sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Imitação do Sagrado Coração de Jesus

Coração Santo, Tu reinarás


CAPÍTULO I

Da estima e desejo que devemos ter da santidade

1- Jesus Cristo - Sê santo, meu filho, porque eu sou santo. Quem quer ser perfeito discípulo do meu Coração santifica-se a si mesmo, como, eu sou santo, com santidade interior, verdadeira e sólida.

Grande bem é a santidade, pois encerra, todos os bens que se podem desejar sobre a Terra e prepara no Céu a felicidade eterna.

A santidade é a consumação da virtude, a segurança da graça santificante, a salvaguarda da paz interior, a fonte da alegria do coração e da perpétua felicidade.

Ela é a verdadeira felicidade, ela a glória não falaz, ela a riqueza inexaurível.

Vale infinitamente mais ser o último entre os Santos do que o primeiro entre os homens.

Que há neste, mundo que possa justamente comparar-se à santidade? Nem a ciência, nem as dignidades, nem a fama, nem a posse dos maiores bens. Porque tudo isso é terreno efêmero: como ligeira nuvem que se forma no ar e logo desaparece.

Ao contrário a santidade, como filha do Céu, é imperecível, e qual sol brilha sobre os bem-aventurados; quando o próprio sol se tiver apagado, continuará ela a resplandecer eternamente.

Não se glorie pois o sábio da sua ciência, nem o valente da sua força, nem o rico das suas riquezas; mas quem se quiser gloriar, glorie-se de me conhecer e amar, de me imitar por amor, e assim santificar-se.

Se agora, filho, não compreendes esta doutrina, compreendê-la um dia bem a teu pesar, quando o avizinhar-se da morte te fizer ver e julgar das coisas retamente.

Dize-me: se houvesses de morrer hoje, que preferias: ter sido um santo ou antes ter sido rei ou papa? “Prouvera a Deus, dizia um moribundo, que falava por própria experiência, prouvera a Deus que eu não tivesse sido rei, mas o último dos servos de Deus!” “Oxalá, repetia outro, que não tivesse vivido nas cátedras, mas numa cozinha da santa casa de Deus!”

Nunca poderás estimar suficientemente a santidade: pois que eu a apreciei tanto, que para a tornar possível e fácil, empenhei todos os tesouros do meu Coração, multipliquei, à custa dos maiores sacrifícios, os meios de à alcançar, e tudo dirigi à santificação dos escolhidos.

Aspira portanto a um tamanho bem, meu filho, e com grande ânimo trabalha por te fazer santo.

2- Discípulo- Eu, Senhor, fazer-me santo! Ah! Senhor Jesus! Para isso pequei demais na minha vida! E não seria grande soberba presumir tal coisa? Depois, sou tão fraco, que não posso fazer nada digno da santidade.

- Jesus Cristo- Filho, dizes isso de tua cabeça ou outros sugeriram? Se de ti o dizes, enganas-te; se outros te disseram, enganaram-te. Se pecaste muito na tua vida, é esse um novo motivo para te santificares e reparares o passado.

Porém, filho, não se trata já do que goste, mas sim do que deves ser daqui por diante.

Quantos, depois de terem sido pecadores, chegaram em menos tempo a maior santidade, do que outros sempre inocentes; porque a lembrança dos pecados, em que miseravelmente tinham caído, e que eu com infinita misericórdia lhes tinha perdoado, era como um acicate que constantemente os estimulava a correrem no caminho da santidade?

Portanto, os pecados passados, longe de serem um obstáculo, podem ser, se assim o quiseres, um meio de santificação.

Além disso, trabalhar por conseguir a virtude e aspirar à santidade não é orgulho, mas grandeza e nobreza de alma; sem a qual ninguém é digno de ser discípulo do meu Coração.

Isto te digo eu: vê agora a quem hás de dar crédito: a mim ou ao espírito inimigo que te sugere o contrário.

Olha, filho, que por uma falsa ilusão não caias em pusilanimidade, e te tornes incapaz de aspirar ao objeto mais digno das aspirações de todo o bom coração.

Cobra ânimo, repele toda a mesquinhez de espírito, nutre sentimentos dignos de um discípulo do meu Coração.

Enfim, se és fraco, não sou eu onipotente? Se não podes suportar austeridades, não podes amar-me? Se não podes trabalhar, não podes ao menos sofrer? Ora o amor e o sofrimento são os dois grandes fatores da santidade.

Não são as obras extraordinárias, não são os milagres que santificam, mas sim o amor e amor, paciente.

Procura levar por meu amor os sofrimentos que eu para ti escolher e te enviar, e tornar-te-ás santo.

Se as coisas que o mundo chama grandes e importantes, fossem tão fáceis de adquirir, que mundano haveria que não as adquirisse?

3- O desejo constante de aproveitar, e o esforço incessante para santificar-se, constituem a santidade do homem nesta vida.

Ninguém é perfeito na santidade, se não se esforça por ser mais perfeito; e tanto mais santo se mostra, quanto mais procura a santidade.

Como vês, filho, a santidade não é obra dum dia nem duma semana; não julgues pois que serás perfeito em tão pouco tempo. Se tal julgasses, o ver depois frustrada tua esperança, poderias descoroçoar, e até sentir tentações de abandonar o caminho da virtude. A perfeição é obra da graça divina e da cooperação humana. A bondade do meu coração, que te quer santo, é muito mais propensa a conceder-te graça, do que tu a pedí-la; antes muitas vezes a dou, sem que a peças.

Quanto mais fielmente cooperares com a graça, tanto mais depressa chegarás à santidade.

4- Se tiveres um desejo constante e eficaz de te santificar, nada te poderá impedir de fazer-te santo. Conseguirás a santidade seja qual for o teu natural, porque a santificação não depende da natureza, mas da correspondência à graça.

Portanto, nem o caráter, nem a condição da vida, nem a profissão te serão de obstáculo, se fores generosamente fel à graça divina.

Foi por esta fidelidade que uma multidão imensa, que ninguém pode numerar, se santificou no estado religioso, e que milhões de outros se fizeram santos no meio do mundo. Por esta fidelidade fizeram-se santos, Henrique, nos arraias, Casimiro na corte, Elzeário no comércio, Isidro nos campos; e santas, Inês na cidade, Maria na aldeia, Catarina na casa paterna, Cristina na escravidão.

Nem tão pouco depende a santidade de ser beatificado ou canonizado, porque essas solenidades não fazem os santos, apenas dão a conhecer aos homens sua santidade.

Se fores santo no Céu, plenamente conforme com o beneplácito divino não se te dará de teres sido ou não canonizado na Terra.

Enfim, nem as próprias tentações e tribulações te podem impedir. Todas as maquinações do Inferno, todas as perseguições do mundo, contribuirão, se quiseres, para a tua santificação.

5- Nem os maiores Santos se viram isentos destas misérias, e enquanto viveram na Terra, sentiram sempre a fragilidade da natureza humana.

Não te preocupes pois, nem te aflijas por faltas em que a vontade não teve parte; pode um homem ser muito perfeito e cair frequentemente em faltas involuntárias.

A exemplo dos Santos, trabalha por as diminuir o mais possível; quando te escaparem, humilha-te diante de mim, mas sem perderes a paz do coração; e assim as mesmas faltas servirão para progredir na virtude.

6- Por isto, meu Filho, não dês ouvidos a ninguém, nem a ti mesmo, nem a homem, nem a espírito nenhum, que sob qualquer pretexto te queiram dissuadir de tenderes para a santidade. Mas com ânimo generoso, sem nunca desesperar, redobra continuamente de esforço para a conseguir.

A santidade é uma coisa tão grande, dá-me tanta honra e é-me tão aceita, que às vezes uma só alma interiormente santificada, glorifica-me mais e tem mas valia com o meu Coração, do que mil almas boas, que se contentam com uma virtude vulgar.

Sabe, filho, que há um grau de santidade absolutamente necessário para seres admitido na minha presença, pois quem não é santo, não verá a Deus.

Se não adquirires cá na Terra este grau de santidade, terás de adquiri-lo na outra vida, purificando-te no fogo antes de entrar no Céu, onde não entra senão o que for inteiramente santo.

Mas para a tua consolação, lembra-te filho, que se tens uma vontade decidida de te santificar, não aprovarás a morte antes de conseguir a santidade.

Entretanto não julgues que és já santo e perfeito; mas progride sempre para a meta da tua soberana vocação.

Ânimo, filho, balança-te a feitos dignos de um discípulo do meu Coração; procura emular teus gloriosos irmãos, os Santos. O que tu és, eles o foram; o que eles são, também tu o podes ser.

7- Discípulo – É então verdade, Senhor Jesus, que também eu, embora o último dos vossos servos, me devo e me posso santificar?

Sim, devo: porque vós assim me ordenais; por que estou obrigado corresponder a tão singulares graças e benefícios de vós recebidos; a satisfazer, quanto posso, a imensa dívida contraída com a vossa misericórdia, quando me perdoastes os meus pecados; a olhar pela minha salvação e preparar-me para o Céu, mas sobretudo porque vós sois infinitamente digno de toda a honra e amor.

E posso: porque vós me subministrais meios abundantes e eficazes; porque não exigis de mim senão o esforço de uma vontade sincera, pronto a suprirdes vós tudo o mais; porque nada me pode impedir, se eu não quiser, e tudo, se eu quiser, me pode ajudar finalmente porque toda a obra da minha santificação é unicamente obra de amor, do vosso amor, desse amor que tudo torna possível, tudo fácil, tudo suave.

Quero, portanto, santificar-me, não para ser contado entre os Santos na Terra, mas para Vos glorificar com os escolhidos no Céu; não tanto por temor do castigo ou por esperança do prêmio, quanto por vosso amor, ó dulcíssimo Jesus, para mais vos amar e vos glorificar agora e por toda a eternidade.

* * *
Quero fazer-me santo e, enquanto viver, não cessarei de o desejar. Suplico-vos, ó Jesus, pelo vosso Sacratíssimo Coração, que ajudeis esta minha boa vontade.

Imitação de Cristo: III,10.