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.