Feria de Quarta Classe
Paramentos Roxos
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São Martiniano era um monge eremita, mas acabou se tornando um andarilho para que o pecado nunca o achasse "em endereço fixo".
Martiniano era natural da Cesaréia, na Palestina, nasceu no século IV.
Desde a tenra idade decidiu ligar sua vida à Deus e aos dezoito anos
ingressou numa comunidade de eremitas, não muito distante da sua cidade,
onde se entregou à vida reclusa e viveu durante sete anos. A fama de
sua sabedoria percorreu a Palestina e Martiniano passou a ser procurado
por gente de todo o país que lhe pedia conselhos, orientação espiritual,
a cura de doenças e até a expulsão de maus espíritos. Ganhou fama de
santidade e essa fama atraiu Zoé, uma jovem cortesã.
Zoé era milionária, bela e conhecida como uma mulher de costumes
arrojados e pouco recomendáveis. Fez uma espécie de aposta em seu
círculo de amizades indivíduos de sua laia o plano diabólico e afirmou
que faria o casto monge se perder. Disfarçando-se em pobre abandonada,
chegou pela tardinha à casa de Martiniano e pediu agasalho: “Tende
compaixão de mim, homem de Deus! Não permitais que eu seja presa das
feras. Perdi-me na floresta e sem orientação, não sei para onde me
dirigir”,pedindo abrigo. Ele deixou que entrasse, acomodou-a e foi para
os aposentos do fundo da casa, onde rezou entoando cânticos de louvor ao
Senhor. O bom do eremita levantou as mãos ao céu, chamou a Deus em
auxílio, e só depois de muitos rogos da parte da mulher, consentiu que
lhe entrasse na gruta. Para si procurou um outro abrigo e passou a noite
toda em oração.
Zoé,
porém, trocou os andrajos enganosos por um vestido sedutor. Quando, na
manhã seguinte, Martiniano chegou à gruta, Zoé se apresentou em todo o
esplendor e grande foi a surpresa do santo homem, pois não a conhecia.
Zoé deu-se a conhecer, manifestou ao eremita sua verdadeira intenção e
com maneiras blandiciosas e afáveis, tentou-o ao pecado. A proposta,
disse-lhe, que te faço não te deve ser estranha e é bem compatível com
teu modo de vida. Sabes que os santos do antigo testamento eram
favorecidos pela fortuna e casados. Eis me aqui para oferecer-te, junto
com minha pessoa os meus grandes bens”.
Martiniano, em vez de enxotar a sedutora, mostrou-lhe simpatia e
fraqueou. Deus permitiu esta fraqueza, talvez para lhe castigar o
orgulho, que não o deixou enxergar o perigo e fê-lo confiar em si. À
hora em que, por costume, pessoas vinham para ouvir-lhe os conselhos e
receber-lhe a benção, Martiniano saiu da gruta. Mal ficou sozinho, caiu
em si e a consciência começou a atormentá-lo com suas acusações. O
arrependimento foi tão grande, que mal podia sustentar-se. Depois juntou
alguma lenha, acendeu-a e quando tinha boa brasa, meteu os pés dentro e
disse: “Martiniano, se agüentares este fogo, continua a pecar; do
contrário, como poderás sofrer o fogo eterno, que mereceste pelo
pecado?”
Chamando a
mulher, disse-lhe: “Vem ponha aqui teus pés, se queres pecar”. Zoé,
vendo o espetáculo que se lhe desenrolava diante dos olhos,
impressionou-se grandemente e o coração tomou-se-lhe de profunda
contrição. Imediatamente tirou a roupa escandalosa, meteu-a no fogo,
pediu perdão ao eremita e conselho sobre o que havia de fazer, para
obter remissão dos pecados. Martiniano ordenou-lhe que fosse para o
convento de Santa Paula, em Belém e lá passasse o resto da vida em
penitência. Zoé obedeceu, pediu e obteve a admissão no convento indicado
e tão radical foi sua conversão que de pecadora tornou-se grande
penitente e Santa.
Martiniano julgou ser vontade de Deus abandonar o lugar de sua
infelicidade e procurou uma ermida, situada, numa ilha lá ficou durante
seis anos, constando-lhe a alimentação de pão, água e palmitos, que
pescadores de vez em quando lhe traziam. Pelo fim do sexto ano de
desterro, naufragou naquela ilha um navio. Dos náufragos sobreviveu uma
jovem de vinte e cinco anos que pediu auxílio a Martiniano; este lhe fez
a caridade, que as circunstâncias exigiam. Para não se expor novamente
ao perigo, resolveu fugir. Confiado no auxílio divino atirou-se na água
para, a nado, ganhar o continente. Deus o protegeu visivelmente,
mandando dois delfins que o levaram à terra. A donzela ficou na ilha,
levando vida santa. Martiniano, porém tomou a resolução de não mais ter
domicílio fixo. Fiel a este propósito, andava de um lugar a outro,
implorando a caridade dos cristãos. Nessas viagens chegou a Atenas, onde
entrou numa Igreja, quando sentiu as forças o abandonarem. Com muita
devoção recebeu os santos Sacramentos. Poucos dias depois entregou a
alma ao Criador. As suas últimas palavras foram: “Senhor, em vossas mãos
recomendo o meu espírito”. Martiniano morreu no ano de 400. A Igreja
oriental presta-lhe grandes homenagens. Os restos mortais acham-se
depositados numa Igreja de Constantinopla, situada perto da mesquita de
Santa Sofia.
V/.Glória Patri.
I Coríntios 9,24-27 e; 10, 1-5
Das profundezas clamei a ti, Senhor; Senhor, ouça minha voz.
V/. Fiant aures tuæ intendéntes in oratiónem servie tui. Que seus ouvidos estejam atentos à voz da minha súplica.
V/. Si iniquitátes observáveris, Dómine: Dómine, quis sustinébit? Se você examinar nossas iniqüidades, Senhor, quem estará diante de você?
V/. Quia apud te propitiátio est, e propter legem tuam sustínui te, Dómine. Mas contigo está a misericórdia, e por causa da tua lei tenho esperado em ti, Senhor.
São Mateus 20,1-16
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.