Em 1041 subira ao trono da Inglaterra Santo Eduardo III, o Confessor. Logo que se firmou no trono, sabendo que seu parente vivia exilado na corte da Hungria, convidou-o a voltar com a família para a Inglaterra. Voltaram em 1054, sendo recebidos com provas de estima e afeição.
A princesa Santa Margarida, então no início da adolescência, encantou a todos por sua piedade e modéstia. Era devotíssima da Santa Mãe de Deus e extremamente caridosa para com os pobres e necessitados.
Santo Eduardo III, Rei da Inglaterra, parente da santa.O pai da santa faleceu em 1057, e seu irmão Edgard tornou-se assim herdeiro direto do rei santo, que não tinha descendentes. Sendo ele ainda menor de idade, e tendo nascido em terra estrangeira, colocaram no trono em seu lugar o Conde Haroldo. Guilherme, o Conquistador, atravessou o Canal da Mancha em 1066 e invadiu a Inglaterra. Na batalha de Hastings, matou Haroldo e se apoderou do trono inglês. Para subtrair-se à tirania do conquistador, Edgard e Margarida, esta com 20 anos de idade, fugiram numa embarcação pretendendo chegar à Hungria, onde sabiam que seriam bem recebidos. Mas outro era o desígnio da Providência, e durante uma tempestade o barco foi atirado às costas da Escócia.
Nesse país foram bem recebidos pelo rei Malcolm III que, encantado com as qualidades de Margarida, propôs-lhe o matrimônio. Esta de há muito alimentava o desejo de, como sua irmã Cristina, fazer-se religiosa. Mas seu confessor fê-la ver como poderia auxiliar mais a religião subindo ao trono. Assim realizou-se no ano de 1070 o casamento e a coroação de Margarida como rainha da Escócia. Aos 24 anos de idade, foi reputada a mais formosa princesa de seu século.
Malcolm fosse um pouco rude, tinha muito boa índole e disposição para a virtude. Sobretudo amava ternamente a rainha e tinha nela uma confiança sem limites. Assim Margarida, por uma conduta cheia de respeito e condescendência, tornou-se senhora de seu coração; e serviu-se do ascendente que tinha sobre o rei para fazer florescer a religião e a justiça, procurar a felicidade dos súditos e inspirar a seu marido os sentimentos que o tornaram um dos mais virtuosos reis da Escócia. Ela amenizou seu caráter, cultivou seu espírito, poliu suas maneiras e o inflamou de amor pela prática das máximas evangélicas. A rainha punha empenho nesse apostolado, pois não duvidava que a transformação e melhora dos costumes do povo dependiam em boa parte do exemplo do rei e da corte. Assim, toda a Escócia progrediu, tornando o reinado de Malcolm um dos mais felizes e prósperos da Escócia.
Santa Margarida era uma rainha “piedosa e varonil ao mesmo tempo. Cavalgava gentilmente entre os magnatas, tecia e bordava entre as damas, rezava entre os monges, discutia entre os sábios, e entre os artistas planejava projetos de catedrais e de mosteiros”.
Deus abençoou seu matrimônio com oito filhos, seis homens e duas mulheres, todos tendo seguido a senda da mãe. Dois deles –– uma filha, também Margarida, casada com o rei da Inglaterra, e um filho, Davi I, rei da Escócia –– foram elevados à honra dos altares.
Um dos cuidados de Santa Margarida foi estabelecer em todo o reino sacerdotes virtuosos e pregadores zelosos. Um sínodo foi convocado, e as mais importantes dentre as reformas instituídas por ele foram a regulamentação do jejum da Quaresma e a observância da comunhão pascal, então quase desaparecidos, e a remoção de certos abusos concernentes ao casamento dentro dos graus de parentesco proibidos.
A Santa rainha organizou a Igreja na Escócia. Em conseqüência, por seus conselhos, o reino foi dividido em dioceses, com demarcação bem determinada. Foram criados cabidos nas catedrais, com o correspondente clero, e estabelecidas paróquias. Atraiu ordens religiosas, principalmente da França e da Inglaterra, com vistas a contribuir eficazmente para o incremento da vida litúrgica, pois desejava o esplendor na Casa de Deus. Para isso, construiu igrejas magníficas e reformou outras, dotando-as do que havia de melhor para o serviço divino.
A rainha queria que a corte fosse esplêndida, a fim de valorizar a autoridade real; que a nobreza se vestisse muito bem, e que os reis se trajassem com pompa. Protegeu também as ciências e as artes e fundou diversos estabelecimentos de cultura.
Tinha muita caridade para com o próximo.Diariamente servia com suas próprias mãos a comida a nove meninas órfãs e a 24 anciãos. Durante o Advento e a Quaresma, atendia com o rei –– ambos de joelhos, por respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo em seus membros padecentes –– a 300 pobres, servindo-lhes comida da mesa real. Também diariamente a rainha saía pelas ruas, sendo rodeada então por inúmeros órfãos, viúvas e necessitados de toda espécie, que clamavam: “Rainha santa, socorrei-nos”, “Ó nossa mãe, assisti-nos”. E ela a todos socorria, mesmo que para isso tivesse que pedir também aos membros da sua comitiva algo com o que assistir àquela gente. Regularmente visitava os hospitais para socorrer os doentes pobres. Os devedores insolventes encontravam nela seu auxílio. Resgatava cativos, não só escoceses, mas também de outras nacionalidades. Enfim, não houve miséria física ou moral que ela não tivesse socorrido.
Santa Margarida, como todos os santos, tinha profunda humildade. Pedia freqüentemente a seu confessor que a advertisse de qualquer falta que a visse praticar. E reclamava com ele, que não encontrava o que advertir, alegando que não estava cumprindo sua missão.
Ela dormia pouco e rezava muito. Sua alimentação era tão parca, que se restringia apenas ao necessário. Começou a sentir o organismo minado, com terríveis dores de estômago. Privava-se de qualquer passatempo fútil e fugia de tudo quanto pudesse alimentar a sensualidade. Possuía também um vivo espírito de compunção e tinha o dom das lágrimas. Guardava silêncio absoluto na igreja, por respeito à Presença Real, e bastava vê-la rezar para se conhecer como é que se pratica a oração.
Santa Margarida observava duas Quaresmas, a do Natal e a da Páscoa, aumentando ainda mais suas austeridades.
Capela de Sta. Margarida, no Castelo de Edimburgo
Quando a rainha estava acamada em sua última doença, teve que passar por uma prova duríssima. Tendo o rei Guilherme, o Ruivo, da Inglaterra, invadido a Northumberland escocesa, Malcolm organizou um exército para a reconquistar. A rainha lhe pediu muito que não fosse pessoalmente a essa campanha, mas ele resolveu ir com seus filhos Eduardo e Edgard, julgando que o temor da rainha se devia à bondade do seu coração.
Quatro dias antes de sua morte, ela disse aos presentes: “Hoje talvez tenha acontecido uma grande infelicidade para a Escócia, como a que ela não via há muitos anos”. Entrementes seu filho Edgard voltou da guerra, e ela lhe pediu notícias do pai e do irmão. Temendo que a verdade lhe fosse fatal, o rapaz respondeu que estavam bem. “Ah! Meu filho, sei muito bem o que se passa; por isso não tens que negar-me a verdade”, respondeu ela. Edgar relatou então a morte de seu pai e irmão numa emboscada durante a campanha. Margarida, erguendo os olhos ao céu, exclamou: “Deus todo-poderoso, eu vos agradeço por me terdes enviado uma tão grande aflição nos derradeiros momentos de minha vida. Espero que, com vossa misericórdia, ela servirá para me purificar de meus pecados”. Enfim, sua alma se viu livre dos liames do corpo no dia 16 de novembro de 1093, aos 47 anos de idade. Tornou-se padroeira da Escócia.
Tempos depois, ao cair esse país na heresia protestante, os católicos recolheram secretamente as relíquias da rainha santa e de seu esposo, a quem também consideravam santo, e as enviaram ao rei Filipe II da Espanha, que lhes deu um refúgio seguro no mosteiro El Escorial, que acabava de construir.Seu confessor e biógrafo diz que não é necessário constatar se ela praticou milagres, pois sua vida inteira foi um prodígio.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário.