A Santa Igreja honra como mártires este coro
de crianças, vítimas do terrível e sanguinário rei Herodes, arrancadas
dos braços das suas mães para escrever com o seu próprio sangue a
primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e merecer a
glória eterna, segundo a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Quem perder a vida por amor a mim há-de encontrará-la.” Para eles a liturgia repete hoje as palavras do poeta Prudêncio: “Salvé,
ó flores dos mártires, que na alvorada do cristianismo fostes
massacrados pelo persseguidor de Jesus, como um violento furacão arranca
as rosas apenas desabrochadas! Vós fostes as primeiras vítimas, a tenra
grei imolada, num mesmo altar recebestes a palma e a coroa.” O
episódio é narrado somente pelo evangelista São Mateus, que se dirigia
principalmente aos leitores hebreus e, portanto, tencionava demonstrar a
messianidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, no qual se realizaram as antigas profecias:
“Quando Herodes descobriu que os sábios o tinham enganado ficou
furioso. Mandou matar em Belém e nos arredores todos os meninos de dois
anos para baixo, conforme o tempo que ele tinha apurado pelas palavras
dos sábios. Foi assim que se cumpriu o que o profeta São Jeremias tinha
profetizado: Em Ramá se ouviu um grito: coro amargo, imensa dor. É Raquel a
chorar seus filhos; e não quer ser consolada, porque eles já não
existem” (Jer. 31, 15).Costumes medievais, que celebravam
nestas circunstâncias a festa dos meninos do coro e do serviço do altar.
Entre as curiosas manifestações temos aquela de fazer descer os cónegos
dos seus lugares ao canto do versículo: “Depôs os poderosos do trono e
exaltou os humildes.” Deste momento em diante, os meninos, revestidos
das insígnias dos cónegos, dirigiam todo o ofício do dia. A Liturgia, embora não querendo ressaltar o
dia teve no curso da história, e quis manter esta celebração, elevada ao
grau de festa por São Pio V, muito próxima da festa do Natal. Assim
colocou as vítimas inocentes entre os companheiros de Cristo, para
circundar o berço de Jesus Menino de um coro gracioso de crianças,
vestidas com as cândidas vestes da inocência, pequena vanguarda do
exército de mártires que testemunharão, com o sangue, a sua pertença a
Cristo.