Pe. Bernard-Marie
de Chivré, O.P.
Traduzido por
Andrea Patrícia
A indecisão não é própria de uma nação, uma
família, uma raça, nem desse homem ou daquela mulher, estamos lidando com uma
doença congênita da raça, manchada por essa enfermidade desde a Queda. Nós
temos dois pés para andar durante a noite, no escuro, e através do deserto
durante o dia, mas somos incapazes de tomar uma decisão.
Temos duas faculdades de soberania: o
intelecto e a vontade, sem a qual não somos homens: o intelecto para saber, a
vontade para ousar.
E ainda assim a grande maioria dos homens não
sai do lugar - quando eles não estão recuando - e a grande maioria dos líderes,
em todos os domínios, camufla sua indecisão por meias medidas. Nós chamamos isso
de diplomacia, chamamos isso de eloquência: falamos tanto quanto pudermos para
não ter que tomar uma decisão.
É uma condição entranhada da raça, em nossa
consciência, em nossa mente e em nosso coração. Falamos tanto quanto possível
com uma grande virtude, como forma de contornar uma decisão. O resultado é que
nos esquecemos de que a decisão é a virtude real, pois imita Deus na clareza de
seu intelecto e na precisão de Sua vontade. "Haja luz!" e a luz é. São Paulo teve uma prova disso na
estrada de Damasco. Quando São Paulo pediu a Ele, tremendo: "Mas quem é o
senhor e o que quer de mim?" o Senhor não fez nenhum discurso: "Volte
para o seu cavalo, vá a Damasco, encontre o homem que Eu vou mostrar a você, e
comece a ser um apóstolo da verdade”.
Mesmo a paciência de Deus surge de seu
poder de decisão: Deus não pune de propósito, não ataca um povo, um mundo, uma
nação, um homem, enquanto Seu pensamento mantém a possibilidade de decidir a
sua salvação. Sua paciência surge de uma misericórdia tremenda, determinada
mediante a salvação do homem. Suas intervenções sempre tem a marca de uma
decisão sem arrependimento; para Ele, é sempre o momento preciso da decisão de
beneficiar da luz, da graça. Ele é a própria bondade, primoroso, sem ilusões,
sem covardia, sem indecisão.
Sua graça é como Ele: não deixa espaço para
indecisão. Seu arrependimento é um arrependimento específico. Seu entusiasmo é
em direção a um objetivo específico. Sua luz ilumina sem dúvida possível. Seu
chamado é para um ideal específico. Seu amor é nutrido em provas específicas.
Pobres criaturas que somos, lançadas nas
trevas por nossa enfermidade original, pelo enfraquecimento da vontade. Que
retificação das faculdades é necessária para se tornar um filho de Deus! Quanto
pisoteio dos modernos métodos educacionais, das maneiras mundanas de ser, das
diplomacias em todos os domínios!
A prudência primária de cada um dos
santificados é colocar-se longe das formalidades indecisas ao seu redor, a fim
de obedecer as decisões da graça, para ouvir dentro de si mesmo, para entender
a si mesmo, para pensar por si mesmo. Devemos firmemente ajustar nossas almas,
nossas consciências, nossas vidas, de uma vez por todas no interior dessa
decisão que gera a ordem - e ordem é vida.
Libertar-nos de ficar estacionados, de
olhar para trás, de escrúpulos, de uma mentalidade "esperar para
ver", do liberalismo, de fraudar o dever, a confissão, o dom de si e, a
sinceridade, para libertar-nos do nosso meio-catolicismo, ansioso para assumir
a desobrigação dos bons paroquianos e dos bons comunistas ao mesmo tempo.
Impor a decisão de recusar o catolicismo
mesquinho de dispensa sem lutas, sem cruzes, sem ressurreições - o oposto de
Cristo.
A indecisão nos impede de ser inteiramente
livre dentro de nós mesmos. Vamos olhar um pouco mais de perto o problema.
A razão, por sua natureza, apela à prova
por argumento. A razão prova a criação pela ciência (reflexão), a fim de chegar
a uma certeza. Esse é o processo normal do intelecto. É por isso que o
diletante peca contra a razão, porque um diletante nunca toma uma decisão. Ele
acredita que a razão consiste em acreditar em tudo, provar tudo, a fim de
possuir tudo. Um homem que é um diletante não é mais um homem. Você é alguém a partir do momento que você
descobre dentro de si mesmo as razões para revelar-se como o homem do momento,
capaz de decidir por si mesmo.
A Fé, por outro lado, eleva o homem acima da
prova por argumento apelando para certezas sobrenaturais que surgem da mente
estando tão unida a Deus que não deixa margem para dúvidas. O homem toca a
divina auto-evidência pelas certezas que levam lá e que são, por assim dizer, a
sombra da auto-evidência, assim como a sombra da casa diz que um sol brilhante está
logo atrás.
Por conseguinte, no domínio do pensamento,
a dúvida voluntária é um pecado contra a mente de Deus. No domínio da ação, o
vício – hoje promovido ao posto de virtude natural - é um verdadeiro tapa na
cara da vontade divina, que nos fez para o verdadeiro bem.
Você pode ver a influência desumana da
falta de decisão na vida moderna. Hoje as pessoas reúnem-se para discutir, mas
não para defender, para discutir acordo com ideias modernas, mas não de acordo
com a Fé nem de acordo com a razão.
O primeiro serviço que você pode prestar a
sua consciência é a vontade de decidir. Considere a sua situação sem ideias
preconcebidas, a fim de ser capaz de fundar o seu julgamento sobre a rocha da
decisão, sem esquivar-se da coragem de olhar sobre o campo de batalha com o binóculo
da oração, com uma independência que é própria de Deus. Orar é participar na
mentalidade de Deus que decide ser capaz de entrar em sua vida com a vida de
Deus. Você já decidiu antes de tomar uma decisão, se você aceitou olhar para
todas as coisas na verdade. Quando você começa a considerar as suas opções
pessoais a cada vez com esse olhar interior, recusando-se a desviar da verdade,
um olhar de simplicidade: "O que
é, é; o que não é, não é", então você está salvo. Você torna-se,
necessariamente, um homem de razão e fé.
Você precisa perceber que a determinação é atingida
por um julgamento interior. Ela fica comprometida quando você fica no nível de
decisões exteriores: respeito humano, opiniões, interesse próprio.
Há uma abundância de católicos, mas ainda
não temos crentes capazes de formar
um julgamento interior. Como você espera que os católicos sejam capazes de tal
juízo interior? Eles não sabem nada; eles olham para o exterior para tudo. Como
você espera que eles tornem-se crentes já que a Fé começa no interior, na
substância de um ser, para colocá-la em movimento acima de si mesmo, enquanto
não há nada dentro deles pedindo nada mais alto? Os homens tornaram-se incapazes
de compreender Jesus Cristo. A prova? Eles buscam qualquer coisa que eles achem
que seja melhor do que Jesus Cristo.
Que exemplo mais abominável da história que
posso dar a você de um julgamento fundado na exterioridade do que o de Pilatos
diante de Jesus? Pilatos passou seu tempo enrolando, esboçando elementos de
julgamento do exterior, deslocando-se de seu próprio julgamento para o dos
outros, por respeito humano, por interesse próprio. Ele tinha autoridade, ele
era o líder, mas ele agiu como um burocrata, e Jesus foi a vítima da indecisão
de um líder.
E vocês, pais e mães de família, diante de
seus filhos, vocês são capazes de decidir? Pela Fé? Pelo bem? Quer eles gostem
ou não? Você joga de acordo com o mundo, assim como Pilatos jogou diante das
multidões de Jerusalém.
"Você vai tomar sua decisão?"
Psicologicamente falando, o que essa frase quer dizer? Vai dar um passo além do
mecanismo sensível influenciado por um exterior que é estranho à razão e à fé?
Impulsividade, paixões, escrúpulos, laxismo, pretensões, interesse próprio - de
todos estes elementos tampando a meta objetiva, a meta da razão racional, a
meta da Fé, acreditando até o ponto de um sim definitivo.
O primeiro pecado da vontade é evitar a
meta. Como você pode lutar contra isso? Por uma grande virtude: a obediência,
que consiste em ir na direção definida pela qualidade de uma inteligência,
andando na frente de nós, dizendo: "Essa é a maneira que você tem que
ir".
Acostumar a vontade de seus filhos à
compreensão de que eles não sabem nada, ou quase nada, não por sua culpa, mas
por conta de sua idade. Que eles tenham a graça de saber que eles são
incapazes, totalmente sozinhos, de transformar-se em homens.
Obedecer é aprender a comandar a si mesmo; é
formar uma vontade que é livre para escolher uma meta. Quem quer ser um líder
tem que começar por obedecer; na obediência ele vai encontrar as razões para
comandar de acordo com a razão e de acordo com a Fé.
Vamos dar uma olhada na esterilidade da
indecisão. Há indecisão que vem da compreensão: agir sem entender. O caçador vê
ramos móveis, ele atira e mata um caçador furtivo. Há também a indecisão que
vem da vontade: saber sem se atrever a decidir. Sabemos que deveríamos, mas não
nos atrevemos a arriscar.
Na teologia moral, pode haver três casos
diferentes: um ato sem uma meta conhecida não é um ato moral, um ato humano; um
ato perigoso sem uma meta que o qualifique, apesar do risco obrigatório é
pecado; um ato indeciso abandonado aos riscos da sorte ("cara ou
coroa") é imoral em sua causa.
Em todos os três casos, nem a fé nem a
razão estão satisfeitas: a meta é inexistente. Entrando no domínio das paixões:
um ato bom reforçado por uma paixão em serviço da bondade do ato transforma a
paixão em um trampolim maravilhoso. A paixão utilizada de forma moral dá-nos a
coragem de levar a bondade ao seu limite absoluto; ela deveria ajudar-nos a vencer
nossa indecisão. Por exemplo: a criança assiste a um filme sobre a Paixão de
Cristo, e salta até colidir com a tela onde Judas trai Cristo com um beijo.
Outro exemplo seriam as ações heroicas dos santos: Santa Catarina de Sena
bebendo o pus saindo de um ferimento o qual ela fazia um curativo para vencer
seu desgosto com a visão de feridas.
A esterilidade da nossa fé vem da nossa
falta de coragem. Estamos constantemente repetindo: "Sem dificuldades!".
Somos católicos, mas não somos crentes.
Observe a nossa inércia em face da poluição das almas dos nossos filhos pela
informação sexual.
Cristo quis uma Igreja capaz da aventura
mais incrível que se possa imaginar: sair da indecisão em face do pecado, erro,
mal, inferno, por força de riscos, preferências, fidelidades e decisões interiores
e exteriores.
Onde estão os crentes? Olhe para o tremor das
chamadas almas católicas perante os gestos cavalheirescos da Fé; a esterilidade
dos católicos indecisos; a vitória do modernismo ao neutralizar os crentes ao
aclimatar os católicos a falsas ideias. Como podemos retornar a ser crentes?
Nutrir o seu julgamento interior numa fé
vivida em segredo: meditação, adoração, oração, memórias de graça, generosidade
no sacrifício - todas as realidades que mobilizam em seu coração as capacidades
esplêndidas para sentir, de repente, que você está enfrentando a vida de cabeça
erguida, com a coragem de mostrar o caminho para aqueles que estão procurando
por ele, arriscando a decisão de um Credo vivido em um tempo concedido a Deus
antes do tempo concedido ao exterior; arriscar uma escolha da qual os mártires
ficariam orgulhosos; arriscar fidelidade a ideias
objetivas, tradicionais e doutrinárias; ligando o futuro ao passado, sem a
menor fratura de indecisão.
Torne-se atualizado pelo Credo, todos os
dias, para sempre, em nós, ao nosso redor, sem medo das indecisões de nossa
natureza. Você vê a maneira em que você tem que provar sua capacidade de amar,
o tipo de capacidade que Deus quer dar a volta a uma era que já não é mais capaz
de amar.
Indecisão
na consciência
A minha ambição e meu desejo é dar-lhe a
profunda convicção de que a nossa vida pertence a Deus e só a Ele.
Consequentemente, a nossa vida só tem significado em famílias, comunidades e
países, na medida da nossa fidelidade a Deus. Se você pisa fora dessa
fidelidade, Deus tem o direito de condená-lo.
Só Deus é capaz de plantar sementes no
solo, como Ele deseja. Desde a Queda - Ele disse a Adão – a terra só produz
espinhos e abrolhos, especialmente a terra dentro de nós. A graça prepara o
terreno para que as ervas cresçam na nossa consciência. E é aí que todas as
dificuldades começam.
As razões são muito variadas: a ignorância
do sobrenatural, medo da semente divina, terror com o pensamento de Deus assumindo
o comando, tristeza de não saber como vencer a nossa impotência. Todas estas
coisas impedem que nossas vidas pertençam a Deus.
Daí um sentimento de fracasso, de começar
tudo de novo por tempo indeterminado; um sentimento de tristeza, apesar de
enormes qualidades naturais. Nós sentimos que entre a nossa vida e a sua
fecundidade absoluta, tudo é bloqueado por um estado de indecisão. Ouça este
poema de Marie Noël (1). Ela o intitulou My
Weakness [Minha Fraqueza]:
Minha
fraqueza,
Quando
eu faço errado, eu nunca tenho certeza de que é errado.
Quando
eu faço o bem, eu nunca tenho certeza de que é bem.
Quando
eu falo, quando eu afirmo, nunca tenho certeza de que é verdade.
Eu
só tenho confiança no sofrimento.
Sofrendo,
suportando, aceitando, só tranquiliza-me por uma força que vem de fora e impõe-se
sobre mim.
Que
a Vossa vontade seja feita, não a minha,
Porque
não tenho vontade própria, mas uma oscilação inquieta entre o verdadeiro e o
falso, entre o bem e o mal.
Mas
o sofrimento deixa-me em paz. Porque Vós escolhestes para mim.
Sim, mas com a condição de acrescentar um
detalhe teológico: você tem que perceber que esta enfermidade original, que
impede a alma de decidir é usada pela graça para plantar a semente que vai produzir
virtudes florescentes para a vida eterna. É a vingança do amor contra a mancha do
mal original. Porque para Deus, toda a criação, natural e sobrenatural, está
sempre cheia de energia e dinamismo.
Ouça o que Jesus diz: "Todos vocês (vocês: o mundo inteiro), que labutam e estão cansados (a
enfermidade do pecado original), venham a Mim!" não aos outros, não ao
professor primeiro, ao médico, ao governo, "Vinde a Mim, e eu vou refazer
você". Jesus não diz: Eu vou remover a
dificuldade, Ele diz: "Eu vou refazer você", fazendo uso da mesma. É
um convite para a pobre raça humana vir e redescobrir a esperança.
A indecisão da consciência é um peso
constante causando um estado de tristeza. Jesus diz: "Vinde a mim, meu
jugo é suave", mas continua a ser um jugo. "Meu fardo é leve",
mas Jesus não diz: Eu estou tirando o fardo. Ele vai ensinar-nos como podemos transformar
um jugo em doçura e um fardo em leveza. A partir desta descoberta fluem todas
as grandes vitórias dentro de si mesmo. Faça o jugo servir, faça o fardo
servir, com doçura, com leveza. O Senhor não anuncia a supressão da nossa
indecisão; Ele vai iluminá-la.
Como é que Ele vai fazer isso? Na verdade,
como você pode dar o contrário da carga para o peso em si? A lei natural de
peso obriga o seu progresso a um impasse. "Estou exausto, eu coloquei o
meu pacote no lado da estrada". E ainda, você já reparou que na física
usam o peso para aumentar a velocidade? Você só tem que olhar para as rodas de
uma locomotiva: lá você tem um peso que se destina a aumentar a velocidade. A indecisão
na consciência é o peso mais terrível, obrigando a uma interrupção da melhor
utilização que pode ser feita de um peso.
Então, quais são as causas da indecisão, em
primeiro lugar?
Elas são legião: hereditária ou desenvolvida
por uma educação deficiente, muito grave ou muito frouxa. Às vezes, as causas
são indefiníveis: escrúpulo, orgulho, medo, interesse próprio, ambição.
As consequências? Elas são todas em prol da
facilidade. Nós não queremos lutar. Evitamos brigar com as lutas interiores.
Terminamos em uma espiritualidade formalista, sem coragem, sem vontade de
empenhar-nos com confiança e precisão.
Neste ponto, os indecisos percebem que a
cada ano eles estão um pouco mais cansados de sua fidelidade inicial, e chega
um momento em que a escuridão da noite só aumenta. A indecisão tornou-se um
estado, um estado tornando-os não mais dignos de seu batismo.
Como é possível curar esse tipo de
consciência? Acima de tudo, você tem que provar para eles que a indecisão é a
primeira inimiga da alma. Aceitar isso é correr o risco de aceitar, no final, uma
espécie fictícia de paz: "Estou em paz". Você sabe muito bem que não
é verdade - você esquivou-se do problema real, você tem trapaceado a vida, que
é a pior coisa que pode acontecer para a vida da consciência.
Redescobrir o princípio de uma paz
verdadeira. O raciocínio objetivo, com a ajuda de conselhos e confidências,
preserva a liberdade de nossa razão. As razões de Fé com o que caracterizam o
contrário da indecisão: certezas - certezas, a ponto de uma oração que pede:
"Vós que sabeis todas as coisas, Vós que sois a própria luz, Vós que nunca
enganaste ninguém, Vós que sempre disseste: 'Eu sou a Vida, Eu sou a Verdade,
Eu sou o Caminho', Vós não quereis atrair-me para Vós mesmos?".
Em uma palavra, tornar-se uma consciência
iluminada pela razão e pela fé, que é a primeira ressurreição da vontade, a
primeira ressurreição de uma fé que está realmente agindo.
Ilumine a noite da indecisão desta forma -
não com toda a luz do sol, porque não é possível uma vez que a mancha do pecado
original permanece, mas, como diz Corneille, com "aquele brilho obscuro caindo
das estrelas", o brilho nebuloso que dá suficiente luz para permitir que a
vontade, a decisão, avance. Almas que encontram-se num estado de indecisão não estão
nem mesmo neste brilho ainda, elas
estão na noite, com toda a escuridão da noite. Ou seja, elas tornaram
impossível avançar ou escolher. Elas não são felizes, elas não sentem-se orientadas
para uma noite que termina em amanhecer. Quando você consegue dizer a uma alma:
"Não há noite sem aurora", você salva-a do desespero. Você também tem
que ensinar-lhe que ela deve, pessoalmente, aceitar entrar nesse brilho a partir de seus esforços e de
sua fidelidade. E isso é precisamente o que caracteriza o indeciso: não anda,
seus passos já não são orientados para uma decisão vinda de Deus, vindo de uma
razão iluminada pela Fé, proveniente de atos de Fé, capaz de transformar a
noite em uma noite iluminada pelas estrelas. "Então venha a mim, Eu irei
construir um caminho para você, apesar da noite, por causa da noite".
Aqui está a primeira conclusão: enquanto
uma alma é capaz de andar para frente, ela é vitoriosa sobre si mesma. Eu não poderia
dar-lhe um exemplo mais maravilhoso da vontade de andar para frente do que o dos
peregrinos de Emaús, no Evangelho de São João. Vamos tentar analisar o que
acontece entre esses dois homens:
“A noite cai. Oprimidos pelos
acontecimentos dos últimos dias, eles já não sabem em que acreditar. Eles estão
indecisos. Onde eles estão indo? Em direção à noite. Um estranho aparece alguém
que eles não conhecem. Ele junta-se a eles. Observe, Ele não convida-los a
sentar-se ao lado da estrada. Ele começa a caminhar ao lado deles. Ele vai
dirigir a sua caminhada. A noite cai, mas Ele já traz um certo amanhecer:
"Por que vocês tem medo? Vocês não acreditam mais?" "Mas nos
disseram...Mas nos foi prometido...E agora tudo acabou". E ainda assim
eles sentem a presença deste Homem ao lado deles e eles dizem-Lhe: "Fique
conosco". E então, de repente, há o início da fração do pão. A noite torna-se
dia pelo início da consagração. A fração do pão ilumina os homens, tanto que
quando eles saem para voltar eles dizem um ao outro: "Havia algo em chamas
no nosso coração". Encontramos esperança novamente, encontramos caridade,
encontramos a Fé, e como Ele andou ao nosso lado, voltamos à vida!”
A verdade de Deus não é um problema de
sensibilidade, mas de uma verdade que anda para frente, que caminha apesar da
indecisão, porque Deus precisa colocar você em condições de produzir as virtudes
da paciência, humildade, esperança, confiança, coragem e afirmação de si mesmo,
o que você teria sido incapaz de produzir se você tivesse sido alguém que é
decisivo. É a vingança do amor de Deus sobre a ferida do mal, usada por amor a
forçá-lo a produzir o que a razão por si só não pode produzir.
O racionalismo é o grande criminoso em
nossa indecisão de consciência. Escusado será dizer: a indecisão vem de uma
razão privada de elementos capazes de fazê-la produzir um argumento. A indecisão
compara sem concluir, a razão não é semeada com as sementes das virtudes
sobrenaturais. "Eu sou aquele que vai curar-te " não a psicanálise,
mas a Fé. As pessoas privadas de Fé são pessoas destruídas, no que diz respeito
às opções salvíficas da vida.
Vamos passar agora para o domínio prático.
Primeiramente, uma indecisão específica ou
uma virtude específica, onde podemos encontrá-la? Isso é para cada um de nós
discernir. Com inteligência, com reflexão, praticar a virtude reconhecida como
primordial na liderança de sua vida, o esforço primário que vai cavar o jardim
inteiro e plantar a semente, apesar de si mesmo. Toda a indecisão é curada pela
prática de uma virtude específica. Você conhece a frase do marechal Foch:
"O que está em jogo?" O homem é capaz de usar sua indecisão para
desenvolver capacidades de decisão, de firmeza, de permanência em esforço, das
quais a sociedade será a primeira a beneficiar-se. Vocês, pais que estão ouvindo-me
agora, vocês não veem que este é um dos aspectos principais da educação?
Acostumar a criança a decidir em vista de sua consciência, tendo em vista o seu
dever, em vista de sua família, em vista de sua educação?
Em seguida, temos a Fé. "Dá-nos hoje o
nosso pão de cada dia": os esforços, as alienações, os atos de confiança,
as confidências orientadas para a virtude que eu mais preciso. Não suportar a
vida; o amor, onde quer que haja uma luta para amar.
As indecisões são noites à espera de suas
estrelas quando o vento da decisão, da Fé, finalmente, varre as nuvens do
amor-próprio. Tantas almas perdem o gosto pela vida espiritual por força de
esforços voluntaristas: inúteis, cansativos, e apenas servindo, em sua mente,
para livrá-los de sua indecisão por fiats
pessoais erguidos em programas. Pelo contrário, a "noite original" só
existe para as estrelas que vai produzir, estrelas admiráveis de paciência heroica consigo mesmo, iluminando os
outros com nossos sorrisos e com uma força que recorda as catacumbas.
Dirigir almas nunca significou livrá-las de
sua noite original por força de programas, mas ensiná-las, pelo contrário, a
mergulhar na sua noite, abraçá-la, a fim de fazê-la produzir um novo tipo de
luz. "O beata nox". Ele
ressuscitou na minha indecisão pela luz das virtudes da fé animando minha
vontade renovada.
O método é divino e certo. Começamos com a
fadiga: estamos paralisados, e acabamos por acalentar a nossa noite, que produz
um glorioso dia de Páscoa.
Mas você não deve ser o cúmplice de sua
indecisão, a recusa de saber, o medo de apresentar o seu problema, a ignorância
de consciência. O Espírito Santo fica sempre pouco à vontade em uma noite que
prolongamos de propósito. Ele não pode enviar o vento de confiança soprando sobre
disso. E quando o vento não afugenta as nuvens, não podemos ver as estrelas e
ficamos desanimados.
O grito bonito de Marie Noël em seu diário
particular:
“Repouso tal, ah! como um sopro de ar, em
um conflito, quando de repente você percebe que estava errada! Tudo fica de
repente em paz. Eu era a única que estava errada. Tudo volta ao lugar!
Considerando que, se você tivesse que depender de alguém para a sua paz...”.
Duas ideias mais:
A obrigação do indeciso é rezar, refletir,
a fim de diluir as nuvens de indecisão. Então esteja pronto para obedecer. A
obediência é a pedra cavada no chão por alguém, para dar à terra a solidez que
sustenta a caminhada para frente. Não é o que Jesus disse para o bom São Pedro:
"Saia do barco, venha!" E lá se vai São Pedro andando sobre a água.
Tudo está bem, ele está firme, até o momento em que ele aproxima-se de Deus e
ele vira a cabeça: "E se eu afundar" E ele afunda... "Homem de
pouca Fé! Isso vai ensiná-lo a duvidar. Você está bem perto de mim, eu estendo
a minha mão, e você duvida..." O número de homens que afundam no oceano
sem fundo e que uma vez foram chamados... "Venha, ande, mas, de acordo coMigo,
não de acordo com você, de acordo com a Fé, não de acordo com seus sentimentos,
de acordo com os Meus mandamentos, e não de acordo com os seus caprichos
pessoais. Vá em frente, tente, e você vai ver que perto de Mim o terreno torna-se
sólido".
Você pode ver que esta atitude de confiança
e decisão iria trazer-lhe. Qualquer que seja o ano, qualquer coisa que o amanhã
traga, ande para frente. O momento que você começar a andar de acordo com
Cristo, tem a garantia de ir até o fim.
__________________________
.
Uma conferência inédita dos arquivos
privados da Association du R.P. de Chivré.
Pe. Bernard-Marie de Chivré, OP foi ordenado em 1930. Ele era um tomista
ardente, estudante das Escrituras, mestre de retiro, e amigo do Arcebispo
Lefebvre. Ele morreu em 1984.
Original aqui.