domingo, 12 de janeiro de 2020

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCL (650) - (28 de dezembro de 2019)

FALAR ALTO E CLARAMENTE!

"Roma não está mais em Roma", dizia o Arcebispo.
O lar espiritual dos católicos está hoje em outro lugar.

Se houve grandes mentes no passado, é porque elas pensaram em coisas grandes, o que significa, explícita ou implicitamente, coisas de Deus; e se elas realmente foram grandes mentes, seu pensamento não terá sido somente destrutivo. Uma dessas mentes foi certamente Shakespeare, da Inglaterra. Como católico, ele lutou contra a apostasia de seu país no momento em que ela atingia seu apogeu, por volta de 1600. Mas essa mudança da Inglaterra para o protestantismo significava para o escritor que, se ele não quisesse ser enforcado, eviscerado e esquartejado, teria de camuflar sua mensagem católica, como demonstrou Clare Asquith em seu livro lançado em 2005, “Shadowplay [Jogo de Sombras]”, onde ela elevou a literatura inglesa muito acima dos “patriotas” ingleses e dos anões da crítica literária.
Para dar apenas um exemplo, no apêndice do livro sobre o Soneto 152 de Shakespeare, ela mostra como, do começo ao fim do texto, sob a aplicação óbvia a uma mulher que Shakespeare conheceu, existe um segundo significado completo de aplicação muito mais ampla para ele mesmo como escritor que falhou em advertir seus compatriotas como deveria ter feito. Aqui estão as 14 linhas do soneto, juntamente com seu significado aparente:

In loving thee thou know’st I am forsworn
But thou art twice forsworn to me love swearing,
In act thy bed-vow broke and new faith torn,
In vowing new hate after new love bearing.
But why of two oaths’ breach do I accuse thee,
When I break twenty? I am perjured most,
For all my vows are oaths but to misuse thee,
And all my honest faith in thee is lost;
For I have sworn deep oaths of thy deep kindness,
Oaths of thy love, thy truth, thy constancy,
And, to enlighten thee, gave eyes to blindness,
Or made them swear against the thing they see.
    For I have sworn thee fair: more perjured eye,
    To swear against the truth so foul a lie.1

Sabes que ao amar-te quebro uma promessa, mas
jurando que me amas, tu quebras duas promessas: tu
abandonaste a cama do teu marido, e depois voltaste para ele
("nova fé", "novo amor") para tão logo abandoná-lo de novo.
Mas por que te acuso de quebrares dois juramentos quando
Eu quebro vinte? Sou eu o perjuro maior, pois
para teu próprio mal, eu fiz tantos juramentos sobre
tua bondade quando eu sabia que não eras boa.
Assim, jurei que tu eras muito gentil,
muito amorosa, muito sincera, muito fiel, e para pôr-te
em uma boa luz, eu me fiz ver o que eu
não vi, ou jurei que não vi o que o olho viu.
    Pois jurei que eras boa. Que terrível
    perjúrio da minha parte, quando isso é tão falso!

Curiosamente, o texto do soneto faz mais sentido em seu significado oculto, referindo-se à Inglaterra infiel, do que em seu significado aparente, que se refere à amante infiel de Shakespeare. Assim, “Merrie Englande” foi uma esposa fiel da Igreja Católica por 900 anos. Mas pelo Ato de Supremacia de Henrique VIII (1534), ("Em ato"), a Inglaterra rompeu seu matrimônio ("voto nupcial") com a Igreja Católica e tomou o protestantismo como amante. Em seguida, casou-se novamente com a Igreja Católica sob Mary Tudor (1553, "nova fé", "novo amor"), para sem seguida recair em adultério com o protestantismo sob Elizabeth I (1558, "rasgaste a nova fé", "novo ódio" pela Igreja Católica). Mas Shakespeare (1564-1616) se culpa por uma infidelidade ainda mais grave, porque no curso daqueles anos ele glorificou repetidamente ("para iluminar-te") a Inglaterra com seus infiéis governantes Tudor, por exemplo, em seus Dramas Históricos, glorificou os danos sofridos pela Inglaterra ("para teu próprio mal”), porque, como católico, sabia muito bem que o protestantismo seria a ruína da “Merrie Englande”. Com certeza!

E que dizer dos tempos de hoje? O padrão se repete: por mais de 1900 anos, os católicos do mundo estiveram fielmente casados com a verdadeira Igreja, mas com o Vaticano II (1962-1965), a maioria deles seguiu os maus líderes até chegar mais ou menos ao adultério com o mundo moderno (“quebraste o voto nupcial”). Então, o Arcebispo Lefebvre (1905–1991) levou muitos de volta à verdadeira Igreja Católica (“nova fé”, “novo amor” ou renovação da antiga fé e do antigo amor), para então ver seus sucessores à frente da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que ele fundou em 1970, recaírem no desejo adúltero de reunião com a Roma conciliar, fundado sobre um "novo ódio" pela verdade pré-conciliar.

Qual é a conclusão? Qualquer Shakespeare entre nós, ou qualquer católico, deve falar forte e claramente, que, como tal, a Roma de Pachamama não é outra coisa que uma abominação, da qual se deve fugir.

Kyrie eleison.
________________________
1 Ao amar-te, sabes que sou perjuro,
Mas tu o és duas vezes por teu amor jurar-me,
Em ato, quebraste o voto nupcial, rasgaste a nova fé,
Ao jurares novo ódio depois de um novo amor.
Mas por que eu te acuso de quebrar dois juramentos,
Quando quebro vinte? Eu sou mais perjuro,
Pois todos os meus votos são juramentos para teu próprio mal,
E toda a minha fé sincera em ti está perdida;
Pois tantos juramentos fiz de tua imensa bondade,
Juramentos de teu amor, de tua verdade, de tua fidelidade,
E, para iluminar-te, dei olhos à cegueira,
Ou fi-los jurarem contra as coisas que viam.
    Pois jurei que és sincera: olhos mais perjuros,
    Jurei contra a verdade tão imunda mentira.

Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo.