Do lado do
beneficiário, requer-se que ele esteja na necessidade, sem o que a
esmola não teria razão de ser. Mas como é impossível a cada um socorrer a
todos os que padecem necessidade, o preceito não impõe que se faça
esmola em todos os casos de necessidade, mas somente a necessidade que
não pode ser socorrida de outro modo. Aplica-se aqui a palavra de
Ambrósio: “Dá de comer ao que morre de fome; se não o fizeres,
matá-lo-ás”.
Concluindo,
eis o que é de preceito: dar esmola do supérfluo ao que passa por
extrema necessidade. Fora dessas condições, dar esmola é um conselho,
igual aos conselhos que se dão para buscarmos um bem melhor.
Quanto às objeções iniciais, deve-se dizer que:
1. Daniel
dirigia-se a um rei que não estava sujeito à lei de Deus. Por isso, o
que estava prescrito por essa lei, que ele não reconhecia, não lhe devia
ser proposto senão sob forma de conselho. Ou, como se diz, trata-se de
um caso em que a esmola não é de preceito.
2. Deve-se
dizer que o homem tem a propriedade dos bens temporais que de Deus
recebeu. Quanto ao uso, porém, eles não lhe pertencem unicamente, mas
igualmente aos outros, que podem ser socorridos pelo seu supérfluo. É o
que ensina Basílio: “Se confessas ter recebido de Deus estes bens (isto
é, os bens temporais), deveria Deus ser acusado de injustiça por os ter
repartido desigualmente? Por que tu vives na abundância, e o outro
condenado a mendigar, senão para que tu ganhes os méritos de uma boa
administração, e ele, a recompensa da paciência? É do faminto o pão que
reténs; do nu a roupa que conservas no armário; do descalço o calçado
que se estraga em teu depósito; do indigente a prata que possuis em
custódia. Por isso, tuas injustiças são tão numerosas quanto os dons que
poderias conceder”. O mesmo ensinou Ambrósio.
3. Se pode
determinar um certo tempo dentro do qual peca mortalmente quem não
praticar a esmola. Do lado do beneficiário, a esmola deve-lhe ser feita
quando for de uma evidente e urgente necessidade, sem aparecer quem de
pronto o socorra. Do lado do doador, quando possui um supérfluo que,
segundo todas as previsões, presentemente não lhe será necessário. Não é
forçoso fixar-se em considerações sobre tudo o que poderia ocorrer no
futuro: seria “preocupar-se com o dia de amanhã” (Mt 6, 84), que o
Senhor proíbe. Assim, o supérfluo e o necessário devem ser apreciados
segundo as circunstâncias prováveis e mais comuns.
4. Todo
socorro prestado ao próximo se reduz ao mandamento de honrar pai e mãe.
Assim o interpreta o Apóstolo: “A piedade é proveitosa a tudo, pois
contém a promessa da vida presente e futura” (I Ti 4, 8). Ele fala assim
porque, ao preceito de honrar pai e mãe, acrescenta-se esta promessa:
“para teres uma longa vida sobre a terra”. Ora, na piedade estão
incluídas todas as espécies de esmolas.
Suma Teológica II-II, q.32, a.5
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dia Santo Rosário.