segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Comentários Eleison – por Dom WilliamsonNúmero DLXXXVIII (588) (20 de outubro de 2018)





Se na tempestade forem atirados, contem as graças recebidas.

Especialmente quando elas podem ser perdidas.


Desta vez é uma avó que escreve para os “Comentários Eleison” com uma preocupação que é amplamente compartilhada entre leitores e amigos que simpatizam em geral com os objetivos do movimento “Resistência”, mas se perguntam o que esta realmente estaria fazendo hoje para ajudar sua situação. Aqui está seu pedido, um pouco resumido:


Estou muito desapontada com a falta de liderança que está sendo mostrada hoje na Fraternidade e na Resistência. Apoiamos a Resistência, mas não ouvimos nada sobre o que ela está fazendo. O senhor recentemente consagrou três Bispos, mas qual é a função deles? O que eles estão fazendo para dar algum consolo e esperança aos fiéis? Nós também não ouvimos nada sobre eles. Não podem formar algum tipo de oposição à Fraternidade, junto com alguns sacerdotes muito firmes que deixaram a Fraternidade? Certamente Deus está buscando por algo mais do que apenas orações. Há anos Ele suscitou o Arcebispo para proteger Sua Igreja. Ele agora haverá de abandonar seus seguidores fiéis? Eu acho que muitos católicos tradicionais estão desesperadamente procurando por alguma liderança forte hoje, seja na Fraternidade ou na Resistência.


Cara Avó,

Permita-me começar a responder com um episódio famoso da história romana antes de Cristo. Em 216 a.C., o exército romano, normalmente imbatível, foi lutar contra os cartagineses liderados por Aníbal, que haviam invadido a Itália e estavam ameaçando a própria cidade de Roma. Mas na batalha de Canas, no sul da Itália, os romanos se deixaram manobrar e cercar por Aníbal, de modo que foram massacrados pelos cartagineses. Houve consternação em Roma. O que eles deveriam fazer? Alguns romanos queriam levantar outro exército e ir atrás de Aníbal novamente, mas o conselho do cônsul Fábio era evitar a batalha, se possível, e, ao invés, manter vigilância atenta sobre o inimigo, esperando até o momento em que ele retornasse para casa por conta própria. O conselho foi bom e foi seguido. Por fim, os cartagineses foram para casa, onde seu exército foi esmagado pelos romanos quatorze anos mais tarde. “Fábio, o Protelador” havia vencido.


Nenhuma comparação funciona perfeitamente. Assim, depois da derrota esmagadora da Igreja no Vaticano II (1962-1965), alguém diria que o Arcebispo Lefebvre errou ao suscitar, alguns anos depois, o exército que pôde para continuar lutando contra os modernistas? Certamente não. Mas o Vaticano II foi uma grande batalha que deixou bons soldados dispersos para que o Arcebispo pudesse reuni-los em um pequeno exército nos anos de 1970. Pelo contrário, a derrota daquele exército a partir de 2012 foi uma derrota numericamente pequena, deixando muito menos soldados dispersos para lutar. A estratégia poderia ser a mesma das décadas de 1970 e 1980? Certamente não. Por um lado, os soldados de agora, muitas vezes filhos dos revolucionários anos de 1960 ou posteriores, tinham muito menos sentido de obediência ou de uma Igreja ou um mundo ordenado do que os católicos dispersos após o Concílio. Quem pode negar que os anos de 2010 são muito mais desordenados e indisciplinados do que os anos de 1970? Pode-se perguntar se o Arcebispo, com todos os seus dons, poderia ou teria montado uma “Contrafraternidade” hoje. Talvez sim, talvez não...


Os quatro bispos do movimento “Resistência” fazem o que podem, cada um em sua própria parte do mundo, para proporcionar aos poucos católicos que desejam conservar a fé rações de ferro de sã doutrina e orientação à disposição de todos os interessados, juntamente com os sacramentos episcopais. Essa é uma conquista mínima, nem glamourosa nem sensacional, mas pode ser o essencial necessário. Se for, que Deus nos mantenha fiéis.


Kyrie eleison.


*Traduzido por Leticia Fantin.


Viva Cristo Rei e Maria Rainha.
Rezem todos os dias o Santo Rosário