13/12 Sexta-feira
Festa
de Terceira Classe
Paramentos
Vermelhos
Deus, por vezes, manifesta seu poder através dos mais fracos.
Luzia, uma frágil jovem de Siracusa, era forte de alma, por ser virgem.
Deus deu-lhe o dom de vencer, não só com seus argumentos, mas também pela força, os perseguidores pagãos.
Foi
dentro das fronteiras do Império Romano que, por desígnio do Altíssimo,
nasceu a Santa Igreja Católica. No entanto, esse imenso poder temporal,
vendo o poder espiritual nascer misteriosamente e florescer com rapidez
desconcertante, mostrou-se de início intrigado e receoso, e, por fim,
hostil a ponto de chegar às violências mais extremas.
Os
sublimes ensinamentos cristãos contradiziam frontalmente os costumes
vigentes entre aqueles homens de coração duro. Vítima de toda sorte de
calúnias, a Igreja nascente viu-se alvo de sangrentas perseguições
desencadeadas pelas autoridades romanas com o objetivo de sufocá-la de
modo inexorável.
No entanto, era o próprio Deus quem permitia que sua Igreja passasse
pela longa prova da dor e do sacrifício. Com efeito, após cada
perseguição, o Cristianismo ressurgia mais numeroso, brilhante e cheio
de fé! No reinado de Diocleciano (284- 305), esse clima de horror chegou
ao auge. Por um edito deste imperador, todas as igrejas deveriam ser
demolidas e todos os cristãos que exerciam cargos públicos seriam
obrigados a abjurar a fé em Cristo. É nesta última fase do período das
grandes perseguições que surge uma alma de rara virtude: a jovem Luzia.
Voto de virgindade
O nome Luzia tem sua origem na palavra latina "lux", e ressoa em nossos
ouvidos carregado de conotações heróicas, trazendo-nos à memória uma
vida cheia de luz e de glória, porque feita de sangue e dor.
Nascida em Siracusa, e oriunda de uma família nobre e cristã, logo no
desabrochar da adolescência consagrou- se a Jesus, oferecendo-Lhe a flor
da sua virgindade.
Esta promessa de castidade perfeita não era incomum nos primórdios do
Cristianismo, pois o próprio Salvador chamava grande número de almas à
pratica desta angélica virtude. Um dia, respondendo a uma pergunta dos
discípulos sobre os pesados encargos do casamento, disse- lhes o Mestre:
"Nem todos são capazes de compreender esta doutrina, mas somente
aqueles a quem foi concedido do alto" (Mt 19-11). Há homens, prosseguiu
Ele, que são inaptos para a vida conjugal, e outros, pelo contrário, que
de livre e espontânea vontade renunciaram ao matrimônio "por amor ao
Reino dos Céus" (Mt 19,12). Pela primeira vez ressoava na História o
chamado cristão à virgindade, e seu eco repercutiria em almas como as de
Cecília, Ágata, Inês, e tantas outras que, sobrepondo- se às leis da
carne e da matéria, se lançariam alegres em vôos admiráveis de perfeição
espiritual.
Intercessão de Santa Ágata
Santa Ágata recebendo de Nossa Senhora a
coroa e a palma do martírio
Seu
pai faleceu quando ela era ainda muito menina. Sua mãe, Eutícia, embora
cristã, não tinha se despojado totalmente das glórias e atrações deste
mundo. Assim, desejosa de proporcionar à sua filha um futuro cheio de
fama e de honra, a exortava a casar-se com um jovem rico e bem colocado,
mas pagão.
A casta Luzia - que mantinha seu voto em segredo - procurava sempre se
esquivar desse assunto. Punha toda a sua confiança em Deus e aguardava
uma oportunidade providencial para revelar à mãe sua resolução firme e
decidida de pertencer somente a Cristo. As fervorosas orações feitas por
ela nessa intenção foram prontamente atendidas: logo se apresentou uma
boa ocasião.
Apesar das atrozes perseguições aos cristãos, celebrava-se todo ano na
própria Sicília a festa de Santa Ágata, a virgem da cidade de Catânia,
martirizada por volta do ano 250. Os prodígios por ela operados
tornaram-na tão conhecida que acorria gente de todas as partes para
implorar sua intercessão. Ora, havia já alguns anos, Eutícia sofria
muito de um fluxo de sangue. Por isso Luzia, que tinha grande devoção a
essa virgem mártir, sua conterrânea, persuadiu a mãe a ir em
peregrinação até seu túmulo para implorar a cura de tal enfermidade.
Quando entraram na igreja, o assombro tomou conta das duas. Transcorria
uma solene Celebração e naquele exato momento proclamava-se a Palavra
do Santo Evangelho: "Então, uma mulher que havia doze anos padecia um
fluxo de sangue, e gastara tudo quanto possuía sem ter sentido melhoras,
tendo ouvido falar de Jesus, foi por detrás entre a multidão e tocou o
seu manto. Imediatamente parou o fluxo de sangue e sentiu no seu corpo
estar curada do mal. Jesus, conhecendo logo em Si mesmo a força que
saíra d'Ele, voltado para a multidão, disse: ‘Quem tocou os meus
vestidos?'.
Os seus discípulos responderam: ‘Tu vês que a multidão Te comprime, e
perguntas: Quem Me tocou?' E Jesus olhava em volta para ver quem tinha
feito aquilo. Então a mulher, que sabia o que se tinha passado nela, foi
prostrar- se diante d'Ele, e disse-Lhe toda a verdade. Jesus disse-lhe:
‘Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e fica curada do teu mal'" (Mc
5, 25-34).
Estupefatas e em extremo comovidas ao ouvirem essa passagem do
Evangelho, caíram de joelhos e começaram a rezar. Assim ficaram durante
muito tempo. Terminou a cerimônia, todos se retiraram, e elas, dando-se
conta de que estavam sós, prostraram-se diante do sepulcro de Santa
Ágata para implorar a bondade de Deus, pela intercessão da tão poderosa
advogada.
Quis, porém, o Senhor manifestar- Se a Luzia por meio de um sonho
profético. Cansada pela fadiga da viagem, acabou a jovem caindo num sono
profundo. Enquanto dormia, apareceulhe Santa Ágata, rodeada de um coro
de anjos. Seu vestido era de uma beleza sem par, adornado de safiras e
pérolas finas. Seu rosto, alegre e sereno, resplandecia como o sol
enquanto ela dizia: "Minha queridíssima irmã e virgem consagrada a Deus,
por que pedes pela intercessão de outrem o que tu mesma podes obter
para tua mãe? Eis que ela se encontra já curada pela fé que tu tens em
Jesus Cristo! Assim como Ele tornou célebre a cidade de Catânia por
minha causa, tornará também gloriosa a cidade de Siracusa pela tua
mediação, pois soubeste preparar no teu puro coração uma agradável
morada para teu Criador".
Ao ouvir estas palavras, levantou- se Luzia ainda mais convicta de sua
consagração a Deus. Contou então à sua mãe a reconfortante visão e
acrescentou que, pela graça de Deus, ela estava totalmente curada de sua
enfermidade. E a jovem aproveitou a oportunidade para dizer-lhe
confiante:
-
Agora, minha mãe, uma só coisa te peço: em nome d'Aquele mesmo que te
devolveu a saúde, deixa-me conservar minha virgindade, pertencendo
somente ao nosso Criador. Repartamos entre os pobres os bens que
preparaste para o meu casamento, e teremos grande tesouro no Céu!
Eutícia se deixou convencer e, voltando a Siracusa, ambas distribuíram
suas riquezas entre os mais necessitados, segundo as instruções da
comunidade cristã à qual pertenciam.
Ora, isto chegou aos ouvidos do jovem pretendente. Cheio de fúria, este
foi ter com Eutícia e testemunhou, com seus próprios olhos, mãe e filha
dando aos pobres suas jóias e objetos preciosos. Fora de si, correu até
Pascásio, então prefeito da cidade, para acusar Luzia de praticar a
religião cristã. Assim iniciou-se o processo que levaria esta Santa a
brilhar no mais alto dos Céus, junto à nobre multidão dos gloriosos
mártires!
Diante do tribunal
Santa Luzia diante do tribunal
Edificante e arrebatador foi o julgamento da corajosa jovem. Refutou todos os argumentos e ameaças de Pascásio,
e seu simples olhar impunha respeito. Vendo o juiz a serena segurança
da prisioneira, tentou primeiramente persuadi-la com suaves palavras a
oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Depois, ante a irredutível fé de
Luzia, passou das adulações para a mais terrível ferocidade. Impávida,
ela respondeu- lhe sem hesitar:
-
Tu te preocupas em seguir as leis dos príncipes desta terra, enquanto
eu procuro meditar dia e noite os mandamentos do Senhor. Tu te preocupas
em comprazer o imperador, eu tudo faço para agradar a meu Deus, a quem
consagrei minha própria virgindade.
-
Pois bem - disse Pascásio - eu te farei conduzir a um lugar onde
perderás tua castidade, assim o Espírito Santo te abandonará e deixarás
de ser seu templo!
-
A violência feita ao corpo não arranca a pureza da alma, se minha
vontade não consente. Ao contrário, esta violência me proporcionará duas
coroas: a da virgindade e a do martírio - respondeu a virgem.
Imediatamente Pascásio deu aos carrascos ordem de amarrar a inocente
vítima e arrastá-la até uma casa de infâmia, para ela perder a honra da
virgindade antes de ser decapitada.
Ora, o que podem todas as forças humanas contra a onipotência de Deus?
Os olhos do Bom Pastor pousavam sobre sua serva fiel e por isso impediu
que os verdugos conseguissem tirá-la do lugar onde se encontrava.
Tentavam em vão empurrá- la: Luzia permanecia imóvel, detida por uma mão
invisível. Nem mesmo várias juntas de bois, aos quais a amarraram,
conseguiram removê-la.
Obstinado no mal, Pascácio mandou levantar em volta da Santa uma enorme
fogueira. Ela fitava sem medo o tirânico juiz, dizendo: "Pedirei ao
Senhor que este fogo não me atinja, para que os fiéis reconheçam o poder
de Deus e os infiéis fiquem ainda mais confundidos". E efetivamente as
chamas também fracassaram: a jovem ficou incólume em meio às labaredas.
Derrotado, Pascásio ordenou finalmente que a cabeça da virgem fosse
cortada à espada. Uma celestial alegria transpareceu em seu semblante,
ao ver que tinha chegado a hora do supremo encontro com seu Redentor.
Entretanto, não morreu naquele instante. Caindo de joelhos, foi acolhida
nos braços de alguns cristãos que assistiam ao seu martírio.
Antes de falecer, a virgem mártir prognosticou o fim das perseguições
de Diocleciano e Maximiano, e o início de uma era de grande paz para a
Santa Igreja. Esta profecia não tardou a tornar-se realidade: apenas
dois anos após sua morte, subiu ao trono Constantino o Grande, que
promulgou em 313 o Edito de Milão, concedendo liberdade ao culto
Cristão, em toda a vastidão do Império. Estavam, assim, largamente
abertas as portas para a Igreja desenvolver-se triunfante, ao longo dos
séculos.
A gloriosa Santa Luzia entregou sua alma a Deus no ano 304 da era do
Senhor. Um raio da Graça tinha pousado sobre ela. Na Igreja de Cristo
luzia mais uma mártir, no Céu mais uma santa! Tu vincis inter martyres! -
Tu vences, ó Cristo, pelas provas dos mártires! (Revista Arautos do
Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 35 à 37)
Foto abaixo: Três episódios da vida de Santa Luzia baseado na Legenda Aurea (século XIII).
Primeira cena: Em
gratidão pela cura da mãe de Santa Luzia, após uma peregrinação ao
túmulo de St Agatha, ambas decidiram dar suas posses aos pobres. Segunda cena: Santa Luzia foi levada perante o cônsul de seu noivo e por conta de sua fé, foi condenada. Terceira cena: Santa Luzia sendo puxada por juntas de bois que, miraculosamente, não conseguiram movê-la.
A Convicção dos Mártires:Filipenses
1.20-21 "Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada
serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora
como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela
morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho".
E foi em Siracusa, cidade abençoada
pela presença apostólica, que, pelo ano de 281, nasceu Lúcia, que
passaremos a chamar de Luzia. Lúcia significa “Luz”, em sua origem
latina. Talvez o nome de seu pai, conforme a tradição romana, tenha sido
Lúcio e já estaria morto quando Luzia estava com quinze anos. O nome de
sua mãe é certo: Eutíquia.ueria somente isso: pertencer inteiramente, corpo e alma, a Jesus. Na
Igreja antiga, a virgindade era um estado de vida cristã considerado em
grau eminente pela comunidade: do mesmo modo que os mártires davam a
vida por Cristo, as virgens lhe entregavam também a vida e toda a
riqueza dos afetos humanos.
Leitura da Epístola
II Coríntios 10,17-18 e 11,1-2
17. Ora, quem se gloria, glorie-se no Senhor.
18. Pois merece a aprovação não aquele que se recomenda a si mesmo, mas aquele que o Senhor recomenda.1. Oxalá suportásseis um pouco de loucura de minha parte! Oh, sim! Tolerai-me.2. Eu vos consagro um carinho e amor santo, porque vos desposei com um esposo único e vos apresentei a Cristo como virgem pura.
Sequência do Santo Evangelho
São Mateus 13, 44-52
44. O
Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um
homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai,
vende tudo o que tem para comprar aquele campo.45. O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas.
46. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.47. O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie.48. Quando
está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam
nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta.49. Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos50. e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes.51. Compreendestes tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles.52. Por
isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a
um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas.
Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário