A ESTRUTURA DA MÚSICA
Dizem que a música é somente uma questão de gosto.
Mas isso não passa de uma opinião precipitada e irrefletida.
Quando, em meados do século XIX, o Papa Pio IX (1846-1878) se propôs a elaborar uma lista dos erros que afastavam a humanidade de Deus, de Jesus Cristo e de Sua Igreja Católica, ele deu início ao seu “Sílabo dos Erros” em 1864 com o erro mais radical de todos: Não existe nenhum Ser Supremo... Deus é, portanto, a mesma coisa que o mundo, e, consequentemente, o espírito se identifica com a matéria, a verdade com a falsidade, o bem com o mal e a justiça com a injustiça. Em outras palavras, da recusa de Deus segue-se imediatamente o materialismo e a negação do livre-arbítrio, da verdade, da bondade e da justiça. Assim, como Karl Marx sustentava, o homem seria uma criatura puramente material, sem espírito nem nada espiritual nele.
Pelo contrário, a Igreja Católica sempre ensinou que Deus existe, o Criador e o único Ser infinito puramente espiritual; que existe uma multidão de anjos, seres criados puramente espirituais, mas finitos; enquanto os homens são uma multidão de seres criados finitos compostos de corpo e alma, materiais por seu corpo físico composto pelos elementos físicos proporcionados pelo pai e pela mãe biológicos, mas também espirituais por sua alma imortal criada individualmente por Deus, e infundida por Ele diretamente naqueles elementos que se encontram no ventre da mãe, para habitar nesse corpo e dar-lhe vida enquanto viver. Em outras palavras, o homem é efetivamente um ser material, mas é muito mais do que somente material. Na verdade, é a alma que determinará, pelo uso que fizer de seu livre-arbítrio espiritual enquanto estiver unida ao corpo, qual será o destino eterno desse corpo, seja a bem-aventurança no Céu ou o tormento no Inferno, ambos humanamente inimagináveis.
Portanto, o homem é a mais elevada das criaturas materiais de Deus, porque é o único que também é espiritual, e essa espiritualidade de sua alma implica uma capacidade de conhecer e amar a Deus, que é a coisa mais importante nele. Pretender que seja meramente material é um gigantesco equívoco, ou uma gigantesca mentira, conforme o caso. De fato, todos os homens têm algum conhecimento de sua própria espiritualidade e do destino eterno, porque “veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina todo homem”, Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo. I, 9). No entanto, tantas almas ao nosso redor, especialmente, mas não somente dos jovens, foram levadas a acreditar que seu espírito é apenas matéria!
Ora, a música é uma linguagem especial da alma humana, apreciada também pelos animais e até pelas plantas, porque expressa para o homem coisas em sua alma que nenhuma outra coisa pode expressar da mesma maneira. Portanto, sendo a alma do homem tanto espiritual, por sua abertura a Deus, como material, por sua função de animar o corpo, a música do homem será tanto espiritual como material, com todos os tipos de misturas dos dois. O canto gregoriano é altamente espiritual, o rock e o rap são altamente materiais, e a música clássica se encontra em algum ponto intermediário entre ambos. O que é de especial interesse – embora seja basicamente senso comum –, é como a música tem uma geografia objetiva, por assim dizer, que corresponde à geografia objetiva da alma humana. Assim, se dividirmos a música em seus três elementos principais, a saber, a melodia (sequência de notas), a harmonia (seu acompanhamento) e o ritmo (seu compasso), podemos dizer que a melodia fala à alma espiritual, a harmonia às paixões superiores da alma material, e o ritmo às paixões inferiores dessa alma inferior.
Ora, na música, como no homem, há uma variedade infinita, de modo que sempre pode haver exceções, mas, em linhas gerais, a correspondência objetiva entre a natureza da alma do homem e a natureza da música é senso comum, não compartilhado apenas pelos subjetivistas empedernidos com o cérebro lavado por seu liberalismo. De qualquer forma, na noite de sexta-feira, 26 de agosto, está prevista uma conferência preliminar sobre a geografia da alma aqui em Broadstairs; no sábado, 27 de agosto, estão previstas várias conferências sobre a geografia da música, e no domingo está prevista uma conferência final para tirar algumas das inúmeras conclusões disponíveis. John Sullivan voltará a tocar piano, tanto para ilustrar como para interpretar especialmente Beethoven, que é fundamental entre a música superior e a inferior. Os participantes deverão buscar seu próprio alojamento para as duas noites. Após o evento, haverá gravações para qualquer um que tenha interesse e não tenha podido comparecer.
Kyrie eleison.