quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Comentários Eleison – por Dom Williamson Número DCC (700) – (12 de dezembro de 2020)

 MADIRAN – PROPOSIÇÃO VII

Para todos os homens, Deus tem uma estrutura e um plano naturais,

Dos quais o homem moderno está a anos-luz.

A Parte V não é a mais fácil das seis partes do livro de 1968 de Jean Madiran (1920–2013) sobre A Heresia do Século XX, pois trata da Lei Natural, que é um conceito de difícil compreensão para as mentes modernas. E isso ocorre porque Deus, o Criador, é tanto o escritor da Lei Natural como Aquele que a implanta em todas as Suas diversas criaturas, e o Grande e Bom Deus é um mistério fechado para a grande maioria das mentes modernas. No entanto, a Lei Natural é para Madiran tão importante como meio para chegar à heresia do século XX, que ele faz dela o centro da última das Sete Proposições que selecionou dos escritos do Bispo Schmitt de Metz, na França, para dar alguma forma a uma heresia que de outro modo não teria forma. Ei-la:

7 A lei natural é a expressão da consciência coletiva da humanidade. Daí se desprende que não existe uma lei natural objetiva moral, promulgada por Deus e inscrita no coração do homem.

A razão do Bispo Schmitt para negar a existência de tal lei divina nos homens parece ter sido que ela tornou a vida social do homem muito mecânica, como se as soluções para todos os problemas sociais dos homens pudessem ser lidas nele como um manual do fabricante. Mas o manual de Deus para o homem permite plenamente a liberdade humana mesmo na sociedade, enquanto a negação da lei natural, diz Madiran, fundamenta o bem e o mal não mais na lei divina objetiva, mas na consciência humana subjetiva, o que significa, em última análise, em nenhuma lei. O homem é livre e responsável, mas não é livre para fazer suas próprias leis. E o ensinamento social da Igreja parte certamente da lei natural de Deus, mas para ser aplicado à imensa variedade de novas situações concretas, como se verifica em nosso tempo, precisa de muito trabalho, como o que Pio XII realizou em seu tempo.

 Ademais, sem uma ordem ou lei natural no homem, como pode haver algo sobrenatural? (Se não há natureza abaixo, que natureza pode estar acima?) Já não pode haver Dez Mandamentos (que expressam a lei natural); nem caridade (que é o início e o fim dos Dez Mandamentos); nem religião natural (constituída pela lei natural); nem vida social (que pressupõe a justiça natural); nem vida cristã (que pressupõe as virtudes naturais); e assim por diante. Na verdade, se não há lei natural, toda noção de uma sociedade cristã se torna impossível, seja como sociedade ou como cristã.

Objeção: Toda boa lei é clara e certa. Mas se a lei natural requer tal elaboração, então ela não pode ser clara ou certa. Portanto, não é uma boa lei. Resposta: Em seu fundamento absoluto: “Faça o bem, evite o mal”, a lei natural é clara e inabalável. Tudo o que deriva desse fundamento não é tão claro para nós, seres humanos, e pode ser abalado ou contestado, mas é claro em si mesmo, como quando, por exemplo, um bom juiz tira a justiça de um processo judicial confuso. A lei natural é conhecida por nós desde dentro pela razão, e desde fora pela revelação, por exemplo, a revelação dos Dez Mandamentos a todos os homens por Moisés.

 No terceiro e último capítulo da Parte V de seu livro, Madiran apresenta as consequências espirituais da negação da lei natural que ele atribuiu anteriormente na P7 à heresia do século XX. O resultado no indivíduo católico é que ele se afasta de uma verdadeira compreensão tanto da vida cristã como do quão longe está sua própria vida dela. Ele já não tem ideia da necessidade absoluta da graça sobrenatural para viver uma vida cristã. Ele pensa que por suas próprias forças leva uma vida decente, mas dessa vida os Mandamentos 1 a 4 desapareceram, os 5 e 7 ainda podem estar vivos, mas o 8 está debilitado, e os 6, 9 e 10 muitas vezes também desapareceram. No entanto, por um amor sentimental ao próximo, disciplinado por nenhuma lei objetiva, ele crê que está cumprindo o mandamento de Cristo de amar-se uns aos outros como Cristo nos amou, então ele está satisfeito consigo mesmo. Neste estado, diz Madiran, não pode ser salvo. Não é de admirar-se que um homem assim clame por “uma mudança no próprio conceito de salvação trazido por Cristo” – e fechamos o círculo, de volta à primeira das Sete proposições nas quais Madiran resumiu a heresia do século XX.

Kyrie eleison.


 Viva Cristo Rei e Maria Rainha.

Rezem todos os dias o Santo Rosário.