“A virtude
designa certa perfeição da potência.
Mas a
perfeição de uma coisa é considerada, principalmente, em ordem do seu fim. Ora,
o fim da potência é o ato. Portanto, a potência
será
perfeita na medida em que é determinada por seu ato. As potências racionais
próprias do homem não são determinadas a uma coisa só, antes se prestam,
indeterminadamente, a muitas coisas. Ora, é pelos hábitos que elas se determinam
aos atos.
Por isso as virtudes humanas são hábitos.”
“para agir
bem, é necessário que não só a razão esteja bem disposta pelo hábito da virtude
intelectual, mas que a potência apetitiva também o esteja pelo hábito da virtude
moral. Tal como o apetite se distingue da razão, assim também a virtude moral
se
distingue da
intelectual. E como o apetite é princípio dos atos humanos enquanto participa,
de algum modo, da razão, assim o
hábito moral
tem a razão de virtude humana, na medida em que se conforma com a razão.”
“assim como
nos dispomos a proceder retamente em relação aos princípios universais, pelo
intelecto naturalmente, ou pela ciência habitual, assim também, para nos dispormos
bem em relação aos princípios particulares de nossas ações, que são os fins, é
preciso que sejamos aperfeiçoados por certos hábitos que, de alguma forma nos tornam
conatural o correto julgamento do fim.
E isso se
faz pela virtude moral, porque o virtuoso julga retamente sobre o fim da virtude.
Logo, a razão reta do agir, ou seja, a Prudência, exige que o homem tenha a
virtude moral”.
“... pois
são quatro os sujeitos da virtude que estamos falando aqui, a saber: o racional
por essência, que a Prudência aperfeiçoa, e o
racional por
participação, que se divide em três, ou seja, a vontade, sujeito da justiça; o apetite
concupiscível, sujeito da temperança e
o irascível,
sujeito da fortaleza.”
“É necessário,
pois, que lhes sejam acrescentados por Deus certos princípios pelos quais ele
se ordene a bem-aventurança
sobrenatural,
tal como está ordenado ao fim que lhe é conatural por princípios naturais que,
porém, não excluem o auxílio divino. Ora,
esses princípios se chamam virtudes teologais, primeiro
por terem Deus como objeto, no sentido que nos orientam retamente para ele; depois
por serem infundidos só por Deus; e, finalmente, porque essas virtudes são transmitidas
unicamente pela revelação divina, na sagrada escritura”.
“Primeiramente,
no que diz respeito ao intelecto, são acrescentados ao homem e apreendidos por
iluminação divina alguns princípios sobrenaturais, que são o conjunto do que se
deve crer, o objeto da
fé;em segundo
lugar, a vontade se ordena para o fim sobrenatural, seja pelo movimento de
intenção que tende parta esse fim, como para algo possível de se obter e isso é
a esperança; seja por uma união espiritual, pela qual a vontade é de certa
forma transformada nesse
fim, o que
se concretiza na caridade.
“A esperança
faz com que o homem se ligue a Deus, enquanto ele é para nós princípio da bonda
de perfeita, enquanto pela esperança
apoiamo-nos
no auxílio divino para obter a bem-aventurança eterna.”
“Daí resulta
que a caridade é mais excelente que a fé e a esperança e, por conseguinte, que todas
as outras virtudes. Assim também a
prudência,
que alcança a razão em si mesma, é também mais excelente que as outras virtudes
morais, as quais alcançam a razão na medida em que a prudência se constitui
como meio termo nas operações ou paixões humanas.